Samsung Galaxy S9: uma evolução menor

Câmera com abertura dupla, pequenas mudanças no design e outros refinamentos: este é o novo flagship da Samsung

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 10 meses

Nos últimos dois anos, a Samsung se consolidou no mercado de smartphones premium. O Galaxy S7 Edge era a escolha certa para quem queria câmera boa, alto desempenho e tela de excelente qualidade; e o Galaxy S8 trouxe um dos melhores visuais para um smartphone, reduzindo as bordas em favor de uma tela maior, sem aumentar o corpo do aparelho.

O que fazer para melhorar? O Galaxy S9 toma emprestado os acertos do Galaxy S8 e traz algumas novidades, como a câmera de abertura variável, os alto-falantes duplos e um design mais refinado. Mas será que o flagship da Samsung cumpre o que promete? A câmera é tudo isso que estão falando? E vale a pena trocar o modelo anterior pelo novo?

Eu utilizei o Galaxy S9 como meu smartphone principal por um mês e conto todos os detalhes nos próximos minutos.

Em vídeo

Design

O Galaxy S9 é grande, mas menos do que as 5,8 polegadas de tela sugerem. A Samsung continua adotando curvas nas laterais, uma característica que surgiu como um experimento de design no Galaxy S6, se tornou um destaque no Galaxy S7 e foi naturalizado no Galaxy S8. Além de tornar o aparelho esteticamente agradável, a tela curva tem largura menor, o que acaba melhorando a ergonomia.

Como todo sanduíche de vidro e metal, ele fica cheio de marcas de dedo só de encostar. E isso me leva a um dos pontos mais criticados no antecessor: era muito chato utilizar o leitor de impressões digitais no Galaxy S8, já que ele ficava muito em cima (eu acho que meu dedo indicador cresceu 1 centímetro nos últimos meses). No Galaxy S9, o sensor biométrico fica em uma posição bem mais confortável, mesmo para quem não possui mãos gigantes, como é o meu caso.

Galaxy S8 (à esquerda) e Galaxy S9

Além do desbloqueio com o leitor de impressões digitais, o Galaxy S9 suporta reconhecimento de íris (que funciona melhor no escuro), reconhecimento facial (que funciona melhor em ambientes iluminados) e um modo batizado de Leitura inteligente, que combina as duas tecnologias. Infelizmente, não é tão rápido e preciso quanto colocar o dedo ali, mas pode ser útil se você estiver com luvas, por exemplo.

Outra mudança bem-vinda em relação ao Galaxy S8 é a presença de alto-falantes estéreo, um recurso que a Motorola, a Sony e a Apple já tinham há bastante tempo, e que eu nunca entendi por que a Samsung demorou tanto para implantar nos topos de linha. Os coreanos dizem que o speaker duplo é 40% mais alto que o do Galaxy S8, é ajustado pela AKG, marca bastante conhecida entre os audiófilos, e suporta a tecnologia Dolby Atmos para dar uma sensação de tridimensionalidade.

Eu não tenho instrumentos para medir quão mais altos ou puros são os alto-falantes do Galaxy S9, mas a diferença é extremamente perceptível quando eu coloco ele lado a lado com o Galaxy S8. Ainda são speakers de celular, que não tocam graves impressionantes e até reclamam um pouco quando você deixa o volume no máximo, mas eles são bons o suficiente para assistir a um filme ou ouvir músicas com uma qualidade minimamente decente enquanto você faz outra coisa.

Alguns detalhes não mudaram do Galaxy S8 para o Galaxy S9, o que me deixou bem contente: o conector de fones de ouvido de 3,5 mm continua firme e forte; a versão brasileira tem suporte para dois chips (o que é útil para separar a linha do trabalho ou para não pagar uma fortuna com roaming internacional quando você estiver de viagem); e ele continua com certificação IP68, o que pode ser um grande alívio se alguém derrubar um copo de água no seu celular.

Por tudo isso, é difícil negar que o Galaxy S9 seja um aparelho muito bem construído. Para mim, ele é atualmente o smartphone mais bonito e elegante do mercado, o que é bem curioso quando lembramos que ele é feito pela mesma empresa que, há menos de cinco anos, chegava a ser motivo de piada no quesito design, com smartphones caros de plástico pintado.

Uma última observação: além do Galaxy S9, eu testei o Galaxy S9+ por alguns dias. Todo mundo que me acompanha sabe que eu prefiro aparelhos menores, mas a Samsung infelizmente adotou a mesma estratégia da Apple, diferenciando o modelo maior. No Galaxy S8 e S8+, a única diferença de verdade era o tamanho da tela (a bateria maior era só uma consequência). No Galaxy S9 e S9+, quem opta pela versão de 5,8 polegadas perde a câmera dupla e dois gigabytes de RAM.

Obviamente, isso é interessante para a empresa, já que a Samsung tende a vender mais unidades do Galaxy S9+, que é um produto mais caro e que aumenta o faturamento da companhia, mas acaba tirando um pouco do poder de escolha do usuário. O Galaxy S9 nem de longe é um aparelho ruim, mas eu certamente ficaria muito mais feliz com o S9+.

Tela

Tem sido bem difícil perceber um avanço na qualidade das telas da Samsung nos smartphones mais caros por um motivo bem simples: o nível já está alto demais para um olho humano.

Especialistas em telas, como a DisplayMate, têm ferramentas complexas para analisar o painel AMOLED do Galaxy S9 e afirmar que ele tem brilho máximo de 1.130 nits, o que é 20% maior que o do S8; cobre 113% da gama de cores DCI-P3, algo que um smartphone nunca havia conseguido até hoje; e apresenta uma precisão de cores “visualmente indistinguível da perfeição”, só para repetir as mesmas palavras.

A verdade é que um homo sapiens não perceberia nenhuma diferença relevante entre o Galaxy S8 e o S9. Eu coloquei os dois lado a lado e notei alguma melhoria no branco, mas nada que não seja ajustável. Na prática, isso significa que a tela do Galaxy S9 continua incrivelmente boa, com cores vibrantes, preto de verdade, brilho forte para ver o display sob a luz do sol e ângulo de visão impecável.

Particularmente, desde o Galaxy S8, eu estou acostumado com o modo de cor Foto AMOLED, que mostra cores mais próximas da realidade e um branco mais neutro, mas isso é apenas uma questão de gosto: quem prefere tons mais saturados e um branco mais frio pode manter o modo padrão, Exibição adaptável, que deve agradar a maioria das pessoas.

Fato é que a tela do Galaxy S9 é tão boa que é difícil tentar imaginar no que a Samsung poderia melhorar no Galaxy S10.

Software

O Galaxy S9 vem de fábrica com o novo Android 8.0 Oreo, mas isso não fez tanta diferença, porque a maioria dos recursos que o Google desenvolveu já existiam no software da Samsung há muito tempo. Nada mudou no visual: continuamos com uma interface limpa, que apresenta telas predominantemente brancas e animações fluidas, como esperamos de um topo de linha.

Não existem muitos aplicativos pré-instalados. Além do pacote padrão do Google, a Samsung inclui softwares da Microsoft e soluções próprias de pagamento (Samsung Pay), fitness (Samsung Health), entre outros. Eu prefiro o navegador da Samsung ao Chrome, por ter modo noturno, suporte a extensões e por ser mais rápido e estável, mas confesso que me incomoda um pouco ter duas lojas de apps e dois clientes de e-mail embutidos no smartphone.

Alguns recursos da Samsung deveriam ser padrões no Android, como o Always On Display, que mostra prévias de notificações enquanto o aparelho estiver em standby; e um serviço de nuvem decente, que guarda o histórico de ligações, SMS, dados de apps e configurações. Sério: eu não preciso fazer quase nada quando testo um aparelho da Samsung; é só restaurar da Samsung Cloud que até o wallpaper é migrado. Isso é algo que o iOS sempre teve e o Google nunca conseguiu fazer direito.

Agora, vamos para os dois principais detalhes do software do Galaxy S9: a assistente pessoal Bixby e os tais dos emojis com realidade aumentada.

A Bixby evoluiu em relação à versão anterior e passou a reconhecer alimentos e traduzir textos em tempo real. Mas é uma pena que ainda não seja possível dar comandos de voz no nosso idioma. Eu entendo que adaptar a assistente pessoal para o Brasil é um processo bastante complexo, mas também espero que uma empresa que vende metade de todos os smartphones no país dê mais atenção para o nosso mercado. Afinal de contas, a Bixby já existe há mais de um ano.

Um recurso que a Samsung destacou no lançamento do aparelho é o tal do Emoji AR. Nos smartphones anteriores, você já podia colocar máscaras de realidade aumentada no estilo Snapchat, que interagiam com as suas expressões. A novidade é que agora é possível criar seu próprio personagem, com um rosto, um cabelo e uma roupa bem parecidos com os seus.

Só que ele não está tão refinado: o rastreamento de rosto é limitado e ineficiente. Ele frequentemente não consegue acompanhar meus movimentos, não tem muitas opções de expressões e, quando a iluminação estiver só um pouco ruim, tudo piora mais ainda. Pelo menos, quando você cria seu próprio avatar, o Galaxy S9 gera alguns GIFs personalizados com o seu rosto. Eu me diverti bastante mandando eles para o chat do trabalho.

Câmera

O Galaxy S9 tem um mecanismo bem interessante de abertura dupla na câmera. Quando o ambiente estiver bastante iluminado, a câmera seleciona a abertura f/2,4, deixando menos luz passar e reduzindo as chances de a imagem ficar estourada. Em fotos noturnas, a lente abre para f/1,5. Ela deixa passar 28% mais luz que a lente f/1,7 do Galaxy S8. Mas o que tudo isso significa na prática?

Sinceramente, pouca coisa. Sim, o Galaxy S9 tem uma câmera incrível, e certamente tem a melhor câmera de um smartphone vendido no Brasil. Mas estamos na mesma questão da tela: é difícil perceber grandes diferenças em relação ao topo de linha anterior. Só consegui notar alguma mudança em ambientes noturnos, quando o Galaxy S9 mostra um alcance dinâmico um pouquinho melhor, um ruído um pouquinho menor e uma definição um pouquinho maior.

Quando eu falo “pouquinho”, é porque eu tirei a mesma foto com o Galaxy S8 e o S9, e fiquei analisando minuciosamente as imagens. Mas quem simplesmente bater o olho nas fotos dificilmente vai notar alguma melhoria significativa.

Em resumo, as fotos do Galaxy S9 têm excelente definição, baixo nível de ruído em qualquer condição de iluminação e um alcance dinâmico muito bom. As cores são bem vibrantes, mas não a ponto de perder detalhes dos objetos; e o foco automático é extremamente rápido e preciso, o que significa que você dificilmente vai perder uma foto.

Há espaço para melhorias? Com certeza. Primeiro, seria ótimo se o Galaxy S9 tivesse a câmera teleobjetiva do Galaxy S9+, permitindo tirar fotos de objetos mais distantes e ativando o modo retrato, para borrar os fundos das imagens. Segundo, eu sinto que ainda há muito o que evoluir na câmera frontal: ela tira boas selfies, mas para ficar perfeita poderia ter definição melhor e um ruído menor no escuro.

Foto original
Com fundo desfocado (por software)

Por fim, no quesito filmagem, é bom saber que o Galaxy S9 filma em 4K a 60 quadros por segundo, com excelente qualidade de imagem; e tem um modo de super slow motion, que grava em HD a 960 fps. O esquema é o mesmo que você vê nos smartphones da Sony: ele grava uma fração de segundo a essa altíssima taxa de quadros, não de forma contínua. Mas já dá para brincar.

Hardware e bateria

Depois de três gerações com um processador próprio nos topos de linha, a Samsung decidiu que o modelo brasileiro seria equipado com o Snapdragon 845, da Qualcomm, por uma questão de compatibilidade com as redes das operadoras nacionais.

Alguns benchmarks sintéticos mostram que o Exynos 9810 tem desempenho bruto de CPU melhor que o Snapdragon 845. Mas, devido à diferença na forma como os controladores de frequência operam nos dois chips, o Snapdragon acaba sendo igual ou mais rápido que o Exynos em aplicações reais. E o Snapdragon 845 tem um chip gráfico ligeiramente superior, então o mercado brasileiro está recebendo a melhor variante.

O modelo que eu testei nas últimas semanas é equipado com Exynos 9810, mas isso não influencia nos comentários que vou fazer sobre o aparelho.

Em geral, o Galaxy S9 entrega um ótimo desempenho. Qualquer jogo do Google Play roda com um pé nas costas e qualquer aplicativo é executado de forma instantânea. Ele está sendo lançado com o melhor processador disponível para Android, e entrega tudo o que podemos esperar de um topo de linha.

Acho válido fazer uma observação: durante as minhas semanas utilizando o Galaxy S9 como meu aparelho principal, eu notei alguns engasgos ao alternar entre aplicativos. Isso aconteceu poucas vezes e de forma passageira, e talvez seja resolvido com uma atualização de software, mas mostra que o multitarefa não é o mais otimizado possível. É por isso (e por não ter os 6 GB de RAM do Galaxy S9+) que ele não leva nota 10 em desempenho.

A bateria é o ponto que eu mais me decepcionei com o Galaxy S9. Ela apenas mantém a capacidade de 3.000 mAh do S7 e S8, e eu sempre espero uma evolução, ainda mais considerando que a espessura aumentou entre as gerações: 7,9 mm (S7), 8 mm (S8) e agora 8,5 mm. Outras fabricantes conseguem colocar baterias de até 5.000 mAh em aparelhos de 8 mm de espessura, e é difícil acreditar que a Samsung não consiga.

As fabricantes juram que os chips novos estão mais econômicos, mas a verdade é que eles são mais econômicos quando estão executando a mesma tarefa. E os aplicativos estão ficando mais pesados com o tempo, por isso, o aumento de eficiência energética acaba sendo pouco perceptível para o usuário final. Foi exatamente o que aconteceu com o Galaxy S9.

Nos meus testes, tirando o aparelho da tomada às 9 horas da manhã, ouvindo duas horas de streaming de música no 4G, e navegando na web por 1h30min a 1h50min, também pela rede móvel, eu cheguei às 22 horas com algo entre 25% e 30% de bateria, sempre com brilho no automático. Em média, consegui deixar a tela ligada entre 3h e 3h30 até a carga acabar.

Não é uma marca que eu considero ruim, mas também não é excelente. Assim como no Galaxy S8, a bateria vai durar um dia inteiro para boa parte das pessoas, mas não espere nada além disso. A boa notícia é que o Galaxy S9 continua com carga rápida, tanto no cabo quanto por indução, então você não vai ficar pendurado na tomada por muito tempo.

Conclusão

Eu sou um grande defensor da ideia de comprar um smartphone topo de linha e trocá-lo a cada dois anos. Essa estratégia funciona muito bem com o Galaxy S: quem tem um Galaxy S7 vai ficar muito feliz comprando um Galaxy S9, ganhando uma tela melhor, um design mais moderno, um hardware mais potente para games pesados e uma câmera que já é perceptivelmente superior.

Já quem tem um Galaxy S8 não precisa correr: os avanços são menores do que parecem, a não ser que você troque por um Galaxy S9+, que traz mais RAM para melhorar o desempenho multitarefa e uma câmera com zoom óptico, como a do Galaxy Note 8.

Falando do Galaxy S9 em si, a Samsung acertou em praticamente tudo. Ele é um produto quase perfeito: a tela é a melhor do mercado, a câmera é a melhor do mercado, o processador é o melhor para Android e o design é um show à parte. Ele pega os acertos do Galaxy S8, corrige os erros e acrescenta algumas pequenas novidades, como o alto-falante estéreo, a câmera com super slow motion e o leitor de impressões digitais posicionado em um lugar melhor.

Como todo flagship, o Galaxy S9 é bem caro no lançamento, com preço sugerido de R$ 4.299. Neste exato momento, eu recomendaria um S8 para a maioria das pessoas. Mas, se a história se repetir, o preço vai cair pela metade em alguns meses e o Galaxy S9 vai se tornar a escolha certa entre os topos de linha, sem pensar duas vezes.

Especificações técnicas

  • Bateria: 3.000 mAh;
  • Câmera: 12 megapixels f/1,5–2,4 (traseira) e 8 megapixels f/1,7 (frontal);
  • Conectividade: 3G, 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, Galileo, BeiDou, Bluetooth 5.0, USB-C, NFC, ANT+, MST;
  • Dimensões: 147,7 x 68,7 x 8,5 mm;
  • GPU: Adreno 630;
  • Memória externa: suporte a cartão microSD de até 400 GB;
  • Memória interna: 128 GB;
  • Memória RAM: 4 GB;
  • Peso: 163 gramas;
  • Plataforma: Android 8.0 Oreo;
  • Processador: octa-core Snapdragon 845 de 2,8 GHz;
  • Sensores: acelerômetro, proximidade, giroscópio, bússola, barômetro, impressões digitais, íris, batimentos cardíacos;
  • Tela: Super AMOLED de 5,8 polegadas com resolução de 2960×1440 pixels.

Samsung Galaxy S9

Prós

  • A melhor tela de smartphone do mercado
  • Alto-falante duplo, até que enfim!
  • Câmera continua se sobressaindo em ambientes noturnos
  • Design elegante, com posicionamento melhor do sensor biométrico

Contras

  • A espessura aumentou, mas a bateria que é bom…
  • Cadê a Bixby em português do Brasil?
  • Versão menor tem câmera e hardware capado
Nota Final 8.9
Bateria
7
Câmera
9
Conectividade
10
Desempenho
9
Design
9
Software
8
Tela
10

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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