VP do Facebook defende ações questionáveis em documento vazado para fazer serviço crescer

Mesmo que isso exponha o usuário a bullying ou ao risco de terrorismo

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 1 semana
Mark Zuckerberg

A forma como o Facebook encara a privacidade é criticada há muito tempo, mas, provavelmente, Mark Zuckerberg e sua turma nunca imaginaram que algo como o escândalo Cambridge Analytica pudesse trazer tanto destaque para o assunto. De carona no problema está um memorando que só piora a situação: nele, Andrew “Boz” Bosworth dá a entender que não há problema em expor o usuário se isso fizer a rede social crescer.

Conhecido por ser muito franco e não medir palavras, Bosworth faz parte do alto escalão do Facebook e, atualmente, é vice-presidente da divisão de realidade virtual da empresa. Ele conhece como poucos os bastidores e os planos da companhia, afinal, passou a trabalhar no Facebook em 2006, época em que a rede social ainda era fortemente focada em conectar estudantes.

Se envolver em assuntos polêmicos não é novidade para Bosworth. Em 2015, por exemplo, ele teve que lidar com queixas sobre a diminuição do alcance das páginas no Facebook, que fez administradores gastarem mais dinheiro para promover conteúdo divulgado nelas. Mas nada se aproxima de um memorando de junho de 2016 que circulou internamente com o título “O Feio” (em tradução livre) e acabou chegando ao BuzzFeed.

Andrew "Boz" Bosworth
Andrew “Boz” Bosworth

No documento, Bosworth diz que a parte boa do Facebook é conectar pessoas: “talvez alguém encontre amor. Talvez salvemos a vida de alguém prestes a cometer suicídio”. Mas ele também menciona uma parte negativa: “talvez custe uma vida ao expor alguém ao bullying. Talvez alguém morra em um ataque terrorista coordenado com nossas ferramentas.”

“A verdade feia é que acreditamos em conectar pessoas tão profundamente que qualquer coisa que nos permite fazê-lo é de fato bom. (…) É por isso que tudo o que fazemos para crescer é justificável. Todas as práticas questionáveis de importação de contatos. Toda a linguagem sutil que ajuda as pessoas a serem encontradas por amigos. Todo o trabalho que fazemos para trazer mais comunicação. (…) Sei que muita gente não quer escutar isso. (…) Mas não se enganem, essas técnicas de crescimento nos ajudaram a chegar até aqui”, diz outro trecho.

My statement on the recent Buzzfeed story containing a post I wrote in 2016 pic.twitter.com/lmzDMcrjv5

— Boz (@boztank) March 29, 2018

O vazamento do documento não poderia ter vindo em momento pior, tanto que o próprio Bosworth, usando o Twitter, reconheceu a autoria do texto, mas tratou de deixar claro que não concorda com o que escreveu ali. Ele justificou o teor do memorando dizendo que o texto foi feito para provocar os funcionários e gerar debate em torno de um assunto complexo.

Mark Zuckerberg assumiu uma postura parecida ao descrever Bosworth como um “líder talentoso que diz muitas coisas provocativas” e dizer que a maioria dos funcionários do Facebook (incluindo ele mesmo) não concordou com o memorando. “Nunca acreditamos que os fins justificam os meios”, complementou.

Porém, os questionamentos sobre privacidade têm sido tão frequentes na rede social que é difícil para a opinião pública acreditar nesse discurso. Definitivamente, o Facebook atualizou as definições de crise.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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