Depois do caso Cambridge Analytica, o Facebook será obrigado a tratar de outros problemas ligados à privacidade dos usuários. O mais recente deles foi apresentado por uma reportagem do New York Times, que indica a permissão dada pela empresa para fabricantes de eletrônicos terem acesso a um grande volume de dados dos usuários.

O jornal afirma que a violação envolveu ao menos 60 empresas, entre as quais Apple, Samsung, HTC, Amazon, Microsoft e BlackBerry. Há dez anos, elas receberam APIs do Facebook para oferecerem aos usuários uma experiência parecida com a da rede social sem exigir a instalação do aplicativo. No entanto, podem ter recebido informações em excesso.

Um repórter do NYT testou uma dessas plataformas, o BlackBerry Hub, e descobriu que ela dava acesso a informações como status de relacionamento, religião e inclinação política de seus 556 amigos. Além disso, ele conseguiu acessar os perfis de mais de 294 mil amigos de seus amigos.

A permissão dada à BlackBerry é semelhante à que os aplicativos de terceiros tinham até 2014. Naquele ano, o Facebook impediu que esses apps tivessem acesso às informações de amigos dos usuários. No entanto, a rede social parece ter criado uma exceção às fabricantes.

Como lembra a reportagem do NYT, a situação desmente a declaração feita por Mark Zuckerberg em seu depoimento ao Congresso americano. “Cada parte do conteúdo que você compartilha no Facebook é de sua propriedade”, disse. “Você tem total controle sobre quem o vê e como você o compartilha”

Em resposta publicada em seu blog, o Facebook argumentou que a integração com os dispositivos era necessária para a época. Segundo a empresa, as parcerias atendiam ao interesse dos usuários, que queriam ter a opção de usar o Facebook em qualquer dispositivo.

“A demanda pelo Facebook superou nossa habilidade de construir versões que funcionassem em todos os smartphones e sistemas operacionais. É difícil lembrar agora, mas naquela época não havia lojas de aplicativos”, disse Ime Archibong, vice-presidente de parcerias de produto do Facebook.

Com a prática, o Facebook pode ter violado um acordo firmado em 2011 com a FTC (Federal Trade Commission), que obrigava a plataforma a ter o consentimento dos usuários se desejasse se sobrepor às configurações de privacidade definidas previamente.

Neste caso, informações sobre muitos amigos de usuários podem ter sido exibidas sem autorização em plataformas como o BlackBerry Hub. O Facebook garante que controlou o que as APIs davam acesso e lembra que a integração impedia o uso dos dados para qualquer fim que não seja o de recriar a experiência da rede social.

“Ao contrário do que afirma o NYT, informações de amigos, como fotos, eram acessíveis somente quando a pessoa decidia compartilhar suas informações com esses amigos”, continuou Archibong. O executivo afirmou ainda que o Facebook “não está ciente de qualquer abuso dessas empresas”.

Procurada pelo New York Times, a Apple afirma que desde setembro de 2017 seus dispositivos não têm mais acesso a essas informações. A Samsung e a Amazon se recusaram a comentar a parceria com o Facebook. A BlackBerry diz que usava os dados do Facebook somente para dar aos usuários acesso à rede e às mensagens.

Já a Microsoft usou a parceria para permitir que seus usuários pudessem adicionar contatos e receber notificações. A empresa afirma que os dados eram armazenados no smartphone e não eram sincronizados com seus servidores.

Desde abril, o Facebook está descontinuando boa parte dessas integrações. “Agora que o iOS e o Android são tão populares, menos pessoas confiam nessas APIs para criar experiências sob medida no Facebook”, disse Archibong. Até o momento, 22 parcerias com fabricantes foram encerradas.

Com informações: Engadget.

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Victor Hugo Silva

Victor Hugo Silva

Ex-autor

Victor Hugo Silva é formado em jornalismo, mas começou sua carreira em tecnologia como desenvolvedor front-end, fazendo programação de sites institucionais. Neste escopo, adquiriu conhecimento em HTML, CSS, PHP e MySQL. Como repórter, tem passagem pelo iG e pelo G1, o portal de notícias da Globo. No Tecnoblog, foi autor, escrevendo sobre eletrônicos, redes sociais e negócios, entre 2018 e 2021.

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