Entenda a origem do som (ou do barulho) da internet discada

Quem navegou na web nos tempos da internet discada não esquece do som de conexão, mas poucos sabem de onde ele vem

Ronaldo Gogoni
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• Atualizado há 1 ano e 1 mês

Nos tempos da internet discada, entre os anos 1990 e a primeira metade dos anos 2000, a banda larga era um sonho distante e a grande maioria dos usuários tinha que esperar até a meia-noite, para então conectarem seus computadores e ouvir aquele barulho irritante e estridente do discador, que muita gente até hoje não esquece. Mas, você conhece a origem do som (no caso, um barulho) da internet discada?

A origem do som da internet discada

O som executado pela placa de Fax Modem era o melhor amigo dos internautas dos primórdios, aqueles que esperavam até a noite ou o fim de semana para se conectar sem ter que pagar por minuto de ligação. Entre a meia-noite e seis horas da manhã, a partir das 14 horas de sábado até a manhã de segunda ou em feriados, o preço de conexão era o de apenas um pulso e por tempo indeterminado de conexão de internet.

Usar em outros momentos que não esses era, na certa, ter um susto na conta de telefone no fim do mês. Embora alto e terrível, o valor tinha uma razão de ser.

Trata-se da forma de comunicação estabelecida entre o computador do usuário e o provedor de acesso, que utilizava um código de máquina específico para fazer a ponte. Se você prestar bastante atenção, notará que o primeiro conjunto de sons emitido pelo modem é o de discagem para um número específico (uma digitação numérica), no caso o número do provedor de acesso que o usuário utilizava para entrar na internet.

Isso podia ser modificado nas configurações do software dedicado ou no discador do Windows, e se você colocasse um número real poderia inclusive ouvir a voz da outra pessoa do outro lado — funcionava exatamente como um telefone.

A conexão de internet discada não passava de uma ligação telefônica (e era cobrada como tal), mas a partir do momento em que o modem entrava em contato com o provedor, a comunicação passava a ser em linguagem de máquina.

O aperto de mãos (handshake)

Os sons seguintes, emitidos dentro da mesma variação de frequências de uma conversa entre duas pessoas, entre 300 e 3.300 Hz determinavam a velocidade em que o modem podia se comunicar com o provedor. Embora os modelos de 56 Kb/s serem os mais lembrados hoje, na época existiam alguns mais lentos, de 28 e 33,6 Kb/s.

Handshake / internet discada

Após uma nova pausa, o provedor emite uma transação de códigos em V.8 bis, um padrão de sinais estabelecido pela União Internacional de Telecomunicações (ITU) solicitando que o computador informe suas capacidades de conexão, e a partir daí eles trocam dados sobre parâmetros específicos, como número de databit, bit de paridade e bit de parada. Em um protocolo TCP/IP, todo o procedimento possui três momentos:

  1. o cliente envia uma solicitação para o provedor, uma flag de sincronização (SYN) à qual daremos o valor x;
  2. o provedor responde, devolvendo o SYN com uma flag de reconhecimento (ACK) ou x + 1 e um número, de valor y;
  3. o cliente reponde com um pacote ACK, com um valor y+1 que o provedor não precisa responder.

Esse processo automatizado de autenticação entre cliente e servidor é conhecido como handshake, literalmente “aperto de mãos” (em português).

Dados digitais, transmissão analógica

A partir desse ponto, a comunicação entre cliente e provedor está estabelecida e dados passam a ser trocados, na velocidade limite da placa de fax modem do computador.

Um modelo de 56 Kb/s, por exemplo, não conseguia enviar arquivos a uma velocidade maior do que 5 Kb/s e uma foto poderia levar vários minutos para ser baixada, dependendo do tamanho. Era um processo complexo, mas necessário já que os dados precisavam ser convertidos (em uma conexão dial-up de internet).

Por depender de uma conexão analógica para o envio de dados, a internet discada não podia mesmo ser muito rápida, pois para que o sistema fosse capaz de conectar um computador à internet, os dados eram transformados em sons para poderem serem transmitidos, para só depois serem convertidos de volta.

Hoje isso não é mais necessário: um modem DSL ou ADSL possui uma série de parâmetros próprios e divide os canais de som, upload e download de modo que eles não ficam mais misturados, permitindo maiores velocidades e desocupando a linha telefônica.

O que é DSL?

A sigla DSL quer dizer Digital Subscriber Line (ou Linha Digital de Assinante) é o termo geral usado para serviços que oferecem conexões à Internet através de um modem e uma linha telefônica. Há diferentes tipos de DSL: SDSL, VDSL e ADSL.

O que é ADSL?

A sigla ADSL quer dizer Assymetrical Digital Subscriber Line (ou Linha de Assinante Digital Assimétrica). Esse tipo de conexão implica que as velocidades de upload e download nem sempre sejam as mesmas e usa um modem especial e um microfiltro na linha telefônica (separando upload e download). Na prática, a palavra “assimétrica” ​​significa que é possível baixar dados mais rápido que fazer upload.

Porém, quando na internet “era tudo mato”, a história era outra e bem diferente.

Se você viveu nos anos 1990 e sofreu bastante baixando conteúdo durante as madrugadas, agora sabe a importância do (não tão) saudoso barulho da internet discada; se você é mais jovem, aprendeu mais um pouco sobre a história da internet.

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Ronaldo Gogoni

Ronaldo Gogoni

Ex-autor

Ronaldo Gogoni é formado em Análise de Desenvolvimento de Sistemas e Tecnologia da Informação pela Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo). No Tecnoblog, fez parte do TB Responde, explicando conceitos de hardware, facilitando o uso de aplicativos e ensinando truques em jogos eletrônicos. Atento ao mundo científico, escreve artigos focados em ciência e tecnologia para o Meio Bit desde 2013.

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