iPad Pro, 12,9 polegadas (3ª geração): poder de PC, usabilidade ainda não

A12X Bionic do iPad Pro rende bem e não é gastão, mas iOS ainda precisa amadurecer

Paulo Higa
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• Atualizado há 10 meses

Com a nova geração do iPad Pro, a Apple quer mostrar que ele é mais do que um simples tablet para navegar na web, jogar ou ficar passando horas no YouTube. O iOS herdou algumas características do macOS, a nova porta USB-C permite conectar mais dispositivos, incluindo um monitor 4K, e a empresa faz questão de ressaltar que ele é mais poderoso que 92% dos PCs disponíveis no mercado.

Só que o iPad Pro também cobra seu preço. Ele não sai por menos de R$ 6.799 no mercado brasileiro, na versão de 11 polegadas. Se você quiser o modelo maior, com 4G, tela de 12,9 polegadas e 1 TB de armazenamento, como o que eu testei, precisa gastar R$ 15.599, o que também é mais caro que a maioria dos PCs. Será que ele pode substituir um laptop?

Eu usei o novo tablet de 12,9 polegadas da Apple por um mês e conto minhas impressões nos próximos minutos.

Em vídeo

Design, tela e som

Os iPads nunca foram espessos, mas a terceira geração superou os limites: ele tem 5,9 mm de espessura e parece tão fino que vai entortar. Ou melhor, algumas unidades realmente entortaram ou até vieram entortadas de fábrica; felizmente, não foi o meu caso. Para deixar o tablet mais fino, a Apple removeu o conector de fones de ouvido, deixou um calombo na câmera traseira e reduziu a bateria, mantendo a promessa de até 10 horas de navegação na web.

A parte frontal é dominada pela tela IPS LCD de 12,9 polegadas com resolução de 2732×2048 pixels e taxa de atualização de 120 Hz. A definição é impecável, as cores são vibrantes e a fluidez das animações do iOS realmente impressiona, sem contar a responsividade do painel sensível ao toque. É um display tão bom ou melhor que o de quase todos os notebooks do mercado, incluindo o MacBook Pro.

A diferença mais notável em relação aos outros iPads é a ausência do botão Home e do Touch ID; toda a autenticação é feita por meio de reconhecimento facial. Existem outras mudanças: a conexão Lightning, que estava presente há anos em qualquer dispositivo com iOS, foi removida para dar lugar ao USB-C. E, agora, existe uma conexão magnética na lateral direita para parear e recarregar o novo Apple Pencil, totalmente sem fio.

Ele é equipado com quatro alto-falantes que apresentam excelente qualidade de som. O volume atinge níveis altíssimos sem distorcer e o alcance dinâmico é bom, chegando a arriscar um pouco de médio-graves. A posição dos speakers (dois de cada lado) também contribui para uma sensação estereofônica na hora de assistir a um filme.

A porta USB-C do iPad Pro
O conector magnético para parear e recarregar o novo Apple Pencil

Software

Por mais que o iOS tenha importado alguns elementos do macOS nos últimos anos, como o dock de aplicativos na parte inferior que pode ser acessado a qualquer momento, ele ainda não é um macOS. E isso fica bem claro, tanto no funcionamento do sistema operacional, quanto no ecossistema de aplicativos.

Em qualquer sistema operacional para PCs, o que acontece quando você reproduz um vídeo ou um áudio no navegador e depois alterna para outro aplicativo? A mídia continua tocando em plano de fundo, claro. Mas isso não é tão óbvio assim no Safari do iPad Pro, já que a reprodução é imediatamente interrompida. E não dá para ter duas fontes de áudio tocando ao mesmo tempo no iOS, o que causa alguns inconvenientes para quem gosta de trabalhar ouvindo música.

Eu tentei usar o iPad Pro como único computador para trabalhar e logo esbarrei com uma característica do iOS: não existe um sistema de arquivos tradicional. Um dos recursos básicos dos sistemas operacionais para PCs é que você pode renomear um arquivo, mas não tem como fazer isso com fotos no iOS. Então, em vez de enviar uma imagem como “reconhecimento-facial.jpg” para o Tecnoblog, eu só tive a opção de fazer o upload do arquivo como “BC25F0E2-7462-40BF-BB94-DC08E6E669C7.jpg”. É o típico detalhe construído para simplificar as coisas, mas que acaba complicando tudo.

Como tablet, o iOS ainda detém uma liderança incontestável. O ecossistema do Android melhorou bastante, mas a App Store ainda possui aplicativos adaptados para tela grande em maior quantidade e qualidade. Além das opções excelentes da própria Apple, como o iMovie para editar vídeos simples e o GarageBand para áudio, outras empresas se dedicam a criar softwares profissionais para o iPad, como o LumaFusion, o Pixelmator Pro e a versão completa do Photoshop, que chega ainda em 2019.

Mas, para usar o iPad Pro como um substituto de PC para trabalhos profissionais, você precisa reaprender alguns conceitos e fazer algumas concessões na transição de uma plataforma desktop para uma plataforma móvel. Concessões essas que, no momento, me parecem bem caras.

Hardware e bateria

O A12X Bionic é tudo isso mesmo? Eu ainda não tive a oportunidade de testar o poder de fogo do iPad Pro com um arquivo de 3 GB e 12.000×12.000 pixels no Photoshop, mas ele não me decepcionou em nenhum momento. Muito pelo contrário: superou com folga a fluidez de qualquer notebook que eu tenha testado até agora, com Core i7, SSD, GPU dedicada e Windows ou macOS.

A alternância entre os aplicativos, por meio do atalho Cmd-Tab, é instantânea. Como o iOS sempre foi mais restritivo quanto ao consumo de hardware em plano de fundo, isso ajudou a manter o desempenho do iPad Pro ao longo dos dias de teste: não importava o número de aplicativos ou abas no navegador abertas; a agilidade era mantida a todo momento, como se nada estivesse acontecendo. Eu até tentei forçar a barra executando várias tarefas simultâneas, mas não vi nenhum engasgo.

A bateria também me agradou, embora não tenha chegado nas 10 horas prometidas pela Apple. Nos meus testes, com brilho no automático (entre 60% e 70%), ouvindo música no Apple Music por AirPlay e utilizando principalmente Safari (7h04min de tela) e o editor de texto Ulysses (4h33min de tela), o iPad Pro aguentou 7h58min antes de chegar aos 5% de bateria. Considerando que um MacBook Pro de 13 polegadas, nas mesmas condições, dificilmente passa de cinco horas comigo, é uma ótima marca.

Comentários adicionais

  • A segunda geração do Apple Pencil ficou bem melhor. Em vez de ser totalmente cilíndrico, ele tem uma parte achatada que ajuda na ergonomia. Além disso, o pareamento e a recarga por conexão magnética deixaram o transporte do acessório bem mais prático: não precisa mais ficar com um troço pendurado na porta Lightning do iPad.
  • O teclado Smart Keyboard Folio protege bem o corpo do iPad, permite usar o tablet em dois ângulos e tem teclas bastante confortáveis e responsivas (embora exijam um período de adaptação para quem é acostumado com teclas mais altas). É um ótimo acessório, pena que seja tão caro: custa inacreditáveis R$ 1.349 na versão de 12,9 polegadas e R$ 1.199 na de 11 polegadas. Assim fica difícil recomendar.
  • Sim, uma das grandes possibilidades abertas com o USB-C é que você pode conectar vários periféricos. Só que isso ainda é muito limitado por causa do iOS. Não adianta ligar um HD externo, porque o iPad não vai reconhecer o sistema de arquivos. E você pode ligar um monitor, sim, mas isso é inútil por padrão: a maioria dos aplicativos fica simplesmente em modo de espelhamento; não dá para estender a área de trabalho como você faria com um notebook.

Vale a pena?

O iPad Pro de 3ª geração é o melhor iPad que eu já testei e, certamente, o que chega mais perto de substituir um notebook. Muita gente já trabalha somente com o iPad e, para essas pessoas, não há muito o que comentar: o desempenho é impecável, o iOS está mais produtivo do que nunca e a qualidade da tela surpreende qualquer um. Se você já está adaptado ao iPad, esta é a melhor opção do mercado.

Para quem está pensando em migrar para o iPad, talvez ainda não seja a hora certa para todo mundo. É verdade, o iOS ganhou muitos softwares profissionais nos últimos anos e o iPad Pro, propagandas mágicas da Apple à parte, é sim mais poderoso que a vasta maioria dos computadores do mercado. Ponto. Mas algumas limitações e características intrínsecas de um sistema operacional móvel ainda podem inviabilizar algumas tarefas.

E, claro, para quem só busca um tablet para entretenimento, o iPad Pro obviamente não é uma opção viável até por causa do altíssimo custo. Nesse caso, a minha indicação continua sendo o iPad de 9,7 polegadas (2018) que custa a partir de R$ 2.799 e se beneficia do ótimo ecossistema da Apple.

Especificações técnicas

  • Bateria: 9.720 mAh (36,7 Wh);
  • Câmera: 12 megapixels (traseira, f/1,8) e 7 megapixels (frontal, f/2,2);
  • Conectividade: 4G, Wi-Fi 802.11ac, GPS, GLONASS, Bluetooth 5.0, USB-C 3.1;
  • Dimensões: 280,6 x 214,9 x 5,9 mm;
  • GPU: Apple (hepta-core);
  • Memória externa: sem suporte a cartão microSD;
  • Memória interna: 64, 256, 512 GB ou 1 TB;
  • Memória RAM: 4 ou 6 GB;
  • Peso: 631 gramas (Wi-Fi) e 633 gramas (4G);
  • Plataforma: iOS 12.1;
  • Processador: octa-core Apple A12X Bionic (quatro núcleos Vortex de 2,5 GHz, quatro núcleos Tempest de 1,6 GHz);
  • Sensores: acelerômetro, giroscópio, bússola, barômetro, reconhecimento facial (Face ID);
  • Tela: IPS LCD de 12,9 polegadas com resolução de 2732×2048 pixels com tecnologia True Tone e taxa de atualização de 120 Hz (ProMotion).

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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