por Roberto Cassano, diretor de estratégia na Agência Frog

Tadeu Schmidt até tem Twitter, mas quase não usa. A revelação surgiu enquanto o jornalista e apresentador da TV Globo fazia um bico de mestre de cerimônias no TEDxSudeste, no Rio de Janeiro. Bem-humorado, divertido, se encantou com as palestras e conduziu bem o evento. Naquele momento, ele não tinha como imaginar que toda aquela força de mobilização, que no evento se mostrava poderosa para disseminar arte, tecnologia, qualidade de vida e inclusão social, em pouco tempo seria usada para mandá-lo calar a boca.

Tadeu entrou de gaiato numa briga de gigantes: a Seleção Brasileira, a TV Globo (simbolizando toda a força da imprensa) e a “Opinião Pública”, senhora exaltada e volátil. Tudo começou com os ingredientes básicos do viral-que-deu-certo: uma personalidade que todo mundo conhece (graças à mídia de massa), um sentimento extremo em torno dessa celebridade (se for de rejeição, melhor; se for de odiar, melhor em dobro), um Twitter e algumas pessoas criativas, talentosas e com tempo livre. Pronto: nasce um “cala boca Galvão”.

Não faz sentido perder tempo avaliando se o “cala boca Galvão” é uma perda de tempo, é um desperdício de energia em torno de uma causa fútil ou se é uma genial e divertida prova da criatividade brasileira (ou todas as anteriores). Uma das frases que vi flutuando pelo Twitter definia bem o fenômeno: foi a maior piada interna já feita (no caso, interna a um país inteiro).

O Cala Boca é um #CORRÃO em rede nacional. Um fenômeno que saiu da mídia de massa, foi para as internets e voltou para a mídia de massa. E que se beneficiou das regras para determinar o que é tendência no Twitter ou não. E que se realimentou pela velha regra das redes, dos ricos que ficam mais ricos.

Aí sobrou para o Tadeu. Na guerra declarada entre o técnico Dunga e a TV Globo (ou contra a imprensa em geral), ele ficou na linha de tiro. Eleito porta-voz de um editorial da emissora contra o técnico, que havia supostamente ofendido um repórter da casa durante uma coletiva, ele foi alvo de um viral parasita. Virais parasitas são aquelas tréplicas de terremotos sociais. Viraizinhos que surgem pegando carona nos modelos e conteúdos de temas que realmente bombaram. Cala Boca Tadeu. É a revolta da incensurável internet contra a toda-poderosa emissora que quer censurar o técnico que quer censurar jornalista. Quer dizer, uma zona.

Na linha bem brasileira de torcer para o mais fraco, dificilmente a Casa de Galvão Bueno vai contar com alguma simpatia em duelos de Dungas contra Golias. O curioso é que, nos trending topics da vida e do Twitter, as mesmas pessoas que torcem contra a França de Henry comemoram os braços-de-Deus de Luis Fabiano. As mesmas pessoas que mandam o Galvão fechar matraca (mas não mudam de canal), não admitem qualquer tipo de censura ou ataque à liberdade de expressão (no caso, um ataque à “liberdade” de cercear a expressão. Ou vice-versa. Ou sei lá).

Sim, contraditório. Sim, com pesos exagerados para coisas desimportantes. Sim, criativo, divertido, autêntico. Sim, “nós” somos uma força como a imprensa, como a Seleção, como tudo. Sim, a internet é humana. Logo, não espere justiça, não espere coerência, não espere um uso sábio do poder. E não culpe a liberdade.

Essa liberdade – inclusive de mandar os outros calarem a boca – é a magia da internet.

Roberto Cassano | Queria ser jornalista, virou curioso de mídias digitais e não faz ideia do que é hoje. Pelo menos pagam direitinho. Oficialmente é Diretor de Estratégia na Agência Frog. Mantém o perfil @rcassano no Twitter.

Aviso | As opiniões do autor do texto não refletem necessariamente as do Tecnoblog.

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