Em 1997, a ainda relativamente desconhecida Blizzard Entertainment lançaria um clássico que daria o pontapé inicial na origem de todo um novo estilo de jogo: Diablo.

“Relativamente desconhecida” para os PC gamers, isso sim. A série Warcraft era ainda recém-nascida (e o blockbuster Starcraft, que definitivamente pôs o nome da empresa no mapa e na consciência coletiva dos jogadores de computador, só chegaria no ano seguinte), mas nós jogadores de console já éramos bem familiarizados com o logo da empresa, por causa dos clássicos no SNES (Rock and Roll Racing, Blackthorne e The Lost Vikings).

Diablo é um RPG medieval com temática particularmente sombria, como o próprio nome deixa claro. Ele foi lançado originalmente pra PC, mas recebeu logo depois ports para Mac OS e até mesmo PlayStation. A versão do PS carecia de um modo online, mas tinha em compensação o multiplayer simultâneo. Tenho amigos que preferiram comprar a versão de console por este único motivo: jogar com os colegas no sofá.

E por tabela, a versão do PlayStation roda através de emulação nativa no PSP (que é um dos poucos bons motivos para não vender o seu PSP, diga-se de passagem).

O simples nome do jogo rendeu uma bela confusão lá em casa.

Eu tinha a Revista do CD-ROM que trazia a demonstração do jogo (eu me deliciava, a propósito, de quão apropriado era que um jogo chamado “Diablo” tivesse versão “demo”). Meus pais, ambos evangélicos, se horrorizaram ao ver o título do jogo em letras garrafais na capa, e me proibiram de instalá-lo no computador do meu pai. Esta era uma época em que eu tinha convicções espirituais mais fortes, e por isso aceitei a ordem sem chiar.

Isso é, até o dia em que o Ricardo, um colega de sala, comprou a mesma edição da revista – justamente por causa do mesmo título na capa que causou consternações em meu pai. Seu primo, que morava nos Estados Unidos (ou algo assim), havia falando bastante para ele sobre esse novo jogo com o tal nome religiosamente provocativo. Por isso ele nem pensou duas vezes antes de comprar a revista e experimentar o jogo, que ele chamava insistentemente de “El Diablo”, talvez por achar que o título não fosse espanhol o bastante.

Antes de continuar o texto, dê play no áudio acima (ou clique neste link) e deixe-o correr em background. É a música-tema mais icônica do jogo, com garantia absoluta de causar fortíssimo sentimento nostálgico naqueles que dedicaram muitas horas a este jogo em sua infância.

O jogo se passa em 964, no vilarejo fictício de Tristam. O seu personagem (que pode ser um guerreiro, uma ladra – uma convenção da língua lusófona para o quase intraduzível rogue – ou um mago) acaba de chegar ao local e descobre que foi atacada por demônios, que se instalaram na velha igrejinha ao norte da cidade. A sua missão é ir à igreja e combater os demônios à medida que vai descendo até o inferno (literalmente) para combater o Diablo do título.

O jogo segue bem o figurino estabelecido pelos RPGs tradicionais: as catacumbas, os personagens controlados pelo computador que têm como função revelar a história aos poucos, as hordas de adversários gêmeos que antecedem os grandes chefões, os itens mágicos… E, além disso, o multiplayer online.

Sim, Diablo era notável por trazer para os computadores o ambiente de RPG social, com múltiplos jogadores, como se fazia nos jogos de mesa, livro e dados. RPGs online – que eventualmente se especializariam e virariam os MMORPGs – só se tornariam populares alguns anos mais tarde, com a chegada de Ultima Online.

Passei muitas e muitas madrugadas (ahh, o saudoso pulso único… A criançada que cresceu sem o icônico handshake nunca conhecerá o hábito de esperar até a meia noite pra conectar à internet) na Battle.net, o serviço online da fabricante do jogo, colecionando as orelhas dos inimigos derrotados.

Cacei exaustivamente por uma screenshot do primeiro jogo, mas não tive resultado. Vai então essa imagem de Diablo II, que usava o mesmo esquema incomum de troféu virtual.

Como todo bom RPG, Diablo tinha uma história bastante intrigante, e com uma virada bastante inesperada no final. Não que eu realmente ache que alguém vai reclamar de spoiler de um jogo lançado 13 anos atrás, é que é melhor que você veja (ou reveja, se for o caso) o vídeo por si mesmo.

Sem Diablo, provavelmente não teríamos os moldes de MMORPGs que conhecemos hoje. Se Ultima Online é costumeiramente considerado o pai do gênero, Diablo seria o vovô.

Que memórias você tem de Diablo? Seria você dono de alguma das orelhas que decepei naquelas longas madrugadas mais de uma década atrás?

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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