Disputa entre Japão e Coreia pode afetar fornecimento de memórias e telas no mundo

Fabricantes japonesas precisam ter aprovação para exportar para Coreia do Sul, um processo que leva até três meses

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
LG OLED TV

Se você achava que a disputa entre Estados Unidos e China já era suficiente para causar um grande impacto no mercado de tecnologia, saiba que existe mais uma briga: o Japão implantou regras mais rígidas de exportação para a Coreia do Sul. E isso pode afetar o fornecimento global de memórias DRAM e NAND, além de telas LCD e OLED, que estão presentes em qualquer smartphone, tablet ou PC.

Desde esta quinta-feira (4), os produtores japoneses precisam de uma autorização para exportar determinados componentes químicos para a Coreia do Sul. As novas regras afetam a poliimida, utilizada para fabricar telas LCD e OLED, além da fotorresina e do fluoreto de hidrogênio de alta pureza, essenciais para produzir chips, como memórias flash e RAM, como mostra o AnandTech.

E qual o problema? Primeiro, o Japão é responsável por cerca de 70% a 90% da produção mundial desses três materiais químicos. A poliimida, a fotorresina e o fluoreto de hidrogênio de alta pureza vêm principalmente das fabricantes japonesas JSR, Showa Denko (SDK) e Shin-Etsu Chemical.

Segundo, o Japão não produz os componentes eletrônicos finalizados: os materiais químicos são enviados para a Coreia do Sul e então utilizados na fabricação de memórias e telas. As empresas coreanas, como LG, Samsung e SK Hynix, respondem por aproximadamente 70% do fornecimento mundial de chips DRAM, 50% dos chips 3D NAND e uma parte significativa de telas LCD e OLED.

Samsung - chip NAND

E, por fim, a tal autorização pode levar até três meses para ser concedida. A questão é que as fabricantes coreanas trabalham com um estoque baixo de componentes químicos, suficientes só para o curto prazo — se elas ficarem sem a matéria prima vinda do Japão, a produção deverá sofrer atrasos e os custos poderão aumentar.

De acordo com a Reuters, a Samsung está “analisando medidas para minimizar o impacto sobre a produção”, enquanto a SK Hynix enviou uma carta aos clientes informando que poderá lidar com a situação no curto prazo, mas enfrentará problemas se o caso se arrastar por muito tempo.

A situação ainda pode piorar, uma vez que o Japão planeja retirar em agosto a Coreia do Sul de uma lista de 27 países “amigáveis” que podem importar produtos japoneses sem a autorização explícita do governo, segundo o Nikkei Asian Review. O Japão nunca havia removido um país da lista antes. Quando isso ocorre, há restrições mais severas para que as fabricantes japonesas possam exportar produtos que tenham potencial em aplicações militares.

O governo japonês diz que as medidas foram tomadas em resposta à deterioração da relação com a Coreia do Sul. Os dois países têm uma história amarga desde 1910, quando o Japão ocupou a península coreana, na época unificada, fazendo a população a trabalhar em condições de escravidão. Na Segunda Guerra Mundial, o Japão se utilizou das chamadas “mulheres de conforto”, um eufemismo para as mulheres coreanas que foram forçadas à prostituição em bordeis militares japoneses.

Um pequeno reflexo da situação tensa entre os dois povos é que a Samsung nem sequer estampa seu logotipo em smartphones vendidos no Japão: os celulares são comercializados sob a marca Galaxy Mobile.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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