Huawei Watch GT: um relógio esportivo que quer ser smart

Com tela impressionante, design elegante e bateria que aguenta o tranco, Huawei Watch GT peca em pontos importantes

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses
Huawei Watch GT

Depois de retornar ao mercado de smartphones, a Huawei estreia no segmento de wearables no Brasil. O Watch GT é o primeiro relógio esportivo da fabricante chinesa no país, prometendo bateria de longa duração, tela AMOLED de alta definição e muito foco em fitness, com recursos para monitorar atividades físicas e fornecer informações detalhadas sobre o seu sono.

Com preço sugerido de R$ 1.499, o Huawei Watch GT parece até barato em comparação com smartwatches vendidos por outras marcas no Brasil, que costumam ser lançados por dois ou três mil reais. Mas será que ele é bom mesmo? Eu corri dezenas de quilômetros nas últimas semanas com a novidade da Huawei e conto minhas impressões nos próximos minutos.

Análise do Huawei Watch GT em vídeo

Huawei Watch GT

O Huawei Watch GT impressiona muito à primeira vista: ele parece mais caro do que realmente é. A empresa caprichou na qualidade de construção, com uma mistura de cerâmica e metal que passa uma sensação de robustez. Na versão Active, a precisão na gravação dos números e os detalhes nos botões laterais mostram que a Huawei prestou atenção nos detalhes.

A pulseira de borracha se mostrou confortável ao longo dos dias de teste, o que é importante para um dispositivo que se propõe a monitorar seu sono. Ela serve em pulsos de diversos tamanhos e pode ser substituída sem o uso de ferramentas específicas. E, como o encaixe é padrão de 22 mm, diferente do Apple Watch e do Garmin QuickFit, as possibilidades de personalização são inúmeras.

Huawei Watch GT
Huawei Watch GT

Se o Huawei Watch GT causa uma boa primeira impressão ao tirá-lo da caixa, isso se mantém ao ligar o produto. A tela da versão de 46 mm é uma das melhores que eu já vi em um relógio esportivo: a definição é ótima, as cores são vivas e o brilho é forte o suficiente para permitir a visualização mesmo com o sol incidindo no display. O sensor de toque é bem responsivo, reconhecendo toques e gestos com precisão.

Um ponto positivo é a alta compatibilidade do Huawei Watch GT: ele pode ser usado tanto em celulares Android quanto iOS com quase todos os recursos. No iPhone, só senti falta de poder instalar novos mostradores, mas o próprio aplicativo informa que o recurso já está em desenvolvimento. Apesar das diferenças visuais entre as plataformas móveis, todos os dados estão disponíveis para acesso no Huawei Health.

Huawei Watch GT

Entre as informações mostradas no Huawei Health, a que mais chama atenção é o monitoramento de sono. O nível de detalhamento é muito acima do normal: dá para saber a duração total do sono, a divisão entre sono leve, sono pesado e sono REM (!), a quantidade de vezes que você despertou e até a qualidade da sua respiração. No final, o aplicativo ainda gera uma nota para o seu sono.

Huawei Watch GT

O interessante é que a Huawei se preocupou em explicar o que significa cada informação, em vez de simplesmente jogar um monte de números aleatórios na cara do usuário. Com um toque, posso aprender o que é um nível bom de porcentagem de sono REM (é entre 10% e 30%) e entender o que acontece nessa fase, com direito a referências de artigos científicos no final.

Ainda com relação aos dados, existe uma infinidade deles para quem pratica exercícios. Na corrida, o Huawei Health mostra gráficos de frequência cardíaca, ritmo, cadência e altitude ao longo da atividade, inclusive permitindo sobrepor gráficos, para você saber como seu número de passos por minuto é afetado durante um trecho de subida, por exemplo.

Huawei Watch GT

Aliás, a seção de desempenho é quase um plágio da plataforma da Garmin (o que é bom). O aplicativo mostra o efeito de treinamento aeróbico e anaeróbico (de 1 a 5), estima seu VO2 máximo, prevê em quanto tempo você terminaria uma meia maratona e sugere um tempo de recuperação, com base no esforço realizado, para que você esteja pronto para a próxima atividade e evite o overtraining.

Huawei Watch GT
Huawei Watch GT

Por fim, a bateria surpreende. Eu confesso que inicialmente não acreditei muito na promessa de até 14 dias de autonomia por causa da alta definição e do forte brilho da tela. Em geral, uma duração de “semanas” só é possível em dispositivos mais básicos, com telas monocromáticas ou com cores lavadas, baixa resolução e sem sensor de toque. Mas o Huawei Watch GT fugiu à regra.

Enchi a bateria do Huawei Watch GT em uma segunda-feira à noite. O relógio ficou no meu pulso durante todo o tempo, mostrando notificações do celular e monitorando meu sono e batimentos cardíacos. Nesse período, corri ou caminhei com o GPS ativado por 3h30min. Na manhã de sexta-feira, a bateria ainda estava em 30%, o que é algo excepcional.

Sem monitorar atividades físicas, o consumo de bateria ficou entre 7% e 9% a cada 24 horas, com o leitor de batimentos cardíacos sempre ligado e com o monitoramento de sono ativado, o que facilmente resultaria em mais de 10 dias de autonomia.

Huawei Watch GT

O problema de passar uma impressão boa demais à primeira vista é que isso nem sempre pode ser mantido ao longo do tempo. O Huawei Watch GT tem um design e uma tela de um smartwatch caro, mas não oferece as mesmas funções de um. E, apesar de trazer muitos dados, que normalmente só são encontrados em relógios esportivos mais sofisticados, a precisão das informações me decepcionou.

Como smartwatch, o Huawei Watch GT não tem recursos muito básicos. Ele mostra notificações do celular, mas não permite fazer nada com elas, nem responder uma mensagem. Em vez de usar o Wear OS, a Huawei optou pela plataforma própria LiteOS, que não traz nenhum aplicativo de terceiro. E talvez um dos principais usos não está disponível: não tem como controlar a reprodução de músicas por meio do relógio (!).

Huawei Watch GT

Na prática, ele acaba sendo uma pulseira fitness simples com cara de smartwatch sofisticado. Na mesma faixa de preço, o Samsung Galaxy Watch Active, por exemplo, permite até sincronizar playlists do Spotify, enquanto o da Huawei não tem nem armazenamento interno para músicas. Sem contar todos os outros recursos de smartwatch e a possibilidade de se conectar com serviços de terceiros, como Strava e Endomondo, que não estão disponíveis no Huawei Watch GT.

Outro ponto negativo: a tradução é muito ruim. Existem alguns trechos em português de Portugal e outros que foram localizados incorretamente: palavras sem plural, “steps” traduzido para “etapas” em vez de “passos”, “vigência” em vez de “duração” e por aí vai. É algo que me lembra celulares antigos da Asus e que passa uma imagem de desrespeito. Afinal, se você recebe dinheiro de consumidores que compram legalmente o produto no Brasil, pagando todos os impostos para manter a operação de uma empresa no país, o mínimo que precisa fazer é contratar bons revisores.

Huawei Watch GT

E, como relógio esportivo, o Huawei Watch GT pecou pela precisão. Apesar de mostrar muitas informações, todas elas são afetadas pelo GPS bem “mais ou menos”, que prejudica a confiabilidade das informações.

Em uma corrida de 10 km, com um trajeto praticamente reto e uma visão desobstruída do céu, com uma avenida larga de um lado e um rio do outro, o Huawei Watch GT foi relativamente bem: ele cortou algumas curvas, mas nada além do normal para um relógio com GPS.

Huawei Watch GT

Mas o relógio se perde com muita facilidade no meio da cidade. No cenário mais “desafiador”, eu corri 15 km em Nova York, passando por avenidas com arranha-céus e muitos andaimes de construção no meio do caminho. Obviamente, a qualidade do trajeto gravado pelo GPS foi muito ruim: ele cortou curvas e inventou trechos que não existiam com bastante frequência. Pelo mapa, eu corri, voei e nadei ao mesmo tempo.

Mesmo em parques a precisão não é das melhores: até as árvores em alguns trechos do Parque Ibirapuera, em São Paulo, foram suficientes para prejudicar a consistência do GPS. E isso se refletia nos dados que eram exibidos em tempo real: mesmo correndo a um ritmo constante por volta de 5min45/km, o relógio chegava a mostrar na tela que eu estava abaixo dos 4 min/km — e por quase um minuto. Eu ficaria bem feliz, mas não era o caso aqui.

Huawei Watch GT

Vale a pena?

O Huawei Watch GT é um produto que tinha tudo para ser perfeito, mas que peca em pontos muito importantes. O design agrada, a tela é uma das melhores do mercado, a bateria dura demais e o aplicativo Huawei Health impressiona pela quantidade de dados exibidos, não perdendo em quase nada para as referências de mercado, como o Garmin Connect.

Mas os pontos positivos acabam sendo ofuscados por fraquezas simples. Eu não esperava um smartwatch completo no Huawei Watch GT, com assistente de voz, múltiplos gigabytes de memória e aplicativos complexos, mas sério que não dava nem para incluir controle de música? E, se o foco era em construir um relógio esportivo, não um smartwatch, não tinha como colocar um GPS melhor?

Huawei Watch GT

Alguns dos pontos negativos podem ser sanados futuramente por software e, de fato, eu recebi pelo menos três atualizações de firmware durante as quase duas semanas de teste. Só que, apesar de estar sendo lançado agora no Brasil, este é um produto que foi anunciado em outubro de 2018 — é difícil imaginar o que poderia ter sido corrigido ou implantado e ainda não foi.

Com esses pecados, o Huawei Watch GT acaba não sendo nem um ótimo smartwatch, nem um ótimo relógio esportivo, apesar de trazer muitos destaques tecnológicos e de não custar os olhos da cara. Ele deve ser uma opção para quem procura um relógio elegante, se preocupa com saúde, não quer carregar a bateria todo dia e, de vez em quando, pratica atividades físicas. Mas fica a sensação de oportunidade perdida: ele poderia ser muito mais do que isso.

Especificações técnicas

  • Bateria: até 14 dias (Active) ou até 7 dias (Elegant);
  • Conectividade: Bluetooth 4.2, GPS, Glonass, Galileo;
  • Dimensões: 46,5×46,5×10,6 mm (Active) ou 42,8×42,8×10,5 mm (Elegant);
  • Peso: 46 gramas (sem pulseira, Active), 36,2 gramas (sem pulseira, Elegant);
  • Plataforma: LiteOS;
  • Sensores: acelerômetro, giroscópio, luminosidade, barômetro, sensor cardíaco óptico, bússola;
  • Tela: AMOLED de 1,39 polegada com resolução de 454×454 pixels (Active) ou AMOLED de 1,2 polegada com resolução de 390×390 pixels (Elegant).

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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