Windows Mobile não venceu Android devido a caso antitruste, diz Bill Gates

Bill Gates lamenta derrota para Android; ex-CEO ficou "distraído" com disputa judicial entre Microsoft e governo dos EUA

Felipe Ventura
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Palm Treo Pro com Windows Mobile 6.1
Palm Treo Pro com Windows Mobile 6.1 (foto por Long Zheng/Flickr)

Bill Gates acredita que você provavelmente estaria usando um celular com Windows Mobile se não fosse pelo processo antitruste contra a Microsoft. Ele diz que ficou distraído com a disputa judicial envolvendo o governo dos EUA, e que perdeu um importante lançamento de smartphone da Motorola. Para o ex-CEO, seu maior erro foi a derrota para o Android.

“Não há dúvida de que o processo antitruste foi ruim para a Microsoft, e estaríamos mais focados em criar o sistema operacional para celulares”, disse Gates em uma conferência realizada pelo New York Times nesta quarta-feira (6).

“Assim, em vez de usar o Android hoje, você usaria o Windows Mobile”, ele continuou. “Se não fosse o caso antitruste… chegamos tão perto. Eu fiquei muito distraído, estraguei tudo por causa da distração.”

O governo dos EUA abriu um processo contra a Microsoft em 1998, acusando-a de abusar de seu poder de monopólio do Windows para crescer em outro mercado — navegadores web — e prejudicar concorrentes como a Netscape.

Em 2000, uma decisão judicial obrigou a empresa a ser dividida em duas: uma parte faria o sistema operacional, e a outra faria outros tipos de software. A Microsoft recorreu, e a Suprema Corte reverteu essa decisão. Em 2001, o Departamento de Justiça dos EUA fez um acordo extrajudicial, encerrando o caso.

Gates disse no evento que não teria deixado o cargo de CEO tão cedo se não fosse pelo processo antitruste. Steve Ballmer assumiu o comando em 2000; no mesmo ano, foi inaugurada a Bill & Melinda Gates Foundation.

Windows Mobile 6.5 e iPhone 3G

Toshiba TG01 com Windows Mobile 6.5 e iPhone 3G (Long Zheng/Flickr)

Motorola podia ter usado Windows Mobile, não Android

Segundo Gates, a Microsoft também perdeu a chance de lançar o Windows Mobile em um dispositivo importante da Motorola: “chegamos três meses atrasados para um lançamento que a Motorola teria usado em um celular, então sim, este é um jogo no qual o vencedor leva tudo”.

O cofundador da Microsoft não entrou em detalhes, mas ele poderia estar falando do Motorola Droid, lançado fora dos EUA como Milestone. A Motorola e a operadora Verizon fizeram uma enorme campanha de marketing para divulgar o aparelho e concorrer com o iPhone — na época exclusivo da AT&T. Ele teve boas vendas e abriu caminho para a popularização do Android.

Motorola Droid Milestone

Motorola Droid ou Milestone (Flickr)

O Motorola Droid foi lançado no final de 2009. Na época, a Microsoft havia lançado o Windows Mobile 6.5 com uma interface mais adequada para interação com dedos, em vez de caneta stylus. Mas, inicialmente, esse sistema mal tinha suporte a multitoque: por exemplo, não era possível ampliar uma página no Internet Explorer Mobile com o gesto de pinça. (O iPhone já estava no mercado por dois anos.)

A Microsoft preparava uma versão melhorada, chamada Windows Mobile 7, mas acabou desistindo e migrou o desenvolvimento para o Windows Phone 7, lançado no final de 2010. Celulares com Windows Mobile 6.5 não podiam atualizar para o Windows Phone 7; estes, por sua vez, não receberam o Windows Phone 8.

Se a Microsoft não estivesse “distraída” com o processo antitruste, será que ela teria uma chance contra o iPhone e o Android? Bem, é impossível saber, já que não vivemos nessa realidade alternativa. “Agora ninguém aqui nunca ouviu falar do Windows Mobile, mas tudo bem”, disse Gates.

Interface do Windows Mobile 6.5, lançado em 2009:

Windows Mobile 6.5

Com informações: The Verge, CNBC.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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