Galaxy Fold: como é usar o primeiro celular dobrável

Samsung Galaxy Fold é o smartphone mais sensacional da década que eu nunca compraria

Paulo Higa
Por
• Atualizado há 11 meses
Samsung Galaxy Fold - Review

O Galaxy Fold é o primeiro celular com tela dobrável a ser fabricado em escala industrial. A versão original tinha sérios problemas de durabilidade, o que obrigou a Samsung a cancelar o lançamento, voltar às pranchetas e reforçar o design do produto. Já o modelo revisado tem pretensões grandiosas: ele quer “mudar o formato do smartphone” e “redesenhar o futuro”, nas palavras da Samsung. Será que consegue?

Eu passei as últimas semanas usando o Galaxy Fold como meu smartphone principal e conto minhas impressões nos próximos minutos.

Análise do Galaxy Fold em vídeo

Câmeras, desempenho, conectividade, etc.

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Vamos começar tirando algumas coisas do caminho. O trio de câmeras traseiras do Galaxy Fold é o mesmo do Galaxy S10, então você já sabe o que esperar: as fotos são capturadas com excelente definição, exposição equilibrada e alcance dinâmico quase impecável em qualquer condição de iluminação. Nos últimos meses, novos smartphones conseguiram dar grandes saltos no processamento de imagem, notavelmente o iPhone 11 Pro Max, mas ainda temos uma máquina de respeito aqui.

Samsung Galaxy Fold - Teste de câmera
Samsung Galaxy Fold - Teste de câmera
Samsung Galaxy Fold - Teste de câmera
Samsung Galaxy Fold - Teste de câmera
Samsung Galaxy Fold - Teste de câmera

O hardware também é parecido. Sim, o Galaxy S10 foi lançado no Brasil com processador Samsung Exynos 9820, enquanto o Galaxy Fold é equipado com Snapdragon 855, da Qualcomm, mas isso não faz diferença para pessoas normais. Além disso, apesar de já existirem novos chips mais potentes, os 12 GB de RAM e 512 GB de espaço ainda são mais que suficientes para rodar qualquer aplicativo ou jogo pesado de 2020, como se espera de um celular de R$ 12.999.

E a conectividade dos topos de linha da Samsung se manteve no Galaxy Fold, o que significa uma rápida velocidade de carregamento da bateria (inclusive sem fio), pagamentos com Samsung Pay tanto por aproximação quanto por simulação de tarja magnética, USB-C e até uma entrada física para chip de operadora, algo que o Motorola Razr abandonou em favor do eSIM.

E como é usar um celular dobrável?

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Eu usei o Galaxy Fold como meu smartphone principal por mais de duas semanas e o ponto alto certamente foi uma viagem a trabalho que envolvia um voo de 9 horas para Nova York, seguido por outro de 6 horas até San Francisco. A tela dobrável de 7,3 polegadas é um deleite para consumo de conteúdo, e essa é a maior utilidade de um tablet que dobra ao meio para caber no bolso.

A proporção da tela interna se aproxima de 13:9, o que não chega a ser larga como a maioria dos vídeos, que são 16:9, mas que já traz um ganho de espaço ao assistir a um filme em comparação com um smartphone na casa das 6,5 polegadas — com a vantagem de que o Galaxy Fold fica mais compacto quando dobrado.

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Os maiores benefícios de uma tela com essa proporção estão em outras aplicações, como ler um livro com diagramação complexa em PDF, algo que um Kindle e outros leitores de ebooks ainda não conseguem fazer de maneira eficiente. E o painel maior também aumenta a imersão nos jogos, afinal, a maioria dos games já está adaptada para a tela do Galaxy Fold que, no final das contas, é uma tela de tablet. Só aqui são duas categorias de eletrônicos que podem ser substituídas por um único smartphone.

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Em regra, tudo fica melhor em uma tela maior, o que explica por que os smartphones crescem de tamanho a cada ano. O feed do Instagram parece que foi feito para o Galaxy Fold: cada foto é mostrada em sua plenitude. No Google Maps, as informações em maior quantidade dão a sensação de que o aplicativo saiu de uma gaiola. Até o calendário se torna mais útil.

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O único ponto negativo das telas maiores é que o comprimento do nosso polegar não aumentou nos últimos anos, nem o tamanho do bolso da calça, e é por isso que a ideia de um celular grande que pode ficar compacto me agrada tanto.

Samsung Galaxy Fold - Review
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O que ainda tem de problemático?

Mas é claro que o Galaxy Fold está muito longe de ser a solução perfeita. A primeira geração de smartphones dobráveis (e não estou me limitando à Samsung) ainda precisa resolver muitos problemas que foram criados justamente por causa das telas flexíveis.

O vinco na tela na região da dobradiça é como um arranhão: uma vez visto, é impossível ser desvisto. A diferença é que você pode comprar um smartphone com uma tela sem nenhum risco e mantê-la em perfeito estado por muito tempo se for uma pessoa cuidadosa, enquanto o vinco no Galaxy Fold é absolutamente inevitável. E, apesar de o problema não ser tão perceptível no dia a dia, eu sinto a dobra sempre que rolo a tela para os lados.

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Falando em riscos, a tela do Galaxy Fold é de plástico, não vidro. De imediato, isso cria dois problemas. Primeiro, o plástico tende a ser menos transparente que o vidro — e o brilho do AMOLED do Galaxy Fold é mais fraco que a média. Não chega a incomodar, mas fica longe de impressionar como a tela do Galaxy Note 10+. Além disso, a tela se mostrou frágil: mesmo tomando bastante cuidado, consegui encontrar três marcas de unha e alguns micro-riscos depois de apenas duas semanas. O prognóstico para um ou dois anos de uso não tem como ser positivo.

Eu só usei a tela externa do Galaxy Fold para consultar algo rápido, ou em qualquer lugar aberto onde não me sentisse confortável em desdobrar um eletrônico de 13 mil reais. Nesses casos, ela também mostrou suas fraquezas: apesar de ter 4,6 polegadas, o que era um número aceitável para um smartphone há três ou quatro anos, a proporção de 21:9 torna o uso incômodo, principalmente para digitar em um teclado virtual tão estreito. Existe muito espaço vazio em torno da tela que poderia ser simplesmente mais tela, o que amenizaria muito o problema.

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Essas bordas enormes em torno da tela externa, em conjunto com outras características de design, reforçam a sensação de estou usando um protótipo, não um produto finalizado. Uma versão mais refinada do Galaxy Fold provavelmente não teria uma moldura de plástico preto na tela interna, um entalhe gigante para as câmeras e um leitor biométrico com esse posicionamento questionável — com a capinha instalada, a metade frontal fica levemente desalinhada em relação à traseira, o que causa imprecisões no reconhecimento de impressões digitais.

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A própria construção do Galaxy Fold parece ter “data de validade”. Todo bom smartphone topo de linha da atualidade é à prova d’água e, por mais que isso seja um desafio de engenharia em um celular dobrável, é algo que poderia ser alcançado com mais tempo de desenvolvimento. O fato de a versão revisada ainda ser suscetível à entrada de poeira também conta pontos negativos. Tem quem cuide de eletrônico como se fosse um bebê, mas um celular não é a coisa mais importante da nossa vida, e deveria estar aqui para nos servir.

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E eu nunca fui de me importar muito com a espessura ou o peso de um smartphone, mas o Galaxy Fold foge muito do padrão. Dá para se acostumar com os 276 gramas, mas a espessura de 17 milímetros torna ele quase tão grosso quanto um Nokia 2310 (com a diferença de que o Nokia 2310 era bem menor). A Samsung poderia trabalhar em uma nova geração mais fina, começando por eliminar o espaço que sobra por dentro quando a tela está dobrada — algo que a Motorola conseguiu resolver no Razr.

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Por fim, um novo formato de smartphone exige adaptações no software. A maioria dos aplicativos que uso está preparada para alternar entre o modo celular e o modo tablet, mas alguns precisam ser fechados e depois reabertos para se readaptarem a uma tela menor ou maior, o que quebra a continuidade. O Google se mostrou comprometido em melhorar a experiência de uso do Android em dobráveis, mas, em comparação com a Apple, tenho sérias dúvidas sobre a autoridade do Google em conseguir mobilizar sua comunidade de desenvolvedores.

Vale a pena?

Não. Normalmente, eu não recomendo comprar nenhum produto que seja de primeira geração, já que eles são mais protótipos e testes de mercado do que produtos que realmente valem o seu dinheiro.

O primeiro iPhone nem era compatível com 3G em pleno ano de 2007 e sua câmera era medíocre para um celular tão caro, mas mudou todo o mercado de smartphones. O primeiro Galaxy Note tinha preço proibitivo e sua tela de 5,3 polegadas fazia ele ser considerado desengonçado e grande demais, mas hoje as telas enormes são a regra. Ninguém mais perde tempo discutindo se 6 polegadas é smartphone, tablet, phablet ou foblet, como em 2012.

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Não é possível prever se o futuro são as telas dobráveis, mas a ideia me agrada — ela só não está pronta. O Galaxy Fold, do jeito que está no mercado, é um produto para fãs, ou entusiastas de tecnologia que têm muito dinheiro sobrando e querem experimentar o que pode se tornar o futuro dos smartphones. Mas o futuro ainda não é o presente.

O maior trunfo de um dobrável no formato do Galaxy Fold é substituir eletrônicos. Ao longo dos anos, o smartphone substituiu a câmera fotográfica e o player de MP3 — sempre com alguns comprometimentos, como a qualidade de imagem que demorou para chegar no nível das câmeras dedicadas e o tamanho que nunca foi tão compacto quanto um iPod shuffle. Um Galaxy Fold bem projetado poderia aposentar seu Kindle, tablet e talvez outro eletrônico.

Samsung Galaxy Fold - Review

Para mim, o Galaxy Fold é o smartphone mais sensacional da década… que eu nunca compraria. Por enquanto, resta a esperança de uma segunda geração melhor.

Especificações técnicas

  • Telas:
    • Interna: Infinity Flex de 7,3 polegadas, painel AMOLED, Dinâmico resolução de 2152×1536 pixels, proporção 4,2:3, 362 ppi
    • Externa: 4,6 polegadas, painel Super AMOLED, resolução de 1680×720 pixels, proporção 21:9, 399 ppi
  • Processador: Qualcomm Snapdragon 855 octa-core de 2,8 GHz
  • RAM: 12 GB
  • Armazenamento: 512 GB (UFS 3.0)
  • Câmeras traseiras:
    • 12 megapixels com abertura f/1,5-2,4, OIS (estabilização óptica de imagem)
    • 12 megapixels, f/2,4, com zoom óptico de 2x, OIS
    • 16 megapixels, f/2,2, ultrawide de 123 graus
  • Câmera interna dupla: 10 megapixels, f/2,2 + 8 megapixels, f/1,9 (profundidade)
  • Câmera frontal: 10 megapixels, f/2,2
  • Bateria: 4.380 mAh, recarga rápida com ou sem fio, Wireless Power Share
  • Conectividade: USB-C, dual-chip (nano-SIM e eSIM), Wi-Fi 802.11ax, Bluetooth 5.0, NFC, GPS, Galileo, Glonass, BeiDou
  • Dimensões: 62,8 x 160,9 x 15,7-17,1 mm dobrado; 117,9 x 160,9 x 6,9 mm aberto
  • Peso: 276 gramas
  • Sistema operacional: Android 9 Pie com One UI

Galaxy Fold

Prós

  • A tela dobra e desdobra. Sério, isso é uma maravilha da engenharia
  • Câmeras e desempenho sem comprometimentos

Contras

  • Parece que não deu tempo de refinar o design e o acabamento
  • Software ainda precisa de adaptações para alternância entre telas
  • Tela dobrável frágil e muito suscetível a riscos
  • Visor externo é estreito demais e prejudica ergonomia
  • Essa tecnologia ainda não está pronta para pessoas normais
Nota Final 7.3
Bateria
8
Câmera
9
Conectividade
10
Desempenho
9
Design
3
Software
7
Tela
5

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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