Nioh 2 – Desafio extremo e sofrimento constante

Nioh 2 refina mecânicas do antecessor, traz novidades no gameplay e muito mais dificuldade

Vivi Werneck
Por
• Atualizado há 11 meses
Nioh 2

Vamos deixar algo bem claro, logo de início: Nioh 2 é um jogo que vai elevar seu estresse a níveis preocupantes, mas será igualmente recompensador – se você tiver disciplina para lidar com ele. Extremamente punitivo com seus erros mais simples, este “Souls-like” elevou o desafio de seu antecessor e acrescentou interessantes novas mecânicas de gameplay, como a possibilidade de usar poderes yokai. Venha sofrer comigo neste review.

Nioh 2, desenvolvido pela Team Ninja (Dead or Alive, Ninja Gaiden), é exclusivo do PS4 (ao menos por enquanto), tem opções de legendas em PT-BR e duas possibilidades de áudio: japonês ou inglês.

Há algumas similaridades deste com Nioh (2017), que jogadores veteranos irão notar bem no início, como a escolha das armas, posturas de luta (falarei mais disso adiante) e etc. No entanto, a primeira grande diferença é que seu personagem não será mais um protagonista já determinado pelo jogo (não há um “William”), mas sim totalmente customizável.

Nioh 2

Nesse quesito, é bem ao estilo de jogos de RPG, como Dark Souls, Skyrim, Monster Hunter World, dentre outros. Inclusive, o nível de detalhes que você pode alterar das feições do seu guerreiro (ou guerreira) é tamanho que é possível criar um belo monstrinho, se quiser.

Pré-sequência de Nioh e guerreiro mestiço

Os acontecimentos de Nioh 2 se passam no Japão de 1555, mais precisamente, 45 anos antes do primeiro Nioh. Num lugar onde todos, das crianças aos mais valentes guerreiros, vivem em medo constante dos yokai (demônios, na cultura japonesa), você nasceu um mestiço entre esses dois mundos: é metade humano e metade demônio.

Graças a isso, seu herói consegue assumir a forma de um yokai e usar seus poderes, por um breve período de tempo. O que pode ser visto por uns como uma benção (já que te dá vantagens na luta em relação a guerreiros comuns) é visto como uma maldição para outros.

Como um mercenário, você irá encarar uma terra amaldiçoada, durante a era Sengoku, além de caçar seus inimigos no próprio Reino Yokai.

Com a troca de um protagonista fixo por um customizável, você ganha em identidade (é muito legal ver o herói que criou em cutscenes e menus), mas perde em personalidade – por se tratar de um avatar mudo. Nisso, seu guerreiro em Nioh 2 poderá apenas gesticular e mudar algumas feições, mas é tudo o que ele será capaz de demonstrar de emoções.

Não vejo isso como uma falha, particularmente adoro personalizar meus heróis, mas da última vez que vi isso num game, sem que o avatar se tornasse uma múmia quase sem sentimentos, foi na série Mass Effect. Questão de gosto.

Chuva de loot e grinding

Opções de armas e armaduras não faltarão em Nioh 2. Inclusive, gerenciar as toneladas de itens no seu inventário é mais um dos seus desafios. O loot é até bem generoso (em quantidade) e você vai querer voltar em algumas missões só para tentar conseguir equipamentos melhores. O grinding será necessário caso queira farmar equipamentos melhores.

O drop se assemelha ao estilo de games ARPGs, como Diablo, em que você pode conseguir itens “coloridos” – de acordo com a raridade. Um recurso muito interessante, para te ajudar a filtrar o que coletar, é a possibilidade de selecionar (nas opções do jogo) qual tipo de raridade de loot pegar. Isso ajuda, principalmente, mais para frente na campanha quando você não quer mais acumular lixo, vulgo itens brancos.

Vale ressaltar a atenção no que estiver vestindo: equipamentos mais pesados (armas + armaduras) dão proteção maior, mas consomem mais Ki (estamina) e te deixam mais lento. Já equipamentos mais leves têm uma porcentagem de proteção menor, mas consomem menos Ki e não impactam tanto na sua agilidade. Se você for do tipo badass pode jogar só de roupa íntima, inclusive, e ficar bem ligeiro. Espero que tenha uma boa esquiva, nesse caso.

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Você também pode vender o que não quiser para os Kodamas, os adoráveis bichinhos verdes colecionáveis que ficam nos altares, ou santuários (conforme você os encontra). Seu personagem pode obter bênçãos específicas com eles. Por falar nos altares de oração, eles são como as fogueiras de save do Dark Souls, por exemplo. Nele, além de fazer upgrades no seu meio humano/meio capiroto, também é possível comprar itens no Bazar dos Kodamas, dentre outras funções. Há outros colecionáveis pelo mapa também. Fique de olho!

Muitas habilidades disponíveis para tudo

Dificilmente um personagem, em Nioh 2, vai ser parecido com outro. A quantidade assustadora de possibilidades de personalização de habilidades pode te deixar confuso no início, especialmente pelo jogo pouco fazer para te explicar melhor essas coisas.

E não falo aqui apenas de uma skill tree para o herói em si, mas para cada tipo de arma que estiver usando, cada tipo de essência, da sua forma yokai e do guardião. Basicamente, quase tudo o que usar para lutar é passível de ter uma árvore de habilidades específica.

Por exemplo, comecei o jogo com duas armas: uma foice borboleta e espadas duplas. Conforme fui usando esses equipamentos nas batalhas, mais pontos eu ganhava para distribuir nas skills trees dessas armas. Consequentemente, meu nível de proficiência com este tipo de equipamento aumentava.

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Mesmo esquema se aplica para suas magias, vamos assim dizer, conseguidas ao matar inimigos mais poderosos, assim como em suas habilidades ao usar qualquer uma das três posturas de luta, ou mesmo da sua forma yokai.

Mas não é só lutar muito para aprimorar seus atributos. Você também precisará de Amrita para melhorar skills, como: constituição, essência, coragem, energia, força, habilidade, destreza e magia.

As Amritas, portanto, são preciosíssimas. Caso morra, o que vai acontecer diversas vezes (e é necessário aprender a conviver com isso), você perderá todas as pedras e terá que voltar ao local onde foi derrotado para recuperá-las. E assim em como todo Souls-like, se morrer antes de chegar até onde foi abatido da última vez… Bom, tudo será perdido (isso também inclui a energia que acumulou para sua transformação yokai).

Missões: ou quando o inferno bate a sua porta

Durante as missões (principais e secundárias), você chega a ter a ilusão dos mapas serem bem lineares. No geral, é só impressão mesmo. Por mais que Nioh 2 não seja um mundo aberto, ele tem sim uma boa dose de exploração e inúmeras oportunidades de ser emboscado e humilhantemente morto no processo, se não estiver atento.

Às vezes, o que você precisa para destravar mais uma parte do mapa é aquela chave que vai dropar depois que matar um inimigo de elite ou um boss. A propósito, ao explorar os mapas das missões, cuidado com o que está fora do seu alcance visual.

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De onde menos se espera pode, por exemplo, cair um inimigo sobre você e te matar. Telhados também são lugarzinhos bem cretinos: tem sempre um arqueiro ou alguém com ataque à longa distância para ceifar aquele último pedacinho da sua barra de vida, enquanto achava que estava tudo bem para voltar até o santuário e se recuperar.

Você encontrará uma variedade razoável de tipos de inimigos nas missões (de todos os tamanhos. Alguns ocupam a tela toda). O interessante é que até adversários supostamente mais fracos podem te matar num golpe só – especialmente se te atacarem com um golpe impetuoso.

Ataques Impetuosos (marcados com uma rápida sombra vermelha nos inimigos) não podem ser bloqueados da forma padrão. Você precisará invocar um Revide Impetuoso para isso. Nesse modo, você se transforma temporariamente num yokai, que usa sua arma para bloquear o ataque. A vantagem desse tipo de bloqueio é conseguir quebrar a defesa do adversário e, consequentemente, engatar um contra-ataque devastador.

Reino Yokai

Os Reinos Yokai são como áreas de desafio no mapa, onde os demônios são mais poderosos e ainda têm vantagens sobre você. Como se o jogo normal não fosse desesperador o suficiente.

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Para melhorar (e isso foi uma ironia), no Reino Yokai o consumo do seu Ki é maior para todas as ações que usam estamina, como: correr, esquivar, defender, fazer parries e atacar. Nessa área amaldiçoada, é sempre um olho na luta e outro olho na barra de Ki.

Apenas será possível abrir baús e usar altares, dentro desse local, se você purificar a região. Para isso, é necessário matar um demônio em específico (geralmente o maior de todos).

Gameplay: respirou errado… Morreu!

Se você é um novato em jogos do tipo “Souls-like” (com mecânicas inspiradas nos games da From Software) tenho muita pena da sua alma. Não que eu seja uma especialista no gênero, mas cair de paraquedas num jogo assim é um convite à terapia. Mas… Nada é impossível se você, assim como um samurai, tiver muita disciplina e ser persistente.

Uma coisa que aprendi rápido em Nioh 2, depois de morrer dezenas de vezes num só inimigo – ainda usando equipamentos iniciais, é que (às vezes) a melhor estratégia é mesmo fugir. É melhor um covarde vivo, naquele momento, com a possibilidade de se equipar melhor para voltar depois, do que um herói morto num hit.

Nem sempre fazer aqueles combos lindos, ao estilo Devil May Cry, é a melhor saída para uma situação de aperto. Às vezes, esmagar o quadrado e o triângulo serão as escolhas mais seguras a se fazer. É sempre bom evitar, em qualquer game Souls-like, atrair muitos inimigos para você ao mesmo tempo. O próprio jogo te aconselha, na tela de loading, a lutar com sabedoria e não se deixar levar pelo ego.

Vale destacar que o loading é até bem rápido, mesmo no PS4 comum. Em se tratando de um game que se morre num espirro, loadings rápidos ajudam a não deixar a adrenalina baixar.

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Se a situação apertar, não deixe de buscar a ajuda de um amigo guerreiro. Em vários locais do mapa você encontrará marcadores azuis, com uma espada fincada no chão. Ao fazer uma oferenda nesses pontos, é possível convidar o espectro de um outro jogador para te ajudar na batalha. Ele ficará ativo até a vida dele se esgotar. Também no modo online, você pode entrar em Expedições e cooperar com outros jogadores para completar missões ou mesmo entrar em encontros aleatórios.

Ah, não deixe de usar a ajuda, super bem vinda, dos NPCs sempre que tiver a oportunidade.

Se quiser tentar farmar uns itens extras, você também pode invocar um jogador adversário (nos marcadores vermelhos) e tentar derrotá-lo. Não é muito prudente invocar mais um inimigo estando você já cercado. Imagino que já saiba disso, mas não custa aconselhar.

Posturas de luta e guardião

Logo no início do jogo, e assim que terminar de customizar seu personagem, você poderá escolher o conjunto de armas que deseja começar a aventura e seu espírito guardião. Esse guardião vai definir sua forma yokai (que você também pode personalizar, mais ou menos, a aparência), os golpes especiais, bem como os bônus iniciais que irá receber.

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Há três tipos de guardiões disponíveis: em forma de lobo (foco em força), em forma de tubarão (foco em magia) e em forma de pássaro (foco em essência). Aproveite essa primeira parte, ainda de calmaria, para praticar seus golpes e combos.

As posturas de luta já são conhecidas de quem jogou o primeiro Nioh. Há três maneiras de empunhar e usar uma arma escolhida:

  • Postura baixa: ataques mais rápidos, baixo consumo de Ki e menos dano;
  • Postura mediana: guarda mais equilibrada favorecendo a defesa, consumo moderado de Ki;
  • Postura alta: ataques mais lentos, alto consumo de Ki e muito mais dano.

Você não precisa usar apenas um tipo de postura. É possível alterar rapidamente entre as guardas, inclusive durante o combate. Tudo vai depender da sua estratégia. A transição entre as posturas é bem fluida e os atalhos ficam sempre na tela, caso esqueça.

Bela arte estilo oriental com bons gráficos

O visual de Nioh 2 encanta, principalmente, pelas centenas de referências à arte japonesa – com detalhes em pinceladas, desenhos típicos e algumas cores especialmente graças à vegetação. Mesmo com uma aura mais sombria e amaldiçoada, em vários momentos do jogo, a estética oriental não se perde.

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Já graficamente falando, o game faz um trabalho decente, mas nada de extraordinário. Você apenas consegue melhorar mais a situação se optar fixar a jogabilidade em 30 quadros por segundo, priorizando a resolução. É possível fazer isso nas opções. No entanto, em se tratando de um título em que você precisa pensar e agir rápido, é recomendado fixar nos 60 quadros.

O som, por sua vez, embala o pano de fundo das missões – também ao estilo oriental. Essa harmonia é apenas subitamente quebrada em momentos de ação, onde a própria música do jogo te alerta de um perigo à espreita. Em boss fights, o áudio é a cereja do bolo na sua sensação de desespero.

Conclusão

Nioh 2 é um tipo de jogo que, especialmente para novatos no estilo, não dá para ter pressa. A curva de aprendizagem dos golpes e combos é um pouco mais lenta e há muito o que se prestar atenção até se criar uma “memória muscular” das ações. Então, jogue no seu tempo.

Se algo estiver te estressando muito (tipo 90% das vezes), pare um pouco, respire, volte outra hora e repita. Tem funcionado comigo, ao menos, e evitado que eu gaste dinheiro comprando outro controle – que quase voou na parede algumas vezes.

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Depois de muita frustração, a sensação de matar um inimigo é praticamente a de atingir o nirvana de tanta felicidade (que dura pouco, porque tem mais dor e sofrimento à frente). Mas você se sente, naquele momento, inexplicavelmente orgulhoso de si. Há uma boa quantidade de locais a explorar, desbloquear habilidades e personalizar. Você também pode criar guerreiros com estilos diferentes, descobrindo novas formas de jogar.

Depois do sucesso de Sekiro, Nioh 2 veio para representar com louvor os Souls-like. O gameplay é o grande astro deste game, como assim deve ser. Extremamente difícil e punitivo, ele será um exercício à sua paciência, mas com um grande pote de ouro no final e a sensação de dever cumprido. Ah, quando terminar, continue nele… Tem mais coisa.

Prós

  • Os combates são igualmente complexos e incríveis
  • Você continua jogando, mesmo comendo o pão que o yokai amassou
  • Inclusive, o modo yokai é uma das melhores adições do game
  • O modo online, tanto para pedir ajudar quanto para enfrentar outros jogadores, funciona bem

Contras

  • Muitos menus e sub-menus confundem, principalmente no início
  • A história meio que passa batida, dado todo o engajamento do gameplay
  • O gerenciamento excessivo de itens pode assustar alguns jogadores
  • Está bem longe de ser um game amigável com novatos
Nota Final 9
Áudio
8
Desafio
10
Diversão
10
Inovação
8
Jogabilidade
10
Replay
9
Visual
8

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Vivi Werneck

Vivi Werneck

Ex-editora assistente

Vivi Werneck é especialista em games e trabalha no mundo tech há 15 anos. Em 2018, recebeu o Prêmio Comunique-se como melhor jornalista de tecnologia. Já escreveu para revistas de games pioneiras no Brasil, como EDGE, PlayStation Brasil e EGW. Também é veterana em eventos de jogos, como a BGS e E3 (inclusive, presencialmente). No Tecnoblog, foi editora-assistente entre 2018 e 2023.

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