A maior atualização do Wi-Fi em décadas foi aprovada nesta quinta-feira (23) nos Estados Unidos pela Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), equivalente à nossa Anatel. O órgão autorizou o uso do Wi-Fi na frequência de 6 GHz, o que deverá ampliar tanto a velocidade quanto a confiabilidade da conexão sem fio nos futuros roteadores.
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O anúncio é bem técnico, mas imagine o seguinte: existe uma quantidade finita de frequências que uma transmissão sem fio pode utilizar. Até então, o Wi-Fi tinha autorização para funcionar em 2,4 e 5 GHz. No Brasil, por exemplo, é permitido utilizar 20 MHz de espectro (o “pedaço” da frequência) em um dos 13 canais de 2,4 GHz. O que acontece se todos estiverem sobrecarregados? Isso mesmo: seu Wi-Fi sofre interferência e você fica puto porque a internet não funciona direito.
A interferência em 5 GHz tende a ser menor porque há mais canais e espectro disponível para o Wi-Fi e porque menos dispositivos são compatíveis com essa frequência, dificultando que um telefone sem fio, uma babá eletrônica ou outro eletrônico prejudique o sinal do seu roteador.
Uma frequência nova para o Wi-Fi: 6 GHz
Então chegamos ao novo Wi-Fi de 6 GHz: ele será utilizado pelos novos roteadores e dispositivos com Wi-Fi 6E. A regulação do uso do espectro muda de acordo com o país e, no caso da FCC, a aprovação de uma nova frequência para o Wi-Fi tradicional não acontecia desde, ahn… 1999, quando a conexão de rede sem fio se tornou realidade no Apple iBook. (Até existe o Wi-Fi de 60 GHz, mas seu uso é bem diferente.)
Com a banda de 6 GHz, pelas regras da FCC, haverá 1.200 MHz de espectro adicional para a transmissão de Wi-Fi, que acontecerá entre as frequências de 5,925 GHz a 7,125 GHz. Para além das especificações técnicas, isso significa que o Wi-Fi terá mais espaço para trabalhar e, portanto, menos interferências por sobreposição de canais ocorrerão.
Inicialmente, a tecnologia não alcançará taxas de transferência mais altas: o Wi-Fi 6E suporta um limite teórico por volta de 10 Gb/s. Não que seja ruim, mas é basicamente o mesmo do Wi-Fi 6 (802.11ax) nas frequências já liberadas. Mas isso pode ser aumentado futuramente com as otimizações do próprio Wi-Fi, como já aconteceu ao longo dos últimos anos: o antigo Wi-Fi 802.11b chegava a 11 megabits por segundo e até o Bluetooth passa disso hoje em dia.
E, com sete canais contínuos de 160 MHz disponíveis para uso, é mais fácil ampliar a capacidade do Wi-Fi: até então, com os cerca de 400 MHz de espectro disponíveis, só cabiam dois canais com esse tamanho. A expectativa da Wi-Fi Alliance é que o Wi-Fi 6E permita maior resolução de streaming de vídeos, menor latência para games e downloads mais rápidos para os segmentos de educação e saúde, além de ampliar as possibilidades com headsets de realidade aumentada (AR) e virtual (VR).
É claro que as coisas não são tão simples. Como já expliquei, o uso do espectro depende do órgão regulador de cada país. No caso da União Europeia, a expectativa é liberar 500 MHz de espectro na faixa de 6 GHz até o final de 2020, ou seja, menos da metade da frequência que estará disponível nos Estados Unidos — mas o suficiente para mais que dobrar a transmissão do Wi-Fi existente.
No Brasil, a Anatel já possui regras para uso da faixa de 6,430 GHz a 7,110 GHz, destinada a serviços de comunicação via satélite. Nós entramos em contato com a agência para questionar o impacto na regulação do Wi-Fi 6E e o andamento dos estudos para essa banda. Não havia posicionamento até a última atualização deste texto.
Os primeiros dispositivos oficialmente certificados para o Wi-Fi 6E, que trabalharão nas frequências de 2,4 GHz, 5 GHz e 6 GHz, serão lançados no início de 2021.
Comentários da Comunidade
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Fiz login só para parabenizá-lo pela matéria. O Paulo Higa citou até a Resolução da Anatel de 2008, mostrando que a adoção do novo padrão de wi-fi pode não ser tão simples no Brasil.
Incrivel. Texto completíssimo mesmo. E, ao mesmo tempo, objetivo. Perfeito.
Parabéns pelo texto, Paulo. Gostei do “puto” no texto. É essa porra mermo! Screenshot_20200423-182503_Samsung Internet713×118 18.8 KB
O wifi de 800MHz foi direto pra gaveta mesmo!? Nunca mais falaram sobre
Ótimas notícias e, pra variar, mais uma excelente matéria aqui no Tecnoblog. Texto fácil de entender até para os menos chegados em termos técnicos.
Só de ter mais alternativas ao 2.4GHz também usado pelo Bluetooth (muitos devices ficam com internet capenga se usar fone bluetooth enquanto navega… principalmente os mais baratos)
Continuando a discussão do Por que o Wi-Fi acaba de receber a maior novidade em décadas:
Muito legal, o pessoal aqui só elogia, mas será que sou o único que não viu tanta vantagem na rede Wi-Fi de 5ghz? Aqui minha Oi Fibra de 5ghz não tem muito alcance, não chega a 3 cômodos de onde está o modem/router. E pelo que pesquisei isso é assim mesmo. Qual a vantagem de se ter uma frequência mais “estável” e mais veloz, se ela tem pouco alcance? Acho que é melhor baixar um pouco a bola antes de dar saltos de alegria e testar a nova tecnologia.
Física básica - frequências mais altas têm alcance menor. Comprimento da onda menor.
Não tem como alterar isso.
No caso de redes 5G, ou esses wi-fi de 5 ou futuramente 6Ghz, teremos q ter mais equipamentos para cobrir a mesma área coberta, por exemplo, pela frequência de 2,4Ghz. Com amplitude menor.
5Ghz são mais canais disponíveis, para mais velocidade e mais gente pendurada, reduzindo interferência, dentre outros fatores.
No link abaixo fala um pouco sobre ondas milimétricas, aplicadas ao 5G. Mas o princípio serve pro wifi tb.
A galera não tem que entender de calão técnico, só quem é da área. Daí que a Apple funciona muito bem (e não tenho nenhum, mas conheço) porque quando lançam algo e dizem que é mais rápido, isso é o que a maioria quer saber. Se a mim me dizem que o router X usa a última tecnologia e é mais rápido e o meu PC ou celular tem essa tecnologia para aproveitar, acha que a maioria quer saber que funciona na banda não-sei-o-quê?
isso porque os drivers ou aparelhos não são bons. Eu uso uns por Bluetooth, meu teclado e rato também, a cam de criança também, um celular também; o resto vai por 5 GHZ e no entanto tudo funciona bem. Porquê? O router detecta quais os canais em 2.4 GHz cheios e fixos (teclado, rato, fones) e muda o resto para outro canal (celular, cam de criança, assim está tudo bem. Se o seu router não é bom, fica tudo no mesmo canal e dá interferência
Enquanto isso, tem fabricante lançando smartphone sem wifi 5.0GHz em pleno 2020. Não vejo o 802.11ax (6GHz) se popularizando tão cedo.
Excelente matéria, Higa!
Um ponto que ninguém comentou aqui até agora é o fato de parte da banda de 6GHz já estar sendo usada no Brasil para serviços de comunicação via satélite.
Não sei, mas se é uma aplicação tão diferente de, por exemplo, uso residencial, porque eu não poderia comercializar dispositivos Wi-Fi 6E no Brasil para essa finalidade?
Existem regras para o uso de cada frequência em cada país. Quem define isso no Brasil é a Anatel. Daí a necessidade de homologar todo roteador, celular, telefone, etc., que é comercializado aqui.
Em tese daria para usar sim, mas aí tem que ver o que os estudos da Anatel vão concluir.
Matéria incrível! E a parte do “puto” é uma verdade universal mesmo!
Que era física básica eu ja sabia, mas isso não anula o que eu falei. Também sou fã de tecnologia e aprecio as novidades, mas não saio dando saltos de alegria, esse é o ponto. Não vejo muita vantagem, na minha casa a frequência 2.4 Ghz nunca deu problemas e tem longo alcance. Me serve muito bem. A de 5ghz so funciona em um quarto e na sala adjacente. Na teoria vc pode até dizer que foi uma evolução, mas na prática é outra coisa, não há como contestar isso.
Uma coisa boa do wifi 5GHz é que por ter alcance menor, isso evita interferências com o wifi do seu vizinho. E como a grande maioria (uns 99,99999%) das pessoas não sabe configurar corretamente o wifi… o menor alcance evita problemas.
Aqui vai uma descrição prática do porque do menor alcence ser algo bom.
Onde trabalho, temos wifi cobrindo a empresa inteira (50 antenas ubnt implantadas em 2015). Quando muito você conseguia ter 200 usuários conectados de forma simultânea.
Os problemas que existiam eram: baixa velocidade de uso (down/up) mesmo ligado a um link dedicado e simétrico de 100 Mbps, interferência com o wifi de prédios vizinhos, todos xingando o wifi.
Em 2016 já puto da vida com os problemas do wifi, fui atrás de conhecimento sobre o assunto. Pesquisa daqui, pergunta ali e fui entendendo como funciona as coisas.
Final de 2016, refiz a rede do zero. Configurei todos as antenas com potência em LOW, canais fixos (1, 6 e 11 caso use a frequência 2,4GHz), evitando interferências entre antenas e limitando o download/upload em 4 Mbps por usuário. Gastei apenas 10 dias nessa reconfiguração.
Hoje, se você visualizar a rede temos os seguintes dados:
72 antenas.
A quantidade de usuários conectados simultaneamente varia de 700 a 1400.
Wifi de prédios vizinhos não causam problemas/interferências. Antenas não brigam entre si.
Independente do horário, qualquer um consegue usar o máximo da velocidade (limitado nos 4 Mbps) e o link que alimenta tudo foi reduzido para 50 Mbps sem apresentar gargalos na rede.
Usuários felizes.
A culpa é do usuario se as empresas de internet não explicam (e ainda vêm com as redes com nomes que mais confundem o cliente do que ajudam) e o próprio consorcio do wifi dava nomes extremamente confusos?
Não sei onde isso é exclusividade do Brasil, claramente não assistiu o video do Linus atualizando o wifi da casa de férias hahaha
verdade
no ambiente doméstico talvez isso não afete tanto, provavelmente todo mundo vai estar usando mesh não demora muito
no caso do 5G a coisa não é tão simples, provavelmente ainda demore alguns anos até que as operadoras invistam nas antenas, mas acho que mesmo assim vai ser mais fácil ter pontos cegos na rede
é de se notar que o hype em cima do 5G nunca cita essas deficiências…
Esse https://www.youtube.com/watch?v=JCz1DeM_7aM ?
Não, esse: https://youtu.be/XUBdUJjgmQY
Isso eu também faço… não dá problema nenhum. Tenho 16+ dispositivos conectados (notebooks, pcs, celulares, tablets, tvs, vgs, etc) simultaneamente no meu wireless router da ASUS… Todos funcionando de forma decente. (E olha que é um ASUS RT-AC51U, bem lowend… paguei acho que 50 na época…)
O problema é o seguinte: Se eu conecto o fone bluetooth que eu tinha no Redmi 7/Lenovo Tab3 8"/Galaxy J3/Galaxy A10/ASUS ZenFone 4/etc, a internet do dispositivo que está conectado ao Bluetooth fica uma caca… todo o resto continua decente.
Tens que ver nas propriedades / settings da placa de Wifi / Bluetooth do computador, possivelmente não está a fazer a alteração de canal automaticamente ou com celeridade suficiente. Também pode acontecer que a placa seja apenas uma WIFI + Bluetooth e a antena de 2.4 GHz do WIFI e Bluetooth sejam partilhadas, então quando o bluetooth está a ser usado, tens problemas. Isso acontece em placas baratas (Acer usa muito estas por ex.).
Mas o que quero dizer é que num caso normal (com placas WIFI/Bluetooth razoáveis) isso nao é um problema.
O ideal é ter um Router “AC” ou “AX” (na Europa por 40 - 120€) e um portátil com placa pelo menos “AC”. Logo voce deixa as webcam, teclados e ratos em 2.4 GHz (bluetooth, wifi até “n”) e deixa os PC / Laptop / Celular novos em 5GHz (“ac” ou “ax”)
Pois é, esse problema acontece mais nos celulares/tablets (maioria os intermediário/entrada). Já no PC, a internet fica ligeiramente pior, mas não uma carroça completa. Já no note, não tenho costume de usar o bluetooth.
Problema da tecnologia mais recente é que ela está meio salgada no momento. 120 euros (em conversão direta) dá 733 reais. uns 70-75% do salário minimo. hahaha (O real tá com uma cotação pra lá de zoada por causa do covid…) e ainda tem imposto e imposto para somar no preço. (viva o custo Brasil)
Alias, acho que fora os Lenovo Tab3, nenhum outro dispositivo é compativel com o 5GHz aqui. hahaha
Sim você tem razão, a tecnologia no Brasil é muito cara e os salários baixos. Às vezes compensa comprar algo usado em bom estado. Um router “ac” se encontra usado por uns 80 reais e garanto que é uma diferença grande.
Não acho q isso é desorganização do Brasil. O problema mesmo é pq o Brasil não é polo de criação de nada e ficamos dependente de tecnologia de outros países que foram criadas pensando na realidade de lá, e não daqui. O mesmo problema tá acontecendo na UE tanto no novo Wi-Fi, quanto no novo 5G.
Eu tbm não vejo isso como um problema. Acho q a tecnologia deveria ser simples pra todos. As pessoas deveriam automaticamente se conectar na melhor rede disponível.
Só aguardando os céticos virem falar que o novo WiFi causa câncer.