CES pode ter sido foco de contaminação da COVID-19

Executivo que participou da CES 2020 testa positivo para exame de anticorpos; ele teve sintomas logo depois da feira

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
CES

Deixa eu contar uns bastidores: a CES, maior feira de eletrônicos do mundo, é uma correria que só. E todo mundo que vai para lá com frequência já voltou meio destruído, com sintomas de gripe — isso já aconteceu comigo em pelo menos dois anos. Só que a edição de 2020 pode ter sido excepcional: um relato dá conta de que o evento de Las Vegas foi um dos primeiros focos de contaminação da COVID-19 nos Estados Unidos.

A CES 2020 ocorreu em Las Vegas entre 7 e 10 de janeiro, antes da data que as autoridades americanas acreditam ter ocorrido o primeiro caso de coronavírus nos Estados Unidos, em 15 de janeiro. O evento reuniu 170 mil pessoas, o que inclui participantes da China e mais especificamente de Wuhan: eram mais de 100 vindos da cidade identificada como o epicentro inicial da doença.

Agora, a American Public Media relata a “primeira evidência clara de que o vírus provavelmente estava circulando na conferência”. Segundo o veículo, Michael Webber, chefe de ciência e tecnologia na Engie, multinacional francesa de energia e infraestrutura, testou positivo para o exame de anticorpos do novo coronavírus, indicando que ele foi infectado e se recuperou da doença.

Aeroporto de Las Vegas “parecia uma enfermaria”

Webber divide seu tempo entre o trabalho como executivo da companhia de energia em Paris e como professor da Universidade de Texas em Austin. Quando a CES acabou, ele retornou para a França depois de ficar no aeroporto por horas esperando seu voo de conexão para Londres. O próprio Webber, naquele dia, tweetou que o lounge do aeroporto de Las Vegas “parecia uma enfermaria”.

Então, no dia 11 de janeiro, um dia depois do encerramento da CES, Webber se sentiu mal em sua casa em Paris: ele estava com sintomas de uma forte gripe, incluindo dor de cabeça, febre e dificuldade de respirar. Seu chefe, que também participou da feira, ficou igualmente doente.

Coincidência? Bom, a American Public Media reuniu tweets a partir de 10 de janeiro de pessoas que tiveram sintomas de gripe após participarem da CES 2020. “Mais alguém sofrendo da gripe de Vegas depois da CES ou sou só eu?”, disse um. “OMG, nossa equipe inteira pegou a gripe da CES!”, comentou outro. Mais um: “Com a gripe da #CES2020. Eu durmo e fico com sonho febril, suor frio e calafrios”.

Não há como ter certeza de que o vírus já circulava na CES 2020, uma vez que a disponibilidade de testes era baixa ou inexistente quando os participantes, vindos de mais de 160 países, relataram os primeiros sintomas. Mas Webber, que fez o teste de anticorpos com resultado positivo apenas em abril, não viajou nem ficou doente nesse meio tempo.

Embora os relatos sejam muito claros, como já disse, a CES pode não ter espalhado exatamente a COVID-19, mas sim outro tipo de gripe — afinal, janeiro é temporada de gripe no hemisfério norte. De qualquer forma, essas informações novas só nos levam a concluir que: 1) não somos capazes de saber nem quando e nem onde a doença começou de verdade; 2) a subnotificação de casos é assustadora.

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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