Signal não tem políticas contra uso indevido, alertam funcionários

Com forte crescimento após polêmica de privacidade do WhatsApp, Signal pode não estar preparado para conter uso abusivo

Ana Marques
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Signal
App Signal (Imagem: Dimitri Karastelev/Unsplash)

O Signal registrou forte alta no número de usuários após as polêmicas envolvendo privacidade do WhatsApp. O crescimento repentino provocou diversas mudanças na companhia: desde a contratação de mais braços para a equipe até a implementação de novos recursos. Mas um ponto muito importante parece não estar sendo abordado com a devida atenção: as políticas contra o uso indevido da plataforma.

De acordo com funcionários da empresa, o Signal não está preparado para conter conteúdo abusivo, como mensagens que promovem mensagens extremistas e desinformação, por exemplo – as informações são de uma reportagem do The Verge. Enquanto outros mensageiros e redes sociais vêm trabalhando constantemente em moderação e recursos para evitar o uso indevido de suas ferramentas, o Signal não parece interessado no assunto por enquanto.

“O mundo precisa de produtos como o Signal – mas também precisa que o Signal seja cuidadoso”, ponderou Gregg Bernstein, um ex-pesquisador que deixou a organização neste mês por causa de suas preocupações. “Não é só que a Signal não tenha essas políticas em vigor. Mas eles têm resistido até mesmo em considerar como uma política pode ser”.

De acordo com pessoas que trabalham na Signal Foundation e com ex-funcionários, os avisos sobre potenciais riscos relacionados a recursos do mensageiro que podem ser explorados por terceiros mal-intencionados foram, em grande parte, ignorados. O foco do Signal, segundo esses profissionais, é atingir a meta de 100 milhões de usuários ativos para que o serviço se torne autossustentável.

Signal foca em privacidade, mas esquece moderação

O levantamento feito pelo The Verge aponta para a preocupação excessiva com privacidade por parte da fundação, revelando uma ponta descoberta no planejamento da organização: sua responsabilidade sobre o conteúdo que é disseminado.

Com o uso de criptografia de ponta a ponta, nem mesmo o Signal é capaz de ver as mensagens trocadas na plataforma – assim como acontece no WhatsApp – dificultando investigações para remover publicações que desrespeitem os termos de uso do serviço.

No entanto, enquanto o mensageiro sob o guarda-chuva do Facebook tem prestado esclarecimentos periódicos sobre seu trabalho contra fake news e contra as verdadeiras máfias de bots que dominam a internet, o Signal parece engatinhar nesse quesito, se mostrando desatualizado nos embates atuais sobre empresas de tecnologia que se tornam, na prática, empresas de conteúdo, ainda que não queiram ser vistas dessa forma.

Durante a corrida presidencial dos EUA, há algumas semanas, a chefia do Signal recebeu questionamentos referentes à moderação de conteúdo. Um deles sugeria a hipótese de que o mensageiro pudesse ser utilizado por um grupo extremista para coordenar violência, e indagava ao CEO Moxie Marlinspike sobre qual seria a reação do serviço em uma situação dessas.

Marlinspike disse que alguma atitude será tomada “se e quando as pessoas começarem a abusar do Signal ou a fazer coisas que a organização considera terríveis”. Isso quer dizer que, na verdade, não há uma estratégia de prevenção para um assunto tão importante quanto este, o que gera mais uma dúvida: até que ponto o mensageiro é uma boa alternativa ao WhatsApp, considerando o longo prazo?

Se você ainda não decidiu qual app de mensagens usar, leia o nosso artigo “WhatsApp, Signal ou Telegram; preciso mudar de mensageiro?”.

Com informações: The Verge

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Ana Marques

Ana Marques

Gerente de Conteúdo

Ana Marques é jornalista e cobre o universo de eletrônicos de consumo desde 2016. Já participou de eventos nacionais e internacionais da indústria de tecnologia a convite de empresas como Samsung, Motorola, LG e Xiaomi. Analisou celulares, tablets, fones de ouvido, notebooks e wearables, entre outros dispositivos. Ana entrou no Tecnoblog em 2020, como repórter, foi editora-assistente de Notícias e, em 2022, passou a integrar o time de estratégia do site, como Gerente de Conteúdo. Escreveu a coluna "Vida Digital" no site da revista Seleções (Reader's Digest). Trabalhou no TechTudo e no hub de conteúdo do Zoom/Buscapé.

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