Calculadora de impacto ambiental de NFTs acaba devido a “abuso e assédio”

Plataforma que estima emissões de carbono de NFTs é desligada após informações serem usados para "abusos e assédio"

Bruno Ignacio
Por
• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Energia fóssil e barata atrai mineradores de criptomoedas (Imagem: metropole ruhr/Flickr)
NFTs consomem grande quantidade de energia e deixam pesadas pegadas de carbono (Imagem: metropole ruhr/Flickr)

A Cryptoart.wtf, uma calculadora online que estima o impacto ambiental de arte criptografada, está sendo desligada. O motivo, segundo o próprio criador da plataforma, Memo Akten, é que suas informações foram usadas como “uma ferramenta de abuso e assédio”. O site providenciava estimativas de emissões de carbono sobre os registros e transações de NFTs, ou tokens não fungíveis, hoje muito utilizados no crescente mercado de arte digital.

Na última sexta-feira (12), o site publicou um comunicado oficial dizendo que informações sobre os prejuízos ecológicos que a criptoarte causam deveriam ser públicas e facilmente acessíveis por todos. Akten comparou seu trabalho à mesma contabilização que existe hoje das pegadas de carbono da produção de smartphones e até mesmo de serviços de streaming de vídeo.

Artistas digitais teriam se tornado alvos

Mesmo contra sua filosofia, Akten decidiu encerrar as atividades do site. Segundo ele, foram cometidos abusos e assédios morais com as informações providas pela Cryptoart.wtf. Ele não chegou a especificar ou exemplificar quais tipos de atos foram esses. Porém, como artista digital e programador, o teor de sua declaração indica que possivelmente aqueles que venderam suas obras de arte como tokens não fungíveis, ou NFTs, se tornaram alvos na internet.

Eu apoio artistas e nós deveríamos apoiar um ao outro… Nossas discussões não deveriam ser sobre comparar indivíduos. Eu acredito que temos a responsabilidade de ser críticos aos negócios cujos valores são opostos ao que queremos ver avançando, enquanto simultaneamente trabalhamos para construir e apoiar plataformas que evitam causar danos sem sentido ao nosso planeta.

Memo Akten, criador da Cryptoart.wtf

Criptoarte e as emissões de carbono

Enquanto estava ativa, a Cryptoart.wtf permitia que qualquer usuário rastreasse as emissões de carbono associadas a qualquer NFT, a tecnologia em blockchain mais utilizada hoje em dia para garantir a originalidade e exclusividade de obras de arte digitais. O próprio termo “criptoarte” foi implementado diante desse crescente movimento.

Mas afinal, como que uma obra de arte digital pode ser responsável por poluir o planeta? Assim como funcionam as criptomoedas, tokens não fungíveis são um registro permanente, imutável e criptografado em uma rede blockchain.

Essa tecnologia não é centralizada, ela exige que múltiplos computadores ao redor do mundo cedam seu poder de processamento para executar numerosos protocolos e cálculos tanto na criação de um NFT, quanto em cada vez que ele é movimentado de uma carteira digital para outra.

Todo esse processo consome energia. Tipicamente, as redes utilizadas para processar e registras NFTs são as mesmas de criptomoedas, como a ethereum, da moeda digital ether (ETH). Isso significa que toda vez quem uma obra de arte digital é criada como um token não fungível e sempre que ele for comprado e revendido, uma certa quantidade de energia será gasta.

NFTs da cantora Grimes geraram 79 toneladas de CO2

“Gods in Hi-Res", arte digital em NFT criada por Grimes (Imagem: Divulgação)

“Gods in Hi-Res”, arte digital em NFT criada por Grimes (Imagem: Divulgação)

Como um exemplo prático, a plataforma Cryptoart.wtf revelou o impacto ambiental estimado causado pela venda de centenas de NFTs da cantora Grimes. A artista registrou 303 edições de um curto vídeo como tokens não fungíveis e vendeu cada um por US$ 7.500.

A venda consumiu no total 122,416 kilowatts-hora de eletricidade, que equivale a aproximadamente 79 toneladas de dióxido de carbono na atmosfera emitidos por usinas elétricas. Essa mesma quantidade de energia poderia alimentar uma residência comum europeia por 34 anos.

Com informações: Gizmodo

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

Relacionados