Um olhar sobre a certificação de aparelhos e homologação da Anatel, parte 2

Rafael Silva
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• Atualizado há 6 dias

(Quando consultei o Ibrace sobre o processo de certificação, acabei sendo convidado por eles para ir em um dos laboratórios afiliados para conhecer os aparelhos que eles usam para fazer os testes. Como o laboratório fica em Campinas e eu em Vitória, ficou meio difícil. Por sorte, o nosso redator João Brunelli mora perto de Campinas então pedi a ele que fosse no meu lugar. O cara voltou cheio de fotos e com a entrevista de Alexandre Sabatini, diretor comercial do Ibrace, que detalhou os testes pelos quais os aparelhos passam. Confira logo abaixo a reportagem e no final do post a galeria de fotos.)

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Visão externa da câmara de testes

A norma da Anatel é basicamente uma tradução da norma norte-americana, mas isso não é um demérito: não são raros, em outros segmentos, histórias de produtos de qualidade diferenciada destinados a mercados mais evoluídos, enquanto os celulares vendidos no Brasil seguem o mesmo padrão dos vendidos na Europa e nos EUA. Mesmo assim, a norma nacional é mais rigorosa que a estrangeira sob alguns aspectos, principalmente os elétricos: “as fontes tipo 1, aprovadas para serem usadas na rede residencial dos EUA, por exemplo, não são usadas no Brasil por conta de riscos de incêndio”, diz Alexandre.

Existem três categorias de certificações. A categoria I é destinada a aparelhos de consumo final, como celulares ou modems, por exemplo, e sua licença precisa ser renovada a cada 12 meses, o que raramente acontece com os telefones: “Os aparelhos costumam ficar pouco tempo no mercado, e assim é raro que suas certificações sejam renovadas. Geralmente eles saem de linha antes”, conta Sabatini. Já a categoria II é destinada a equipamentos que emitem uma grande quantidade de radiofrequência, como roteadores WiFi ou antenas, por exemplo, e sua licença é válida por dois anos. A categoria III, por sua vez, é destinada basicamente a equipamentos de telecomunicação, como estações de telefonia celular, e sua licença tem validade indeterminada: “esses equipamentos são enormes, e uma vez tivemos que ir para o Japão testar um aparelho maior que a maioria das câmaras de testes de todo o mundo”, completa.

Visão interna da câmara de testes
Visão interna da câmara de testes

Os testes são realizados em laboratórios de certificação e o CertLab, um desses laboratórios, recentemente concluiu a construção de sua câmara de testes, a quarta do país e a primeira feita sem investimentos públicos. Nela, os aparelhos são submetidos a bombardeios de radiofrequências e deve sobreviver a elas sem perder sinal.

Também há testes de resistência elétrica, que verifica se o aparelho pode causar algum risco ao ser deixado na tomada e o SAR (Specific Absorption Rate, ou taxa de absorção específica), que mede a contaminação do corpo pelas ondas de rádio e que acabou com aquela lenda que telefones podiam causar câncer. Para realizar este teste, um braço mecânico fica em torno de uma espécie de pia com o formato de uma cabeça humana, cheio de um líquido que simula nossos orgãos internos e existe um líquido adequado para conferir como nosso corpo reage a cada frequência (850mHz, 900mhz, 1800mhz e 1900mhz).

Tecnoblog: Qual a importância da certificação?
Alexandre Sabatini: Garantir que o produto esteja de acordo com as normas da Anatel e ofereça segurança para o consumidor final.

TB: Quanto tempo um aparelho demora pra ser certificado
Alexandre: Depende, mas um telefone demora cerca de 30 dias para ser certificado.

TB: Quando o iPhone foi lançado, diversos aparelhos foram importados para o Brasil de maneira informal, sem certificação. Existe algum risco nisso?
Alexandre: Não exatamente. Apesar de ser o mesmo aparelho à venda nos EUA, o primeiro iPhone nunca foi testado no Brasil, então eventualmente um ou outro detalhe poderia ser revisto. O problema são os chineses, que muitas vezes são vendidos sem qualquer certificação, mas já aprovamos dois modelos.

TB: Desses com dois chips e televisão embutida?
Alexandre: Sim, esses mesmos.

TB: E o que pode acontecer se uma loja for flagrada vendendo equipamentos são certificados?
Alexandre: Os produtos são apreendidos e a Anatel aplica uma multa, que pode ser bem pesada. Há um tempo eles foram a uma exposição no Anhembi e fecharam vários stands que vendiam aparelhos sem documentação por exemplo. Se uma operadora for pega vendendo aparelhos não-certificados, ela poderá sofrer processos e até mesmo perder sua concessão.

TB: A legislação da Anatel sofre evoluções?
Alexandre: Sim, várias. A mais recente é um teste de SAR para conferir a taxa de absorção das ondas WiFi pelo corpo, feita pensando naquelas pessoas que usam o computador no colo.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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