Regra do Facebook para avaliar conteúdo ficou “perdida” por três anos

Em 2017, Facebook criou diretriz interna para moderar discussões sobre presos políticos; Comitê de Supervisão diz que rede “perdeu” essas regras há 3 anos

Pedro Knoth
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
Facebook
Facebook app (Imagem: Thomas Ulrich/Pixabay)

O Facebook “esqueceu” parte significativa de sua política para avaliar conteúdos postados em suas plataformas. A regra, que também inclui o Instagram, se perdeu em uma transferência para os novos termos e condições de uso, atualizados em 2018. O erro foi apontado em um relatório do Comitê de Supervisão.

Comitê de Supervisão do Facebook descobriu erro

O comitê, que atua de forma semi-independente ao Facebook, só descobriu o erro da rede social depois de avaliar o pedido de um usuário que teve seu post banido no Instagram.

A postagem incentivava usuários da plataforma a debaterem sobre o confinamento em solitária do preso político Abdullah Öcalan, fundador do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), atualmente preso na Turquia.

A rede social considera que Öcalan e o PKK são organizações extremistas, e por isso impediu usuários de demonstrarem apoio ao post. Um time de moderadores do Instagram aplicou a política de uso e baniu o conteúdo, o que levou o autor da publicação a recorrer ao Comitê de Supervisão.

Manifestação em favor da soltura de Abdullah Öcalan (Imagem: PASCAL.VAN/ Flickr)

Manifestação em favor da soltura de Abdullah Öcalan (Imagem: PASCAL.VAN/ Flickr)

Ao ser obrigado pelo conselho a revisar o caso, o Facebook descobriu que uma parte de sua política de uso estava “faltando”. A transferência das regras em ocasião nunca foi realizada; a rede está moderando suas plataformas há três anos sem o conjunto de normas completo.

Regra “perdida” do Facebook foi criada em 2017

As orientações que faltavam eram justamente sobre “Organizações e Indivíduos perigosos”, elaborada em 2017, com enfoque para moderar discussões de casos como o da prisão de Öcalan. A regra perdida diz: “permite-se a discussão na condição de confinamento de indivíduos designados como perigosos.”

Mas esse tipo de política de moderação é interna e nem o Facebook ou o Instagram a tornaram pública até a revisão do Comitê de Supervisão. 

“Se o Comitê não tivesse revisado este caso em particular, as diretrizes teriam permanecido um mistério para moderadores de conteúdo, e uma quantidade de mensagens de interesse público teria sido removida”, disse o órgão. Ele também expressou séria preocupação com o fato de o Facebook ter perdido parte de suas regras por três anos sem reconhecer o erro.

Facebook deve ser mais transparente, diz Comitê

Os posts apagados do Facebook a partir de uma política de moderação incompleta também preocupam o Comitê de Supervisão. Mesmo com a rede reativando a postagem sobre o cárcere de Öcalan em abril — prisão que a ONU considera uma forma de tortura do governo turco.

A possibilidade de prejudicar o debate público faz com que o Comitê de Supervisão do Facebook recomende que o Facebook seja mais transparente sobre as políticas de moderação da rede. A empresa vai averiguar o motivo de ter havido falha na transferência das orientações em 2018.

Em outra sugestão, o Facebook é aconselhado a investigar sua base de dados para averiguar se há mais partes da lista de regras que se perdeu. A rede social não comentou sobre o caso.

A plataforma de Mark Zuckerberg poderia ser completamente diferente caso aplicasse as regras que perdeu há três anos? É improvável, mas o caso apenas reforça a importância do Comitê de Supervisão para impedir que a empresa evite “esquecer” normas.

Por fim, o órgão semi-independente afirma que ocultar as normas usadas para banir conteúdos no Instagram e no Facebook em grande escala pode levar a uma comunicação interna ruim, o que provoca erros como este.

Com informações: The Verge

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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