Chefe do WhatsApp rebate grupo que vende Pegasus para espionar celulares

Will Cathcart, CEO do WhatsApp, afirma que vê semelhanças entre os ataques sofridos pelo app mensageiro em 2019 e as invasões do software espião Pegasus em 2021

Pedro Knoth
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
WhatsApp (Imagem: Jeso Carneiro/ Flickr)
CEO do WhatsApp diz que tem provas de que NSO Group está por trás do ataque de 2019 (Imagem: Jeso Carneiro/Flickr)

O recente ataque de celulares pelo malware Pegasus, que é alvo de uma investigação de jornalistas e da Anistia Internacional, é semelhante a uma invasão de 2019 a 1.400 usuários do WhatsApp, segundo Will Cathcart, CEO da plataforma. O NSO Group, que vende o spyware no mercado, afirma que o número de alvos vazado na imprensa — mais de 50 mil dispositivos — é um “exagero”. Cathcart disse ter provas de que a empresa está por trás dos ataques de dois anos atrás.

Chefe do WhatsApp diz que Pegasus atacou 1.400 usuários

Em entrevista ao The Guardian, o CEO do WhatsApp diz que as invasões mais recentes do Pegasus são parecidas com o que o app enfrentou há dois anos.

O ataque a que Will Cathcart se refere foi executado em 2019 — em duas etapas diferentes do ano — e atingiu membros do alto escalão de governos ao redor do mundo, incluindo chefes de segurança nacional “aliados aos EUA”. Foram 1.400 alvos, e o NSO Group também esteve por trás desta invasão, segundo o executivo.

Por sua vez, o vazamento de 2021 inclui uma lista com mais de 50 mil possíveis alvos de vigilância do Pegasus, incluindo o fundador do Telegram, Pavel Durov, e 14 chefes de estado, entre eles o presidente da França, Emmanuel Macron.

Mas o NSO Group diz que esses dados “não têm relevância” para a companhia, e rechaçou a investigação feita pela Anistia Internacional e um grupo de jornalistas sobre o Pegasus como “cheia de alegações e teorias não corroboradas por fatos”. A empresa ainda chamou a estimativa de “exagerada”.

Entretanto, o chefe do WhatsApp diz ter provas de que o NSO Group tentou instalar o spyware em celulares de clientes e questionou o “exagero” na quantidade de alvos do Pegasus.

​​“Isso nos diz que por um longo período de tempo, que durou muitos anos, o número de pessoas atacadas é muito alto”, disse Cathcart ao Guardian. “É por isso que nós achamos que é tão importante conscientizar as pessoas sobre isso.”

A invasão em 2019 levou o WhatsApp a entrar na Justiça contra a empresa israelense, culpando-a por enviar o Pegasus a usuários. O juiz do caso apontou que o NSO não questiona essa alegação, e sim o fato de que a responsabilidade seria dos clientes “soberanos” e não da empresa — eles são obrigados por contrato a rastrear apenas criminosos e suspeitos.

“Governos estão financiando isso”, diz CEO do WhatsApp

Cathcart debateu os ataques da NSO ao WhatsApp com membros de vários governos ao redor do mundo. O executivo vem tentando provocar mudanças de grandes empresas de tecnologia sobre os riscos de seus aparelhos serem infectados por malwares e spywares.

Recentemente, Cathcart elogiou as mudanças que a Microsoft fez para defender seus usuários contra ataques de hackers — e chamou a atenção da Apple para fazer o mesmo.

Por fim, o CEO do WhatsApp diz que proteger cidadãos de espionagem digital também deve ser uma responsabilidade do estado:

“O NSO Group avisa que um grande número de governos está comprando seu software [Pegasus], o que significa que esses governos, mesmo que o usem de forma mais controlada, estão financiando isso [ataques e espionagem]. Eles devem parar? Deve haver uma discussão sobre quais políticos estão pagando por esse software?”

Um porta-voz do Grupo NSO diz ao The Guardian que a empresa está fazendo o “máximo para criar um mundo mais seguro”, e completa:

“O Sr. Cathcart tem outras alternativas para que polícias e agências de inteligência possam detectar e prevenir atos criminosos de pedófilos, terroristas e outros meliantes usando plataformas de criptografia ponta a ponta? Se sim, ficaríamos felizes em ouvi-lo.”

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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