Facebook cria polêmica ao banir equipe que estudava anúncios políticos

Políticos, acadêmicos e até a Mozilla criticaram o Facebook por banir dois pesquisadores da NYU que estudavam sobre campanhas de anúncios políticos

Pedro Knoth
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• Atualizado há 2 anos e 4 meses
App do Facebook (Imagem: Thomas Sokolowski/Unsplash)
App do Facebook (Imagem: Thomas Sokolowski/Unsplash)

Na divulgação de resultados trimestrais, o Facebook reiterou sua ferramenta de anúncios digitais continua sendo a “galinha dos ovos de ouro” do faturamento da empresa trilionária. Mas ela também é alvo das maiores polêmicas envolvendo a rede social: a mais recente diz respeito ao banimento de uma dupla de pesquisadores da NYU (New York University), que estudava como as propagandas políticas se espalham pela plataforma.

Pesquisadores da NYU usavam plugin, alvo da suspensão

O Facebook não faz checagens de anúncios políticos veiculados dentro de sua plataforma. Isso levou dois pesquisadores do Centro de Cibersegurança pela Democracia da NYU a desenvolverem um plugin chamado Ad Observatory.

O plugin — disponível no Google Chrome e no Mozilla Firefox — coleta dados de como anúncios políticos chegam aos usuários, e avaliam por que eles são alvos desse tipo de propaganda no Facebook. Todas as informações coletadas pelo Ad Observatory eram abertas a jornalistas e outros pesquisadores.

Mas a página foi tirada do ar. O Facebook não apenas suspendeu os dois pesquisadores, mas tirou do ar o perfil oficial do Ad Observatory e todos os envolvidos no projeto da NYU. Isso limita o acesso da pesquisa à Ad Library e ao CrowdTangle — duas ferramentas importantes para monitorar como os anúncios afetam compartilhamentos de postagens.

Facebook faz advertências à equipe desde 2020

A atitude drástica foi tomada após diversos avisos feitos aos pesquisadores, de acordo com um blog post escrito por Mike Clark, Diretor de Gerenciamento de Produtos do Facebook.

O executivo diz que a rede social decidiu banir a dupla da NYU porque o Ad Observatory fazia uma raspagem de dados sensíveis e que violam os termos de uso da plataforma, a privacidade dos usuários e as regulamentações impostas pela Comissão Federal de Comércio (FTC).

“Nós contatamos os pesquisadores um ano atrás, no verão de 2020, e dissemos que a extensão do Ad Observatory violaria nossos Termos mesmo antes da ferramenta ser lançada”, diz Clark. “Em outubro, nós enviamos a eles uma nota formal que avisava novamente sobre a violação dos nossos Termos de Serviço e demos o prazo de 45 dias para que cumprissem com nosso pedido de suspender a raspagem de dados. Esse prazo acabou no dia 30 de novembro […]”.

Senadores dos EUA e Mozilla criticam Facebook

Congressistas dos EUA reagiram com revolta à suspensão dos pesquisadores da NYU. O senador Roy Wyden (D-OR) usou o Twitter para chamar a atenção de que o motivo de proteção da privacidade para justificar o banimento é um blefe do Facebook.

“Depois de abusar da privacidade dos usuários por anos, é conveniente para o Facebook usar isso como desculpa para banir pesquisadores expondo os problemas da plataforma. Eu perguntei à FTC para confirmar que essa justificativa é tão absurda quanto parece” – @RonWyden

Já o senador Mark Warden avalia a decisão da rede social como “profundamente preocupante”:

“Já passou da hora do Congresso de agir e levar mais transparência ao mundo obscuro dos anúncios online, que continuam a causar fraudes e condutas criminosas”

A Mozilla, que disponibiliza o plugin do Ad Observatory, entrou na briga: o chefe de segurança da desenvolvedora, Marshall Erwin, afirmou em um post no blog oficial da companhia que a justificativa usada pelo Facebook para banir os pesquisadores “não para em pé”.

A companhia responsável pelo navegador conduziu diversos testes de segurança para certificar a extensão dentro do Firefox. A conclusão foi de que o Ad Observatory respeita a privacidade dos clientes e não coleta dados pessoais sensíveis de usuários do Facebook — apenas de anúncios e anunciantes.

O Facebook também afirma que a extensão coleta dados de usuários sem permissão, mas a Mozilla desmentiu isso também: “o Ad Observatory não raspa dados de seus amigos”, diz Erwin.

Com informações: The Verge [1], [2] e TechCrunch

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Pedro Knoth

Pedro Knoth

Ex-autor

Pedro Knoth é jornalista e cursa pós-graduação em jornalismo investigativo pelo IDP, de Brasília. Foi autor no Tecnoblog cobrindo assuntos relacionados à legislação, empresas de tecnologia, dados e finanças entre 2021 e 2022. É usuário ávido de iPhone e Mac, e também estuda Python.

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