Pirâmide do “faraó dos bitcoins” orientava clientes a ocultarem informações

Glaidson Acácio dos Santos, o "faraó dos bitcoins", foi formalmente acusado junto a mais dezesseis pessoas; denúncia do MPF revela achados das investigações

Bruno Ignacio
Por
• Atualizado há 2 anos e 2 meses
"Faraó dos bitcoins" Glaidson Acácio dos Santos (Imagem: Reprodução TV Globo)
"Faraó dos bitcoins" Glaidson Acácio dos Santos (Imagem: Reprodução TV Globo)

As investigações sobre a GAS Consultoria Bitcoin e suas operações que apelidaram Cabo Frio, no Rio de Janeiro, de “Novo Egito” continuam avançando. Glaidson Acácio dos Santos, “faraó dos bitcoins” e líder do suposto esquema de pirâmide financeira, foi formalmente denunciado junto a mais dezesseis pessoas nesta semana.

Os documentos do Ministério Público Federal revelaram, por exemplo, que a empresa instruía seus clientes a ocultarem informações sobre investimentos em criptomoedas para driblar fiscalizações.

GAS ocultava informações para evitar fiscalização

A denúncia do Ministério Público Federal contra o ex-garçom Glaidson foi obtida pelo Extra e afirma que a GAS Consultoria criou uma nova regra interna para o fechamento de contrato com clientes. Eles não poderiam fazer qualquer menção a criptomoedas em declarações ou justificativas sobre as transações bancárias relacionadas aos investimentos.

A determinação teria sido criada por Glaidson após algumas de suas contas serem bloqueadas por bancos no primeiro semestre deste ano, alegando movimentações financeiras suspeitas. Assim, os investigadores afirmam que um “manual” da empresa obtido pelas autoridades revelou a prática, orientando funcionários a “informar ao cliente que no momento da transferência NÃO deverá ser mencionado descrição que faça alguma referência a bitcoin, criptomoedas, criptos, investimentos, BTC”.

Parte do manual interno da GAS Consultoria que consta na denúncia do MPF (Imagem: Reprodução/ MPF)
Parte do manual interno da GAS Consultoria que consta na denúncia do MPF (Imagem: Reprodução/ MPF)

Essa mesma orientação também consta na ficha cadastral de cada investidor. Caso o cliente não cumprisse com a regra e as informações fossem passadas para gerentes e funcionários de bancos e outras instituições financeiras, o contrato com GAS Consultoria poderia ser rescindido e o valor aplicado devolvido. O MPF aponta que a estratégia tentava driblar a fiscalização dos bancos sobre as transações da companhia.

Glaidson e mais 16 são formalmente denunciados

O líder da GAS Consultoria, Glaidson Acácio dos Santos, está preso preventivamente desde 25 de agosto sob a acusação de ter montado um esquema de pirâmide financeira usando uma suposta empresa de investimentos em bitcoin de fachada. No entanto, foi somente nesta semana que ele efetivamente se tornou réu.

Glaidson e mais dezesseis pessoas, incluindo sua esposa venezuelana Mirelis Yoseline Diaz Serpa, foram formalmente denunciados. A acusação foi aceita pelo juiz Vitor Valpuesta da 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro na segunda-feira (04). Agora, eles responderão por crimes de organização financeira não autorizada, gestão fraudulenta, organização criminosa e negociação irregular de valores mobiliários.

Enquanto Glaidison e mais duas pessoas estão presas, os demais réus se encontram em liberdade. Por determinação da justiça, eles estão proibidos de sair do país e tiveram que entregar seus passaportes. Dos dezessete denunciados, Mirelis e outras cinco pessoas estão foragidas, enquanto oito dos acusados respondem em liberdade.

Glaidson Acácio dos Santos foi preso no RJ suspeito de operar pirâmide de bitcoin (Imagem: Bermix Studio/ Unsplash)
Glaidson Acácio dos Santos foi preso no RJ suspeito de operar pirâmide de bitcoin (Imagem: Bermix Studio/ Unsplash)

As investigações também apontam que Glaidson e sua mulher teriam:

“Promovido, constituído, financiado e integrado, pessoalmente, de modo estruturalmente ordenado e com divisão de tarefas, organização criminosa preordenada à prática de crimes contra o sistema financeiro, contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro auferido desses crimes, valendo-se, para tanto, de extensa rede de pessoas físicas e jurídicas, atuantes no Brasil e no exterior”.

GAS Consultoria teria atendido traficantes e milicianos

O Ministério Público Federal também identificou que, ao longo de cinco anos de operação, a GAS Consultoria acumulou mais de 67 mil clientes, prometendo lucros mensais de 10% do valor aplicado. Entre esses investidores, o MPF acredita que há traficantes de drogas e milicianos.

Segundo informações extraídas da denúncia aceita pelo juiz Valpuesta, as investigações identificaram “informações concretas a respeito da utilização do grupo GAS para a injeção de recursos oriundos de crimes graves como tráfico de drogas e constituição e funcionamento de milícias privadas”.

A Polícia Federal afirmou que, durante as investigações, descobriu que dois moradores da comunidade do Lixo, em Cabo Frio, haviam realizado depósitos em dinheiro vivo na conta bancária da GAS Consultoria. Juntas, essas aplicações somam R$ 1,7 milhão. As movimentações ocorreram em junho e os dois homens não teriam emprego ou qualquer ocupação que justificasse o aporte de tanto dinheiro, o que alertou a PF.

Com informações: Extra, Folha de S.Paulo, G1

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Bruno Ignacio

Bruno Ignacio

Ex-autor

Bruno Ignacio é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Cobre tecnologia desde 2018 e se especializou na cobertura de criptomoedas e blockchain, após fazer um curso no MIT sobre o assunto. Passou pelo jornal japonês The Asahi Shimbun, onde cobriu política, economia e grandes eventos na América Latina. No Tecnoblog, foi autor entre 2021 e 2022. Já escreveu para o Portal do Bitcoin e nas horas vagas está maratonando Star Wars ou jogando Genshin Impact.

Relacionados