Por que escassez de chips que afeta Apple, Sony e Intel está demorando para acabar

Da sanção dos EUA à Huawei às dificuldades para construir fábricas, a escassez de chips afeta toda a indústria e limita a produção de diversas linhas

Giovanni Santa Rosa
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• Atualizado há 11 meses
Chip Core de 12ª geração (imagem: divulgação/Intel)
Chip Core de 12ª geração (imagem: divulgação/Intel)

Se você precisou comprar um computador, um celular, um videogame ou um carro nos últimos anos, deve ter se deparado com preços altos e até mesmo dificuldade de encontrar o que realmente deseja. Um dos motivos por trás disso é a escassez de chips: semicondutores estão em falta em todo o mundo, afetando diversas linhas de produtos e vários mercados.

A crise não deve acabar tão cedo. A pandemia, de fato, contribuiu com este cenário, mas ela não é o único fator por trás dos problemas na cadeia de suprimentos.

Guerra comercial foi o embrião da crise dos chips

Um dos primeiros movimentos no dominó da escassez de chips foi a sanção aplicada pelos EUA contra a Huawei, em 2019. O governo de Donald Trump alegou preocupações de segurança para banir a companhia do país, mas a verdade é que os ânimos entre Pequim e Washington estavam acirrados, com uma intensa disputa comercial. Isso levou outras empresas chinesas a estocarem componentes, temendo medidas semelhantes que restringissem suas atividades.

Aí veio 2020 e, com ele, a pandemia. Com os lockdowns e restrições para diminuir a circulação do coronavírus, as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa — e investiram em aparelhos para tornar o trabalho melhor e o isolamento menos horrível.

Essa alta da demanda foi mais um fator de pressão para a cadeia de suprimentos de chips. Mesmo produtos não tão tecnológicos usam chips simples, como microcontroladores, e isso tem um impacto.

E não foram só as compras para casa que representaram uma crescimento na necessidade de chips. O investimento em computação em nuvem e na infraestrutura do 5G também demandou mais silício.

Preços altos, longa espera

A situação atual é bastante crítica. Chips que costumavam custar US$ 1 há alguns anos agora saem por US$ 150. Os prazos de entrega que ficavam entre quatro e oito semanas subiram para até 52 semanas, não saindo em menos de 24. Faltam máquinas para a fabricação, e as fundições estão trabalhando a 95,6% da capacidade total, contra 76,5% de antes da pandemia.

Wafer de chips de 2 nanômetros (imagem: divulgação/IBM)
Wafer de chips de 2 nanômetros (imagem: divulgação/IBM)

Esses chips são bem mais baratos e fáceis de produzir do que as modernas CPUs e GPUs de computadores e consoles. Porém, a demanda por eles também é muito alta, já que eles estão embarcados em praticamente tudo.

Além disso, uma prática pode estar contribuindo para tornar o cenário ainda pior. Sem saber quando ou se terão seus pedidos atendidos, as empresas começaram a fazer encomendas maiores, como forma de se proteger de uma falta generalizada e manter alguma previsibilidade em seus negócios. Porém, isso também aumenta a demanda e agrava a escassez. Há fornecedores que estão com toda sua produção vendida até 2023.

Para piorar, eventos climáticos como a falta d’água em Taiwan e a onda de frio no Texas impactaram a produção.

Os impactos são enormes em várias linhas de produtos. O exemplo mais evidente talvez seja o do PlayStation 5: lançado em dezembro de 2020, ele some dos estoques a toda hora. A Apple também disse que a culpa de seus resultados financeiros não tão bons era da escassez de chips, e a Intel já considera que o problema vai se arrastar até 2023.

Chip APU da AMD (Imagem: Zii Miller/Unsplash)
Chip APU da AMD (Imagem: Zii Miller/Unsplash)

No Brasil, as consequências estão sendo pesadas para a indústria automobilística. Segundo Rogério Nunes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), estima-se que algo entre 250 mil e 280 mil veículos deixarão de ser produzidos no País devido à falta de chips — no mundo todo, este número fica entre 5 milhões e 7,5 milhões. Ele acrescenta que deve haver falta de celulares, com diminuição de 10% na oferta de produtos.

Soluções só a longo prazo

Quando há limites para produção de um produto, é só construir mais fábricas, certo? Nem sempre. No caso do silício, a solução não é tão simples assim.

Uma fábrica demora muito para ficar pronta e ainda leva um tempo para que tudo esteja corretamente ajustado. Sony e TSMC anunciaram que vão investir US$ 7 bilhões em uma nova fábrica, mas ela só ficará pronta em 2024. É o mesmo caso da Intel: as novas plantas da companhia sairão apenas neste mesmo ano. A consultoria Gartner estima que os investimentos feitos pelas fabricantes de chips chegarão a US$ 146 bilhões este ano, 50% mais do que em 2019.

Outro problema que impede o investimento em novas fábricas é que as margens para chips mais simples são muito baixas. Além disso, os negócios são cíclicos: logo após picos na demanda, há quedas também bruscas, o que poderia deixar muitas dessas instalações ociosas. O aumento na produção também poderia levar a uma queda no preço a médio e longo prazo, diminuindo ainda mais o lucro.

Com informações: Wired via Ars Technica, Agência Brasil.

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Giovanni Santa Rosa

Giovanni Santa Rosa

Repórter

Giovanni Santa Rosa é formado em jornalismo pela ECA-USP e cobre ciência e tecnologia desde 2012. Foi editor-assistente do Gizmodo Brasil e escreveu para o UOL Tilt e para o Jornal da USP. Cobriu o Snapdragon Tech Summit, em Maui (EUA), o Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre (RS), e a Campus Party, em São Paulo (SP). Atualmente, é autor no Tecnoblog.

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