Recentemente rolou no fórum do Tecnoblog um tópico bastante peculiar: Estudo diz que Twitter e Facebook causam depressão.

Não fui atrás do estudo para ver o que dizia, mas me pus a refletir no quanto a vida de muita gente hoje está em função de redes sociais. Claro que é saudável manter contato com os amigos, seja por  telefone, pessoalmente e agora, pelas redes de relacionamento online, onde compartilham-se eventos, gostos comuns, anseios e expectativas.

Salvo raríssimas exceções (que configuram patologias), ninguém troca totalmente o contato pessoal pelo digital. Muito pelo contrário! Novas amizades e romances têm nascido online, e até protestos e reinividicações ganham nova dimensão quando surgem nos Facebooks da vida.

Porém, como tudo na vida, existe quem leve tudo a sério demais, e as tais redes não ficariam de fora.

Tem gente que não come e não dorme, mancomunando maneiras de angariar mais “amigos” ou “seguidores”. Sou do tempo em que o termo “seguidor” estava ligado a religiões ou seitas, mas hoje, há quem ache que seguidor, amigo, ou simplesmente contato, é tudo a mesma coisa. Salvo algum usuário pessoa jurídica, para quem um número grande de “seguidores” pode ser de grande importância para seus negócios, qual o sentido em um Zé qualquer, como eu ou vocês, colecionar gente como se fosse gado?

Fico pasma de ver aplicativos que fazem seu perfil do Twitter deixar de seguir aqueles que não te seguem. Qual o sentido disso? Por acaso existe alguma norma de etiqueta que diga que você é obrigado a seguiralguém numa rede social só porque ela te “segue”?

Pra começo de conversa, por que se segue alguém? Há diversos motivos.

Primeiro, os amigos da vida real. Seus colegas de escola, trabalho, vizinhos, a turma da balada. O ambiente virtual é uma extensão para os acontecimentos da vida real, e por ali se marcam reuniões e encontros, compartilham-se fotos e comentam-se novidades. Mesmo assim, ninguém é obrigado a seguir outra pessoa só porque é seu amigo fora do mundinho digital. Por exemplo, aquele ente querido que só retuita notícias que não lhe interessam, de gente que você não curte, posta pings de quantos quilômetros correu de manhã cedo ou simplesmente fala coisas que você não entende patavina.

Já deixei de seguir uma conhecida cuja timeline era abarrotada de músicas do Ping.fm. Ela me procurou protestando, e eu expliquei, de boa, que nada tinha contra ela. Só que meu Twitter estava tão poluído que não conseguia acompanhar mais nada de ninguém. Diante de sua súplica, tornei a segui-la, mas como os pings continuaram, parei de seguir de volta. É possível, sim, gostar e até prestigiar uma pessoa sem ser obrigada a saber o que ela está ouvindo a cada minuto.

Por que seguir aquele seu colega do curso de inglês se no Twitter ele só narra jogo de futebol, sendo que você detesta futebol? Sem ofensas, cada um faz o que bem quer em seu perfil, mas não sintam mordidos quando alguém que você gosta deixa de segui-lo! Se vocês realmente são amigos, existe telefone e SMS. E vamos combinar: isso é muito mais valioso que mentions ou direct messages.

Já pensou se eu seguisse todos que me seguem? Acho que tem gente que faz isso, mas eu não faria mais nada na minha vida. Já senti estresse no Twitter porque não conseguia acompanhar os replies. Me sentia culpada porque não conseguia responder todos. E ficava sufocada com o excesso de informação. Deu vontade de apagar minha conta! Com calma, fiz uma auto-análise para compreender o que realmente importava, ou se seria melhor excluir meu perfil. E constatei que são valiosos os replies de dúvidas, pedidos de reviews e compartilhamento de dicas dos leitores.

Criei uma conta num serviço que manda diariamente todos os replies do dia e dali consigo organizar as futuras pautas, os links legais e as dicas dos leitores para conferir mais tarde, com calma. Separei uns minutinhos umas 3 vezes na semana para responder alguns. E pronto. De resto, trato de alimentar minha timeline com informação útil. Me sinto mais tranquila, porque realmente estou dando a devida atenção a quem importa, os meus leitores. A timeline geral? Bem, decretei falência. Hoje só sigo colegas com quem eu deseje eventualmente trocar mensagens diretas. E segue a vida.

Outro motivo para seguir alguém é acompanhar algum trabalho que você admira. Há pessoas que nunca vi pessoalmente, mas gosto de seguir. E que jamais exigiria que me seguisse de volta. Porque abordam em seus perfis assuntos que me interessam, como mobilidade ou ciclismo. Podem ser blogueiros que comentam temas de suas respectivas áreas. Mas desconhecidos que, de maneira alguma, me interessaria saber a balada na qual foram ontem, por exemplo.

E há outros motivos. Pessoas que compartilham links interessantes. Pessoas queridas que se mudaram para outros países, e pelas redes sociais me fazem sentir mais próxima.

Contudo, há amigos queridos que prefiro “seguir” de outras formas, sem ser necessariamente online. Tem até políticos, alguns que nem gosto, mas que sigo para acompanhar o que eles andam aprontado em seu mandato. Simples assim.

Não se sintam amados ou desprezados por conta de um número, seja de seguidores, de comentários, de retweets, de curtidas. Pensem numa audiência coerente com aquilo que você quer postar, que realmente se interesse pelo que você diz. Portanto, se você é um músico pop, é natural que tenha milhões de seguidores dispostos a ouvir toda e qualquer bobagem que se diga. Se você é um profissional liberal, ou um skatista, ou um fã de heavy metal, o que importa é que seus seguidores sejam de alguma maneira ligados a isso. Não importa se sejam 10 ou 10 mil.

Voltando ao assunto da depressão, é por isso que redes sociais adoecem tanta gente. Fazer um post e não receber um único comentário o faz se sentir mais solitário que um verme platelminto. Há quem queria ser a pessoa com maior número de seguidores em sua cidade, ou no país. Não sei pra quê. Seria para compensar algum vazio? Ou como brinca um amigo meu, para compensar alguma coisa diminuta em sua anatomia?

Há quem passe o dia vasculhando posts e fotos de pessoas felizes. Mas nas redes sociais, todos são bonitos, sarados, descolados, realizados e engraçados. Não é de se admirar que dado momento uma criatura se sinta a mais feia, solitária e infeliz da Terra. Pior: talvez muita gente que posta coisas polêmicas ou engraçadinhas, para agradar milhares de seguidores, sejam pessoas sós ou difíceis de se conviver na vida real. Enquanto você, com seus 100 amigos no Facebook, nunca ficará sem companhia quando quiser fazer uma viagem legal em grupo.

Há quem fique neuroticamente checando, durante metade do dia, estatísticas de visitantes, quem seguiu ou deixou de seguir, quem favoritou alguma foto ou mensagem. E, na outra metade, planejando a próxima foto cheia de estilo ou frase espirituosa que trará mais seguidores e mais “favoritagens”.

Ou ainda, quem precisa estar sempre online, acompanhando tudo o que acontece, para se sentir parte do mundo. E vejam que paradoxal… Quanto mais conectado se fica, maior a sensação que não se está acompanhando tudo. Que a overdose de informação é insuficiente. Ou que se dá conta que acompanha tanta bobagem que não dedica tempo ao que realmente interessa… mas não consegue passar o dia sem isso!

É, vivendo assim, não tem como não entrar numa depressão mesmo.

E por favor, comentem, curtam e tuítem bastante este post, senão me enforco num pé de couve!

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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