Apple TV 2, uma set-top box simplória

Filmes e músicas via streaming direto dos servidores da Apple.

Rafael Silva
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• Atualizado há 11 meses

No final do ano passado a Apple estreou no Brasil a sua loja de conteúdo e trouxe com ela a segunda versão da sua já conhecida set-top box, a Apple TV. Ela chega, então, trazendo suporte a muito do que ela já oferece lá fora, embora em quantidade bastante limitada devido ao licenciamento de filmes no Brasil.

Mas além da loja da Apple, ela também inclui conectividade ao Netflix, YouTube, Vimeo, suporte ao protocolo de streaming AirPlay e outras opções de conteúdo em vídeo para serem exibidos numa tela bem maior do que a de um iPhone, iPad ou de um iPod Touch. Isso é o bastante para justificar a sua compra? Passei uma semana testando a Apple TV e você confere aí abaixo o que achei.

Design e saídas

A set-top box da Apple tem um design simples que, no caso desse gadget em questão, se destaca apenas quando é segurada na mão. Quando está apoiado em um móvel junto à TV, o gadget se mistura bem com o resto dos aparelhos. Cantos arredondados, saídas na traseira, símbolo na parte de cima e LED indicador na parte da frente.

Na traseira, aliás, estão a saída HDMI, a Ethernet, a microUSB, a saída Óptica e a entrada de energia. Além delas, o gadget vem também com suporte a redes WiFi 802.11n e não tem armazenamento interno. Ah e a porta microUSB não serve para nada oficial, apenas para diagnóstico por uma assistência autorizada da Apple ou jailbreak.

O controle minimalista segue o mesmo design, com dois botões pretos e uma clickwheel parecida com a dos iPods só que não é sensível ao toque. Apesar de ter algum estilo, ele é pequeno e extremamente fácil de perder. Ter um sofá com aberturas é o requerimento mínimo para que isso aconteça mais cedo ou mais tarde, invariavelmente.

Configuração e interface

Ao ligar a Apple TV você precisa ter duas coisas já preparadas: uma conta ativa em alguma loja da Apple (preferencialmente a brasileira) e muita paciência. Enquanto que a maioria das set-top boxes têm um controle cheio de botões e com descrições bem detalhadas das funções, aqui só há o botão de play/pause, o de menu e o direcional. Felizmente não precisei adivinhar o que cada um faz na tela porque o manual é bem descritivo.

Interface da Apple TV: simples. | Clique para ampliar

Não ache, porém, que você vai tirá-la da caixa e já conectar à TV. A Apple não envia um cabo HDMI com o gadget, você precisa comprá-lo separado. Por um lado é um bom meio de economizar os 50 reais que o cabo oficial da empresa da maçã custa, mas por outro, não enviar nenhum cabo para conexão à TV em um aparelho especificamente com esse fim é bem estranho.

A interface inicial da Apple TV é bem simples de navegar. Ela vem com uma faixa horizontal com as opções de Filmes, Música, Internet, Computadores e Ajustes. Acima da faixa ficam detalhes de cada opção quando selecionada e abaixo dela ficam as sub-opções de cada uma.

Remote: facilitando a vida de quem não curtiu o controle minimalista | Clique para ampliar

Para quem tem um gadget com iOS e uma tela, o aplicativo Remote facilita imensamente o uso da Apple TV em um ambiente em que ela está conectada na mesma rede que a set-top box. Mas ainda assim, é necessário ativar o Home sharing (compartilhamento familiar) com a mesma Apple ID do aplicativo antes de poder usá-lo. Ou seja: ao menos uma vez será necessário usar o controle remoto para digitar um endereço de e-mail e senha.

Por mais que existam pequenas irritações, a palavra-chave que traduz a interface da Apple TV é simplicidade. Simples de navegar, simples de se encontrar o que você quer. Uma boa sacada da interface é a aba “Recentes” que aparece na hora de digitar um login. Você pode recorrer a ela se o seu e-mail do Netflix for o mesmo da Apple ID, por exemplo. Ou se você busca sempre por um mesmo seriado.

Alugando e assistindo conteúdo

A Apple TV vem com suporte nativo à loja Brasileira de conteúdo da Apple, então mesmo que você tenha uma conta na loja americana vai ter que usar uma outra se quiser adquirir conteúdo por ela. O aluguel de conteúdo é bem fácil: você busca na opção de filmes por qual vídeo quer assistir, seleciona a opção de alugar e paga os 5 dólares (se for em HD) para ter a chance de assisti-lo. Não existe a opção de comprar conteúdo, talvez pelo fato de que não há armazenamento interno na Apple TV. Mas seria interesante oferecer a compra para posterior download em um computador, não?

Aluguel de filmes: é caro. | Clique para ampliar

O preço é um pouco caro, mas a qualidade do streaming foi ótima. A Apple TV faz um buffer razoável do vídeo antes de dar o play nele. Obviamente, por uma conexão cabeada o tempo entre o buffer e o play foi menor, mas ainda assim não notei diferença depois que o vídeo começou a tocar. Durante o playback de qualquer vídeo, aliás, um toque no botão para baixo do controle muda a barra de avanço rápido e te permite pular para outro capítulo, o que é bacana para quem está acostumado com DVDs. O vídeo em alta definição só vai até 720p e nesse ponto achei que poderia ser melhor.

Apesar de não ter uma opção de compra de vídeo, você pode comprar no iTunes e usar o AirPlay (falo dele logo abaixo) para tocar algum conteúdo da loja da Apple sem problemas, desde que tenha feito o login no compartilhamento familiar, já que o conteúdo é protegido por DRM.

Legendas com contorno preto: tão lindo que precisei registrar de perto | Clique para ampliar

Uma coisa que gostaria de destacar aqui são as legendas em branco com um genial contorno preto, que serve para impedir que elas sumam quando a tela exibe algo branco. Uma tecnologia aparentemente difícil de implementar nos cinemas do Brasil, por mais que eles faturem milhões e milhões de dólares todos os anos.

AirPlay

O AirPlay é um protocolo proprietário da Apple que permite que conteúdos em dispositivos da empresa sejam tocados em caixas de som com suporte a ele e na Apple TV. Em dispositivos iOS, mesmo que você não tenha configurado o Home Sharing, ao tocar um vídeo ou música será mostrada a opção de mudar a saída do conteúdo para a Apple TV.

Uma das vantagens de usar o AirPlay em dispositivos móveis é poder executar outras operações enquanto o vídeo está tocando. Obviamente isso acaba com a bateria um pouco mais rápido, mas considerando que você estaria usando a Apple TV em casa, tomadas não devem ser problema.

No seu computador de preferência, seja ele um PC com Windows ou Mac, a opção de AirPlay também deve aparecer no canto inferior direito do iTunes assim que você ligar a função de Home Sharing. Basta selecionar a Apple TV como saída e tocar algum vídeo ou música.

Esse protocolo facilita bastante o playback multimídia, mas o fato de que não há suporte de outros codecs no ecossistema da Apple acaba limitando também a funcionalidade do Apple TV. Apenas mpeg4 e h.264, em termos de vídeo, são aceitos.

Outro detalhe é que se você não quiser deixar o AirPlay ativado para qualquer pessoa, é possível configurar uma senha para o protocolo nas configurações da set-top box.

Extras

A Apple TV foi feita para tocar vídeo, mas como extra, há uma opção de música embutida também. E na opção Internet, a Apple TV mostra outros serviços de streaming suportados no dispositivo.

Músicas pelo iCloud: cover flow na tela | Clique para ampliar

O streaming de música pelo iCloud está disponível apenas para quem tem a assinatura do iTunes Match. Mas ela é um pouco redundante, considerando que você pode apenas ligar o Home Sharing e dar play na música pelo iTunes.

Netflix aqui conta com opção de fila instantânea | Clique para ampliar

Fazer login no Netflix foi simples, já que eu usei o aplicativo Remote. No menu são oferecidas as mesmas opções em uma interface até semelhante à aquela disponível na web. Você pode buscar um vídeo, ver sugestões, continuar a lista de assistidos recentemente e até acessar a fila instantânea, que não está habilitado na versão brasileira do Netflix mas com um script do Greasemonkey pelo Firefox você consegue ter acesso à ele, basta buscar.

Ainda existem opções como assistir vídeos do YouTube, Vimeo e outros sites. Os vídeos exibidos no YouTube tocaram sem problemas, preferencialmente em HD (se o vídeo foi enviado para o site com essa resolução). Para alguns é necessário ter um login, como o MLB.tv.

Pontos positivos

  • Streaming rápido;
  • Preço razoável;
  • Conteúdo recente.

Pontos negativos

  • Falta de armazenamento interno;
  • Controle minimalista;
  • Conteúdo em até 720p, no máximo.

Conclusão

A Apple TV chegou tarde no Brasil e, por isso, ela não entrega o bastante para justificar sua compra em um mercado com várias TVs inteligentes. Ela tem suporte à loja de vídeos da Apple, mas o resto das funcionalidades que ela oferece, como Netflix e suporte a playback de vídeos em computadores remotos, estão integradas em vários modelos de Smart TVs hoje em dia, como da Samsung, LG e outras. E ela ainda não conta com armazenamento interno ou suporte a outros codecs além dos aprovados pela Apple, o que é um pouco irritante.

Há, no entanto, um nicho em que ela se encaixa perfeitamente: o das TVs antigas. Existem modelos de diversas fabricantes (também da LG e Samsung) que hoje em dia não oferecem conectividade à internet ou a serviços de streaming e, quando oferecem, fazem de modo limitado, tanto pela falta de poder de processamento da TV quanto para incentivar a compra de novos modelos. A meu ver, a Apple TV é um gadget que complementa bem essas TVs. E por R$ 399,00 (cabo HDMI não incluso), eu acho que vale a pena.

E sim, o jailbreak da Apple TV habilita bastante coisa extra, mas trata-se de um processo não-oficial, não-sancionado e que nem sempre funciona para todo mundo. Portanto, assim como nós evitamos levar em consideração o root e o jailbreak nos reviews de aparelhos com iOS e Android, ele também será ignorado aqui.

Já para os donos de uma televisão recente, comprar uma Apple TV é um pouco redundante, quase quanto usar tanto um cinto e suspensórios para segurar uma calça. Por enquanto, com o pouco conteúdo oferecido na loja, vale mais a pena usar um dos serviços integrados na TV ou comprar uma set-top box com mais opções, como um WD TV Live. Embora custe um pouco mais, eles suportam mais codecs e contam com armazenamento interno.

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Rafael Silva

Rafael Silva

Ex-autor

Rafael Silva estudou Tecnologia de Redes de Computadores e mora em São Paulo. Como redator, produziu textos sobre smartphones, games, notícias e tecnologia, além de participar dos primeiros podcasts do Tecnoblog. Foi redator no B9 e atualmente é analista de redes sociais no Greenpeace, onde desenvolve estratégias de engajamento, produz roteiros e apresenta o podcast “As Árvores Somos Nozes”.

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