Quando falamos sobre games portáteis, em particular os antepassados dos consoles atuais, geralmente são dois aparelhos (e consequentemente, as empresas responsáveis) vem à mente: o Game Boy, que deu continuidade à hegemonia portátil da Nintendo, e o Game Gear, o competidor contemporâneo e imensamente superior (pelo menos em matéria de hardware) da Sega que é lembrado até hoje mais como um devorador de pilhas do que como console portátil.

Você talvez tenha estranhado o uso de “deu continuidade à” em vez de, por exemplo, “deu o pontapé na”. Muitos talvez lembrem do Game Boy como o início do reinado da Nintendo no mercado portátil; entretanto, ela já havia monopolizado esse segmento alguns anos antes com os Game & Watch.

Os Game & Watch são, pra usar o “nosso” termo, minigames que a Nintendo produziu entre os anos 1980 e 1990. Havia outros tipos de minigames (e digo que o termo é nosso porque os gringos não conhecem esses consoles por esta expressão) no mercado na época mas, como é tradição nintendística, os Game & Watch dominaram a indústria e tornaram-se sinônimos da categoria. Ou seja: todo e qualquer minigame “genérico” que divia espaço com o Game & Watch na época acabava indiretamente pegando o nome emprestado.

Curiosamente, o sucesso do futuro Game Boy veio a redefinir, retroativamente, a nomenclatura: após 1989, os Game & Watch passaram a ser chamados de “game boys” pela turma menos informada. Minha mulher me conta que em sua infância, todos esses joguinhos portáteis eram todos chamados de “game boys” nos pátios de escolas canadenses (enquanto alguns mais sortudos tinham o chamado “game boy de verdade”).

Os Game & Watch eram fabricados pela Nintendo, mas não se limitavam a trazer personagens clássicos da empresa nas telinhas. Inicialmente, estrelava em todos os jogos o Mr Game & Watch, um bonequinho antropomórfico sem muitas características; era essencialmente o “bonequinho palito” criado pelo Gunpei Yokoi especialmente para a linha de consoles.

Mais tarde, outros donos de licenças rentáveis começaram a trabalhar com a Nintendo para lançar minigames com seus personagens (algo que pode ser visto neste comercial antigo do Game & Watch):


(Vídeo do YouTube)

O fenômeno chegou ao Brasil, também (e no processo, nacionalizou-se). Os Game & Watch nunca atingiram grande popularidade no Brasil (suponho que o preço não era muito camarada), mas tínhamos versões genéricas vendidas em camelôs. E além desses, haviam também os minigames da “Turma da Mônica”.

O nível de raridade dos minigames da “Turma da Mônica” é tamanho que não consegui encontrar fotos em lugar algum, infelizmente. Um amigo meu de escola tinha um deles em que você era o Cascão e lutava contra o Capitão Feio. Apesar de serem essencialmente a mesma coisa que os games de camelô, o acabamento de qualidade mais pronunciada e o uso de personagens licenciados dava aos games da “Turma da Mônica” uma aparência de maior refinação.

Alguns desses minigames genéricos vendidos por ambulantes também tinham sua validade, no entanto. Junto com o É O Tchan e Power Rangers, os Brick Games foram um símbolo perene dos anos 90.

 

O Brick Game foi o primeiro joguinho eletrônico de LCD a realmente cativar a atenção da molecada em escolas ao redor do Brasil (trono que viria a ser tomado alguns anos mais tarde pelo Tamagotchi e seus variantes). Lá pelo ano de 1994 ou 1995, quando adquiri o meu, você não podia dar três passos num pátio escolar sem encontrar diversos moleques jogando Tetris nessas maquininhas.

Elas começaram sem muita pretensão, com apenas 20 ou 30 jogos na memória. Lá pelo final daquela geração havia brick games com absurdos 9999 “jogos”. Ou melhor, pequenas variações do mesmo jogo que por algum motivo contavam como um jogo individual. Vá entender.

 

Já os minigames seguintes eram um pouco mais sofisticados. Em vez de uma telinha de pixels gigantes, a geração posterior destes minigames tinha o que podia se considerar, com alguma boa vontade, sprites. Ou seja, enquanto o seu Brick Game te oferecia uma cruz e você tinha que fazer de conta que aquilo era um avião (ou um carrinho), esses minigames como o da foto acima tinham realmente a imagenzinha de um avião ou de um carrinho.

O gameplay não podia ser mais simples. Havia apenas dois gêneros de jogos: os em que você tem que pegar algo, e os que você tem que se desviar de algo. Com esses dois conceitos fizeram-se games de corrida de moto, de carros, de esportes, jogos espaciais… Aliás, meu “minigame de navinha”, como eu o chamava, foi o primeiro jogo que eu zerei. E digo “zerei” no significado puro do termo: fiz o contador de pontos passar de 9999 para 0.

Os minigames como os Tiger Handheld podem ser considerados sucessores desses joguinhos de camelô. Embora funcionassem mais ou menos com a mesma tecnologia, eles eram um pouquinho mais avançados (por exemplo, permitiam controles além de “direita” e “esquerda”).

Este do Sonic foi o primeiro que vi, em 1997. Mesmo numa época em que Game Boy e Game Gear já existiam, os Tiger Handheld me pareciam bem bacana:

https://www.youtube.com/watch?v=WrpwdzOXYSg


(Vídeo do YouTube)

É uma pena que esses “consoles” sejam relativamente raros e, portanto, caros. Alguns modelos de Game & Watch chegam a algumas centenas de dólares no eBay (curiosamente, Game Boys raramente passam de 20), e tem maluco oferecendo minigame de camelô no MercadoLivre por 14 mil reais. Seria interessante ter uma coleção dessas relíquias gamers que foram meio esquecidas pelo tempo.

Que minigame você tinha?

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Izzy Nobre

Izzy Nobre

Ex-autor

Israel Nobre trabalhou no Tecnoblog entre 2009 e 2013, na cobertura de jogos, gadgets e demais temas com o time de autores. Tem passagens por outros veículos, mas é conhecido pelo seu canal "Izzy Nobre" no YouTube, criado em 2006 e no qual aborda diversos temas, dentre eles tecnologia, até hoje.

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