Julian Assange ainda se encontra em prisão domiciliar no Reuno Unido, ainda luta contra uma extradição questionável para enfrentar acusações de estupro na Suécia mas também também mantém suas atividades como editor-chefe do Wikileaks. Em uma coletiva de imprensa promovida ontem, Assange anunciou o início da publicação de mais de 5 milhões mensagens e documentos pertencentes à empresa norte-americana de inteligência Stratfor.

Julian iniciou a coletiva chamando a atenção da mídia ao qualificar o material como “as vidas e mentiras privadas de espiões particulares”. O argumento que inicia a conversa é o mesmo que já faz sentido há algum tempo: nos últimos 10 anos a espionagem foi industrializada e seus diferentes mercados cresceram mais rápido que em qualquer outra época.

O problema é que a velocidade com que essa indústria cresce não reflete nenhum esforço de organismos e regulações em monitorá-la, sugerindo-se que inúmeros abusos possam já ter ocorrido. Esse é o primeiro viés por onde este novo vazamento do WL começa a vazar.

Wikinonymous – parceria inusitada/esperada? | Crédito: San/Tecnoblog

Os primeiros lotes tem sido analisados por inúmeras organizações de imprensa que se juntaram para engrossar o caldo e ‘auxiliar no processo de apresentar ao público o seu conteúdo’. A Associated Press foi uma das primeiras a dizer que o material não tem nada de terrivelmente sensível, embora Assange tenha assegurado que estas são as primeiras partes a serem publicadas e que “há muito mais para ser revelado.”

De uma maneira geral, o WikiLeaks sempre cumpriu esse papel de publicar praticamente tudo que recebe — ou não teria se tornado um dos grandes epicentros do caos geopolítico na última década e alvo certo de inimigos nada desejáveis.

A Stratfor publicou uma nota com a sua imediata posição em relação as publicações, dizendo que tudo não passa de “uma ação ilegal, deplorável e infeliz, que fere o direito a privacidade”. Curioso, vindo de uma empresa que se vende mundialmente como a líder nesse exato setor.

A empresa assegura que o vazamento não tem nada a ver com o último ataque que resultou na invasão do Anonymous em seus servidores em Dezembro de 2011. A revista Wired sugere que o grupo possa ter estreitado ainda mais os laços com o WikiLeaks exatamente desde o tal caso com a Stratfor.

Membros ligados ao Anonymous informaram à mídia que “O Wikileaks dispõe de grandes meios para publicação deste tipo de material (…) e trabalha junto com a mídia de uma maneira que nós não trabalhamos” – explicando o porquê de terem enviado o material para o site

Seria apenas um começo? Um dos populares membros do grupo, o Sabu, publicou hoje um tweet dizendo que grandes dumps de documentos e códigos são muito bem-vindos:

imagem: Tweet publicado hoje por @anonymouSabu

Outra declaração do grupo de hacktivistas deixa transparecer um pouco mais sobre a natureza deste novo projeto de Assange, assim como o que pode ter estabelecido esse recente enlace de colaboração entre os dois grupos.

Assange nos Simpsons, último dia 19.

A seção GI-Files publicada no site do WikiLeaks dá conta dos grupos de imprensa e comunicação envolvidos com os pormenores de apuração do projeto, destacando-se os ativistas do The Yes Men e até a revista norte-americana Rolling Stones.

Ao que parece, o material vai além do engraçado Glossário da Stratfor para funcionários, que com uma verbologia e termos hollywoodianos, mais se parece com a criação de um culto interno da empresa para fazer com que seu pessoal entre no clima da espionagem enquanto trabalha.

As supostas denúncias objetivam escancarar como as más práticas da empresa estão diretamente ligadas à vasta fibra que se costura por entre o tecido de segurança e privacidade de diversas empresas, agências de seguranças e até governos do mundo todo.

E você aí pensando que o Assange ia fazer carreira na TV após a ponta nos Simpsons do último dia 19.

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San Picciarelli

San Picciarelli

Ex-redator

San Picciarelli é gerente de projetos e mestre em biotecnologia. Fez parte da equipe de redatores do Tecnoblog entre 2011 e 2012, produzindo artigos de assuntos relacionados à tecnologia, inovação e empreendedorismo. Trabalha com esse assunto desde 2006, mas também tem experiência em design e construção de sites.

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