Facebook Home: antídoto contra a FaceEstafa?

"O coração da vida digital de um usuário de smartphone não são seus contatos do Facebook, ou outra rede qualquer. É a agenda interna do próprio telefone."

Bia Kunze
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• Atualizado hoje às 22:21

Nesta semana, Mark Zuckerberg mostrou à imprensa o Facebook Home. Contrariando as apostas de um celular próprio ou um aplicativo reformulado, o Facebook Home é uma nova tela inicial para smartphones e tablets com Android, na qual o Facebook passa a ser o centro das interações e atividades do dispositivo.

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O Facebook afirma em seu release: “Se compartilhar e estar conectado é o que realmente importa, por que não ter um celular focado nas pessoas?” E completa: “(…) é uma experiência totalmente nova que nos permitirá ver o mundo através de pessoas, não de aplicativos”.

Sinto discordar, Zuckerberg. O Facebook Home não nos permite ver o mundo através de pessoas. E sim, através do… Facebook!

O círculo de relacionamentos virtuais de uma pessoa hoje vai muito além de uma única rede social. Ainda que o Facebook seja quase onipresente, é fato que estamos assistindo a uma leva de usuários muito jovens deixando de lado a rede do Zuckerberg em prol de opções mais leves e dinâmicas, como o Instagram e o WhatsApp.

O coração da vida digital de um usuário de smartphone não são seus contatos do Facebook, ou outra rede qualquer. É a agenda interna do próprio telefone. Por isso WhatsApp, Viber e afins estão cada vez mais populares, principalmente entre o público adolescente. Esses apps alavancam os relacionamentos que já existem, tornando a experiência virtual muito mais real. Tínhamos medo que essa meninada que hoje vai dos 12 aos 18 anos vivesse num mundo paralelo, excessivamente online, não? Pois podemos respirar aliviados: diferentemente da geração Y, a Z estreita seus laços online preferencialmente com pessoas que já existem em sua vida offline.

Convivo diariamente com dois desses “espécimes”, de 12 e 16 anos, e a cada dia me surpreendo com o modo como eles enxergam as redes sociais, o mundo virtual e o real. Eles não tendem a separá-los, o que às vezes é bom, mas às vezes também é ruim. Tampouco acho isso prejudicial ou benéfico. É apenas uma abordagem diferente. Ouço direto deles que o Facebook não é sua rede favorita. É apenas mais uma. Por isso acho que o Facebook Home tem chances de encalhar.

Mas por que essa moçada está cansando do Facebook?

Simples, excesso de monitoramento. Falta de liberdade e privacidade. Até o Twitter os faz se sentirem mais livres que no Facebook — curioso, já que tecnicamente falando, a rede do passarinho é bem menos privada, não?

Instagram já é um fenômeno há tempos. O Twitter é a rede que mais cresce entre os mais jovens. LinkedIn ganha mais e mais relevância entre as corporações, e redes menores, de nicho, como a ResearchGate para acadêmicos, ganha muita força. Cada dia nasce uma nova rede social de nicho. Será que fazer parte de uma rede social “só porque todo mundo está nela” realmente é importante? Bem, as novas gerações estão achando exatamente o contrário

No início, o Facebook era uma rede de colegas e amigos. Seu âmago era a paquera. Só muito depois vieram os parentes. Hoje, além dos pais e tios, até os avós fazem parte dela — suando bastante para entender como usá-la, é verdade, mas estão lá. Qualquer adolescente fica inibido com tanto familiar olhando tudo o que se posta e compartilha. As desavenças offline com os adultos muitas vezes brotam do Facebook, onde ego e vaidade se expõem da forma mais explícita.

Ri muito quando li um post de uma garota americana de 13 anos falando que, quando acessa seu Facebook, se sente num gigantesco jantar de Ação de Graças. Ela curte as receitas de bolos da tia, as fotos da pescaria do avô e as piadas sem graça dos primos para “cumprir tabela” — e não vê a hora de sair de lá para entrar nas redes que realmente curte. Via de regra, pelo celular, para que se possa gastar preciosos minutos num lugar mais reservado, sem olhos xeretas ao redor.

Eu adicionaria mais um problema, desta vez técnico: a péssima qualidade das versões móveis do Facebook. Ao contrário do Twitter, que nasceu pronto — desde o começo se consegue ler, interagir, citar e conversar privadamente com contatos — o Facebook parece eternamente incompleto. Estamos em 2013 e, em muitos dispositivos móveis de última geração, um ato banal como compartilhar um post ainda é impossível!

E vocês, já sentiram na pele a FaceEstafa? Acham que a interface “Home” pode dar um novo sopro de vida àqueles que estão deixando a rede de lado em prol de outras mais ágeis?

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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