O serviço de inteligência dos Estados Unidos monitorava não apenas pessoas comuns com o programa de espionagem Prism. Eles também estavam com olhos e ouvidos voltados para diversas missões diplomáticas de nações europeias na América. Uma nova reportagem do jornal inglês Guardian traz uma série de detalhes sobre o funcionamento do esquema.

Por exemplo, uma máquina de fax com criptografia instalada na embaixada da União Europeia em Washington tinha uma escuta para enviar aos agentes americanos uma cópia dos documentos. O material que trafegava por ali são os tais cables diplomáticos, muitas vezes registros secretos de conclusões feitas pela missão diplomática de um ou outro país.

Slide informa que instalaram uma escuta na embaixada da UE.
Slide informa que instalaram uma escuta na embaixada da UE.

Pelo menos 38 embaixadas e missões diplomáticas estariam na mira da NSA (National Security Agency). Um slide cita as embaixadas da França, Itália e Grécia. Fora da Europa, o mesmo Prism estaria em funcionamento também em edifícios mantidos pelo Japão, México, Coreia do Sul, Índia e Turquia.

Ainda segundo o Guardian, o objetivo dos bugs era detectar discordâncias entre os Estados Unidos e os parceiros da União Europeia. Sabendo o que eles pensam, é evidente que o governo americano poderia oferecer condições mais bem alinhadas com os interesses comerciais dos europeus.

Não são citadas escutas ligadas às embaixadas do Reino Unido e da Alemanha. Também não há nada relacionado ao Brasil até o presente momento.

O presidente francês François Hollande não gostou nada de ficar sabendo de mais este detalhe dos grampos. Ele ordenou que o Prism voltado para os europeus “pare imediatamente”. Isso porque outras autoridades da Europa já tinham pedido detalhes sobre o funcionamento do programa. Entretanto, até o momento também não temos confirmação de que o Prism funcionava em território (físico) europeu.

A chanceler alemã (equivalente ao cargo de primeiro-ministro) Angela Merkel também falou sobre o assunto. Considerou “inaceitável” a espionagem de aliados.

Por sua vez, o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, já havia declarado que “atividades para proteger a segurança nacional” são usuais nas relações internacionais. Esse comentário me lembrou de algo que li num comentarista de segurança estrangeiro: as pessoas estão realmente surpresas porque uma agência de espionagem está… espionando?

Edward Snowden, delator da espionagem. Esse cara tá ferrado
Edward Snowden, delator da espionagem. Esse cara tá ferrado

Edward Snowden, o delator do esquema que anteriormente trabalhava como funcionário terceirizado da NSA, continua na área de trânsito do Aeroporto Internacional de Moscou, na Rússia. Ele pediu asilo político ao Equador. Na semana passada, o presidente equatoriano Rafael Correa disse que não aceitaria as pressões americanas para negar o asilo. Numa demonstração de força, abriu mão de um acordo de livre comércio de alguns produtos firmado entre os Estados Unidos e países da comunidade andina.

Além disso, Snowden se tornou o melhor amigo de Julian Assange, o editor-chefe do WikiLeaks que continua vivendo em uma embaixada em Londres. Adivinhe de qual país? Precisamente: do Equador.

[atualização às 14h07]

Agora há pouco a BBC noticiou que Snowden também pediu asilo político à Rússia. Resta saber se lhe será concedido. Hoje mais cedo, o presidente Vladimir Putin pediu que ele pare de vazar informações sobre a espionagem americana a jornais como o Guardian.

US intelligence leaker Edward Snowden has applied to Russia for political asylum, Russian officials say https://t.co/rHPLao7EXC

— BBC Breaking News (@BBCBreaking) July 1, 2013


[/atualização]

Meus caros, essa história ainda está só começando. Ao menos comprovamos a criatividade dos americanos ao nomear as atividades de espionagem. A operação contra a missão francesa na ONU se chama “Blackfoot” (Pé Negro); aquela contra os franceses em Washington é “Wabash”; a espionagem contra italianos recebeu o nome de “Bruneau” e “Hemlock” (um tipo de planta).

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Thássius Veloso

Thássius Veloso

Editor

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia e editor do Tecnoblog. Desde 2008, participa das principais feiras de eletrônicos, TI e inovação. Também atua como comentarista da GloboNews, palestrante, mediador e apresentador de eventos. Tem passagem pela CBN e pelo TechTudo. Já apareceu no Jornal Nacional, da TV Globo, e publicou artigos na Galileu e no jornal O Globo. Ganhou o Prêmio Especialistas em duas ocasiões e foi indicado diversas vezes ao Prêmio Comunique-se.

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