Documentos supostamente mostram quanto a Microsoft cobra para fornecer dados de usuários ao FBI

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 2 semanas

Um grupo hacker da Síria que se autodenomina Syrian Electronic Army (SEA) afirma ter tido acesso a documentos que, entre outras informações, mostram que o FBI (a polícia federal dos Estados Unidos) paga à Microsoft para ter acesso a dados de determinados usuários da empresa. Como que para provar, o grupo entregou parte destes supostos materiais ao site Daily Dot.

Os arquivos – recibos, na verdade – são atrelados à DITU (Unidade de Tecnologia de Intercepção Digital, em tradução livre), divisão do FBI que lida com demandas digitais, como o seu nome indica. O documento mais recente, datado de novembro de 2013, mostra que a entidade pagou US$ 281.000 pelas informações recebidas da Microsoft. Outro, de agosto de 2013, tem valor de US$ 352.200.

O que se verificou é que o FBI desembolsa de US$ 50 a US$ 200 por cada verificação atendida. Isso significa então que a Microsoft é mesmo uma empresa mercenária e que está disposta a “vender” informações de seus usuários por preços razoáveis? Não é bem assim.

Um dos supostos documentos
Parte de um dos supostos documentos

Logo após o vazamento destes arquivos ter se tornado público, um porta-voz da Microsoft não tardou a responder às indagações sobre o assunto. Ao The Verge, a companhia explicou que as leis dos Estados Unidos permitem às empresas cobrar reembolso pelas despesas associadas ao cumprimento de ordens judiciais válidas. Estas cobranças vêm daí: “nós tentamos recuperar alguns dos custos ligados a tais solicitações”, completou o porta-voz.

Este contexto sugere que o FBI paga para ter acesso a dados de clientes de várias outras empresas. No caso da Microsoft (e de outras companhias de tecnologia, provavelmente), os totais mensais são elevados porque centenas de solicitações são feitas todos os meses, até porque a empresa possui uma base de usuários enorme.

Mesmo assim, a polêmica em torno do assunto é grande. Há especialistas que defendem este tipo de cobrança, não só pelo esforço que a empresa empreende para recuperar os dados solicitados como também para evitar excesso de solicitações.

Por outro lado, se as faturas de apenas dois meses somam mais de US$ 580 mil, imagine o quanto as autoridades dos Estados Unidos poderiam estar dispostas a gastar com solicitações de dados considerando os últimos anos e ordens emitidas a outras companhias? Este é o ponto mais preocupante, especialmente em tempos de denúncias envolvendo a NSA.

Outro documento
Outro documento

A Microsoft também fica numa situação desconfortável nesta história, afinal, se os documentos forem verdadeiros, a empresa passará a impressão de não demonstrar qualquer resistência ao fornecimento dos dados, apesar de ter ressaltado em suas explicações que atende somente a “ordens judiciais válidas”.

Para piorar, a notícia sobre os recibos surgiu na mesma semana em que um funcionário da empresa foi preso por vazamento de informações sigilosas. Qual a ligação com o assunto? Bom, a Microsoft admitiu ter chegado ao colaborador analisando emails no Hotmail. Mesmo que a companhia tenha tido respaldo legal para fazê-lo (trata-se de uma investigação interna para defender seu negócio, afinal), o que garante que outras contas não estejam sendo vigiadas deliberadamente?

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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