Anonymous declara guerra ao Estado Islâmico. Mas será que é isso mesmo?

Paulo Higa
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• Atualizado há 2 semanas

Os grandes portais de notícias estão relatando que o grupo de ativistas hackers Anonymous declarou guerra ao Estado Islâmico, como resposta aos ataques terroristas que aconteceram em Paris na última sexta-feira (13). Um vídeo publicado no YouTube mostra um homem com a máscara de Guy Fawkes, característica famosa do Anonymous, dizendo em francês: “A guerra está declarada”.

O suposto integrante do Anonymous anuncia que esta será a maior operação já feita pelo grupo de hackers, além de ameaçar o Estado Islâmico, que reivindicou a autoria dos ataques terroristas na capital francesa. “Aguardem ataques cibernéticos massivos. […] Anônimos de todo o mundo vão caçar vocês. Vocês deveriam saber que iremos achá-los e não deixaremos vocês fugirem”, diz o vídeo.

Mas algumas coisas chamam a atenção. O vídeo, com mais de 1,5 milhão de visualizações, foi publicado em um pequeno canal do YouTube que nada tem a ver com o Anonymous. É curioso como um anúncio tão sério tenha saído em um canal que publica vídeos de trapalhadas, como “Funny people getting angry compilation” e “Try not to laugh or grin challenge”, daquelas que vemos no Domingão do Faustão. Para mim, não parece um local muito adequado.

Neste canal do Anonymous no YouTube, com selo de verificação, o último vídeo publicado comenta sobre o Ku Klux Klan, nome dado a organizações racistas que pregam a supremacia branca; não há menção sobre o terrorismo na Franca. Além disso, no @YourAnonNews, conta usada para disseminar informações sobre as atividades do Anonymous, não há ameaça ao Estado Islâmico, nem comentários sobre o vídeo publicado pelo canal de trapalhadas do YouTube.

Aliás, vamos assistir a um vídeo do canal para o texto não ficar muito sério:

O @YourAnonNews retuitou um texto no Pastebin que comenta o posicionamento da mídia sobre o caso: “É assustador como a grande mídia adora essa operação. Tudo o que o Anonymous precisa fazer é enviar um vídeo com promessas vazias, e jornalistas de todo o mundo parecem pensar que isso vale uma notícia”.

A própria atitude divulgada no vídeo do suposto Anonymous é criticada: “Como exatamente eles pretendem parar uma organização terrorista internacional que tem sido capaz de planejar ataques independentemente da espionagem em massa feita pelos governos ao redor do mundo? Derrubar a comunicação pode atrapalhar a inteligência valiosa que pode ser usada para rastrear esses terroristas”.

Várias notícias falsas sobre o Anonymous já foram publicadas, a maioria relacionada a ataques cibernéticos. Em 2011, por exemplo, o Anonymous supostamente ameaçou que derrubaria o Facebook, o que depois se mostrou falso. E há uma série de outros fatos irrelevantes associados ao grupo, como uma ameaça a Kanye West, porque o mundo está indo muito bem, obrigado, e tudo o que temos de fazer para salvar a humanidade é atacar um rapper. Ou um vazamento de UDIDs de dispositivos da Apple obtidos do FBI — posteriormente, o CEO da Blue Toad confirmou que os dados foram vazados de sua empresa, não do FBI.

Isso acontece por dois motivos. O primeiro é que qualquer um pode se passar por Anonymous, enviar um vídeo no YouTube e ameaçar um grupo ou empresa. Não existe um porta-voz oficial para confirmar ou desmentir as ameaças, e o que não falta na internet são pessoas querendo chamar a atenção. O segundo é que, obviamente, qualquer notícia sobre o Anonymous gera audiência e cliques, mesmo que falsa.

Mas enfim, vamos acreditar que o Anonymous declarou guerra contra o Estado Islâmico. O que será que eles vão fazer? Atacar o site do grupo terrorista? Ok.

Atualização às 22h40.

Horas após a publicação deste artigo, o Anonymous se pronunciou pela primeira vez sobre os ataques terroristas na França. No YouTube, o grupo expressou sua “solidariedade com as vítimas, os feridos e suas famílias”, afirmando que fará “tudo o que for necessário para acabar com as ações do grupo terrorista responsável pelo ataque” — sem, no entanto, fazer ameaças em tom de guerra ao Estado Islâmico, como no suposto vídeo francês.

Assista ao vídeo do Anonymous:

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Paulo Higa

Paulo Higa

Ex-editor executivo

Paulo Higa é jornalista com MBA em Gestão pela FGV e uma década de experiência na cobertura de tecnologia. No Tecnoblog, atuou como editor-executivo e head de operações entre 2012 e 2023. Viajou para mais de 10 países para acompanhar eventos da indústria e já publicou 400 reviews de celulares, TVs e computadores. Foi coapresentador do Tecnocast e usa a desculpa de ser maratonista para testar wearables que ainda nem chegaram ao Brasil.

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