Um desenvolvedor usou o Facebook para monitorar o sono de seus amigos

Jean Prado
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• Atualizado há 2 semanas

Já imaginou os dados que o Facebook tem sobre você? E a quantidade deles que são públicos? Para explorar o quão fundo isso pode ir, um desenvolvedor dinamarquês criou uma ferramenta que monitora o sono dos seus amigos mais ativos do Facebook só com os dados públicos do Messenger.

A ideia é a seguinte: devido à enorme frequência com que os usuários da rede social a visitam, por vezes sem nem falar com ninguém, conseguimos prever (até naturalmente) se a pessoa está dormindo ou não, pelo seu “visto pela última vez”.

De início pode parecer maluquice, mas até que faz sentido. Várias pessoas dormem com o celular perto da cama e acabam checando a rede social antes e dormir e logo ao acordar, e o intervalo desses status pode servir para monitorar até o sono da pessoa. Para alguém muito ativo na rede, isso funciona bem até demais.

Mas as informações que o Facebook dá nas suas plataformas não são tão precisas. Para os usuários, a rede social mostra apenas “ativo há 3 horas” ou “online”, por exemplo. Então Søren Louv-Jansen, desenvolvedor na Tradeshift, começou a procurar um jeito de conseguir essas informações com mais exatidão. A motivação foi a frustração de sua namorada com o fato de seus amigos ficarem sabendo a última vez que ela entrou na rede.

messenger-desktop

Por meio da nova plataforma Messenger, lançada em abril do ano passado, Louv-Jansen encontrou uma maneira de acessar exatamente a última vez que um usuário ficou online no serviço de mensagens no Facebook. E, para a sua surpresa, nem é tão difícil.

A data, hora e até os segundos que marcam a última vez em que certa pessoa ficou ativa podem ser acessados no código-fonte do messenger.com, no script em que começa com require(“TimeSlice”) no fim do código. A informação que ele conseguiu, como explica nesse post do Medium, pode ser facilmente estruturada:

“lastActiveTimes”: {
 “3443534”: 1456065265,
 “675631492”: 1456066386,
 “8657643”: 1456062331 }

Que mostra, respectivamente, os IDs de usuário e o horário, no formato Unix. Depois de devidamente traduzida para termos que conseguimos entender, ela fica assim:

Peter was last active on Feb 21 2016 15:34:25.
John Doe was last active on Feb 21 2016 17:15:11.
Elizabeth was last active on Feb 21 2016 10:09:55.

Então Louv-Jansen criou um serviço simples que verifica o Facebook a cada 10 minutos para pegar a última vez que a pessoa foi vista e gerar uma imagem com essas informações. Observe como a ferramenta funciona no vídeo abaixo, que detalha a última vez que seus amigos foram vistos, gerando um gráfico muito parecido com aplicativos específicos para analisar o sono.

A análise de uma pessoa fez ela perceber que acordava por volta das 7h ou 8h da manhã nos dias da semana e às 9h aos fins de semana. O serviço também estima a duração do sono, além do período exato que compõe a última vez que o usuário checou a rede, seja antes de dormir ou logo depois de acordar.

Em entrevista ao jornal The Washington Post, o desenvolvedor apontou que não é com todo mundo que a ferramenta é eficaz – varia com o quão ativo o seu amigo é na rede. Com os de Louv-Jansen, segundo ele, o serviço funcionou extremamente bem com cerca de 30% de seus amigos, enquanto cerca de 70% ele mostrou apenas uma “certa” eficiência. A ferramenta costuma ser mais precisa nos dias de semana.

Para não deixar seu trabalho, movido pela curiosidade e pela frustração de sua namorada, ser em vão, ele disponibilizou o código no GitHub. Qualquer um com uma mínima experiência em programação pode instalar em um servidor local e monitorar seus amigos.

monitorar-amigos-facebook-messenger

Mas… espere. Monitorar os amigos não é uma coisa legal. Louv-Jansen também acha. Então por que essa ferramenta foi criada? Ao Washington Post, ele disse não ter criado o serviço para stalkear os amigos. “Eu quero que as pessoas estejam cientes que elas estão deixando passos digitais a todo lugar que vão”, disse ao jornal. Ele disse não se orgulhar de pessoas que usarem a ferramenta para espionar os amigos.

Em seu post no Medium, ele explicou que a moral da história é que não conseguimos esconder alguns dados nossos que são cruciais, mesmo que não percebamos que estamos deixando-os por aí. Ainda que a rede social decida esconder essas informações em algum momento, “eles sempre poderão fazer sua própria análise de dados, provavelmente usando-a para criar mais anúncios específicos”.

Na semana passada, ao perceber que a ferramenta já tinha sido baixada por milhares de pessoas, o Facebook avisou ao Louv-Jansen que ela violava os termos de serviço da rede, e que ele deveria dizer para as pessoas não usarem. Até agora, o desenvolvedor conseguiu resistir e não tirou a ferramenta do ar.

Segundo ele, o melhor jeito de chamar a atenção do público sobre a privacidade na rede social é deixar a ferramenta disponível para todos, em vez de apenas dizer que ela funciona: “As pessoas devem estar cientes de que tudo que elas fazem [digitalmente], elas não estão sozinhas, alguém está sempre vendo. Não que eu diga que o Facebook é maligno. Isso é só um efeito colateral do que eles estão fazendo”.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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