Quer aprender mais? Troque o Facebook por games
Desde os longínquos tempos do Atari (talvez até antes) que os videogames são cercados de boatos infundados. A minha avó, por exemplo, soltou um “não falei?” quando apareci na casa dela com óculos aos sete anos de idade. Outra frase muito ouvida pelos jogadores: “isso aí vai te deixar burro”. Nada disso. Vários estudos sugerem exatamente o contrário.
Um dos mais recentes foi conduzido por Alberto Posso, professor do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne. A pesquisa tinha como objetivo principal descobrir se redes sociais e jogos eletrônicos, especialmente nas versões online, podem prejudicar o rendimento escolar dos adolescentes.
Para tanto, Posso analisou dados de 12 mil estudantes australianos com idade na faixa dos 15 anos a partir de um programa de avaliação estudantil que, além de qualificar o desempenho dos alunos em matemática, ciências e interpretação de textos, recolhe dados das atividades online que eles desempenham — esse aspecto inclui redes sociais e, claro, games.
Ao jornal El Mundo, Posso revelou que esperava encontrar relação entre uso das redes sociais e desempenho mais baixo nas disciplinas avaliadas. Isso, de fato, aconteceu. O que ele não esperava é que os jogos pudessem estar associados a um efeito contrário: notas mais altas.
Os alunos que revelaram participar de jogos online diariamente tiveram, em média, 15 pontos a mais em matemática que o restante dos estudantes. Em ciências, essa média foi de 17 pontos. Posso também afirmou que os jogadores tiveram resultados mais interessantes na compreensão de leituras.
Já entre os alunos que afirmaram acessar redes sociais todos os dias e por várias horas, a média obtida em todas as disciplinas ficou 20 pontos abaixo na comparação com outros estudantes.
Em resumo, o recado é esse: jogue mais, fique menos tempo nas redes sociais. O problema de serviços como Facebook, Twitter e Snapchat é a dispersão que eles promovem. A busca por curtidas, visualizações e comentários acionam as áreas de recompensa no cérebro e, portanto, tendemos a procurar esses pequenos momentos de prazer cada vez mais. Uma mente dispersa ou focada em outras atividades vai prejudicar o desempenho do indivíduo nos estudos ou no trabalho, invariavelmente.
Alberto Posso reconhece que o seu estudo não pode ser encarado como verdade absoluta. O desempenho escolar depende de numerosos fatores, como aspectos culturais, apoio familiar e conteúdo educacional de qualidade. Mas vários outros estudos reforçam a tese de que os games podem mesmo contribuir para o desenvolvimento de habilidades importantes.
Só para dar alguns exemplos, jogos como Minecraft e, mais recentemente, Pokémon Go, além de estimularem o raciocínio lógico, as capacidades sensoriais e a rapidez nas respostas, colocam os jogadores em contato com outras pessoas. Isso é importantíssimo para o desenvolvimento de habilidades sociais. Um aluno que interage bastante na escola e se sente parte de um grupo terá mais chances de obter boas notas.
É claro que passar o dia todo jogando não é recomendável. Como sempre, o pecado está no excesso. No outro extremo, não é porque um aluno não joga que ele terá desempenho mais baixo. Cada caso é um caso. Mesmo assim, estudos como esse são relevantes. Eles indicam, por exemplo, que a gamificação pode ser um bom jeito de aumentar o envolvimento dos alunos nas aulas.