Parece uma lei de mercado: basta algo, alguém ou alguma marca ganhar popularidade para que os oportunistas surjam querendo tirar uma casquinha. Entre no site de uma livraria e procure pelo best-seller A Cabana: no resultado você encontrará a obra e, surpreendentemente, várias outras pseudo-obras que nada mais fazem do que pegar carona na fama da primeira. E elas acabam vendendo bem. Por isso mesmo esse tipo de iniciativa acabou virando uma praga editorial.

Quer mais? Veja quantos livros há por aí “discutindo a filosofia” de obras famosas, ou mesmo de filmes e séries de TV. Há livros sobre a “mitologia” de Harry Potter, Star Wars, Crepúsculo e muitos outros. Fui numa livraria e dei uma olhada em dois desses livros, um sobre Lost e outro sobre House. Em termos de literatura é puro desperdício de papel, mas não há como negar que são minas de ouro para seus autores.

Lógico que a mesma coisa aconteceu com a App Store. Não é a primeira vez que falo de oportunistas na loja de aplicativos da Apple; lembram do cara-de-pau que “criou” um leitor de RSS com um browser e a página móvel do Google Reader dentro, cobrando U$ 0,99 por ele?

Bem, a moda agora é pegar carona na fama de aplicativos alheios. Entre nas buscas da AppStore e procure pelos games mais populares do momento. Além dos verdadeiros, em versão paga ou lite, uma corrente de vários outros apps vem junto, usando o nome ou a imagem do original, com a desculpa de serem cheats (truques e dicas para se dar bem no jogo) ou guides.

Desconheço o conteúdo desses aplicativos, mas basta ler os comentários na seção de avaliação dos usuários para ver que não valem a pena. E tem muitos queixosos alegando que compraram achando que seria o app original. Os screenshots demonstrativos não ajudam em nada: em alguns deles, a única tela mostrada não serve para nada!

A fim de não serem desmascarados na avaliação dos usuários, esses picaretas criam usuários falsos que só colocam 5 estrelas ou elogiam os aplicativos da própria empresa. E, para provar que esses desenvolvedores são meros oportunistas, clique sobre o nome deles para ver o que mais eles tem disponível na loja. A InTekOne, LCC, que faz cheats do Angry Birds, top seller do momento, possui 58 apps, quase tudo a mesma coisa: cheats e guides de jogos alheios; todos usando nome e marca/imagem dos originais.

A culpa é, em parte, do próprio sistema de buscas da App Store, que é vago demais. O termo que você usa pode resultar em título, autor ou até mesmo a descrição de programas. Na busca por aplicativos inocentes, misteriosamente aparecem Fart Machines ou Sexy-qualquer-coisa no meio. O abuso é tamanho que, ciente do que os usuários procuram, um desenvolvedor espertinho cadastrou sua empresa como “Video Game Web Cam Chat Girl Sexy Bikini No Sex Girls Hot Photo . com”. Dá para acreditar?

Denuncie

Você pode dizer que o mercado é assim mesmo, que o mundo é dos espertos. Na realidade, usar nome e marca alheia é infração de conteúdo autoral, e deve sim estar sujeito à punição.

Se você é usuário, abra o olho e não jogue fora seu dinheiro nessas esparrelas. Se você é desenvolvedor e encontrou alguém querendo se aproveitar de sua criação, usando nome, imagem ou marca, denuncie-o em appstorenotices@apple.com. Diante das denúncias de diversos desenvolvedores de respeito, como Marco Arment, a Apple já respondeu dizendo que barra a liberação desse tipo de aplicativo, e está fazendo uma limpa na loja. A julgar pela quantidade que burlou o filtro, dá para imaginar a trabalheira que eles vêm tendo ultimamente…

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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