Dessa vez, até eu, usuária de todos os sistemas operacionais móveis, tenho de dar o braço à torcer para a Apple. O iPhone é, há 3 anos, a porta de entrada mais amigável ao mundo da internet móvel. Conquistou milhões de usuários leigos.

Agora, com a dupla iPhone 4 e iOS 4, será a vez dos mais críticos e exigentes sucumbirem. Será que todos os demais sistemas estão com os dias contados?

Panorama da concorrência, segundo um ponto de vista de usuária:

Android: aposta na diversidade de modelos e fabricantes, sendo democrática nos gostos, bolsos e aplicações. Contudo, a falta de uma padronização nas atualizações de OS deixa os modelos obsoletos muito cedo. Por exemplo, tem gente com aparelho 1.5 ou 1.6 cada vez mais zangada por causa do número crescente de apps exigindo versões mais novas para rodar. Mas modelos nessas versões são lançados todos os dias! A impressão é que se tem Androids de primeira linha, tipo o Nexus One, privilegiado e sempre atualizado, e outros de segunda linha, que jamais serão atualizados. Para agravar, as fabricantes são sempre escorregadias na hora de dizer se atualizarão ou não, e quando.

Symbian: moribundo, já tem vela e caixão encomendados, mas a família ainda não desligou o sistema de respiração artificial. A morte só será declarada quando seu substituto (MeeGo?) crescer e aparecer. Tudo ainda fica por baixo dos panos, por causa do número gigante de aparelhos na ativa com esse sistema. Eu ainda estou tentando entender “novidades” como o recém-lançado E73.

Windows Mobile: não dá para opinar, pois está em plena fase de transição. Se a Microsoft não focar só em redes sociais, modinha do momento, e manter o perfil produtivo-corporativo, o Windows Phone 7 será bem sucedido. A julgar pelos demos do Office Mobile que circulam por aí (SharePoint, colaboração etc.), a empresa está no caminho certo.

Blackberry: taí um aparelho que, com o passar dos anos, não comprometeu sua eficiência em prol de modismos. Ainda que algumas iniciativas, como o touchscreen, não tenham sido bem sucedidas, seus modelos mais recentes são ótimos. A bateria é quase milagrosa. Contudo, o OS precisa se renovar. Ninguém merece aquele navegador de 2004.

webOS: com a compra da Palm pela HP, ninguém sabe o que será do sistema. Fracasso de vendas, não empolgou os desenvolvedores. Mas tecnicamente ele é muito bom. Circula por aí que o plano da HP é colocá-lo num tablet. Dou o maior apoio! Sistemas móveis vão sobrepujar os convencionais na maioria dos dispositivos!

Fraquezas

Numa busca ávida por compradores, as fabricantes incorporam a seus aparelhos itens que consagraram o smart da Apple: telas capacitivas e grandes, design elegante e interface simples.

Então por que todas fracassam?

Porque não é imitando que se ganha mercado. Os pontos fortes são exatamente aqueles mais difíceis de serem derrubados. Por que não se concentram nas fraquezas?

É evidente que o cara que não quer um iPhone, não é pelos seus pontos fortes, mas pelos fracos! Ainda que o novo iPhone e o iOS sejam páreo duro, ainda há várias lacunas: a obrigatoriedade de uso do iTunes, as restrições de serviços das operadoras móveis, e o excesso de dependência da “nuvem”, que acaba drenando a bateria.

1. iTunes: o software é grande e pesado, principalmente em Windows. É verdade que ele é completo e não tão complicado de usar, mas sempre haverá gente que quer apenas arrastar-e-soltar suas músicas e vídeos na memória do aparelho. É exatamente nesse caminho que o Android pode tropeçar: o Google quer criar um serviço semelhante para sua plataforma!

2. Operadoras: sim, tem muita gente disposta a usar aparelhos que não te obriguem a assinar planos que não condizem com o uso que fazem. Assim como tem muita gente que quer usar seu pacote de dados do jeito que querem, e não como a operadora manda!

3. Nuvem + bateria + dados: sim, ainda tem muitas pessoas que não querem colocar seus calendários online e não tem a menor necessidade de serviços push. Tudo o que elas querem é sincronizar agenda, contatos, tarefas e notas com o Outlook, do jeito que faziam com seus Palms. Todo santo dia alguém me procura para “consertar” esses dispositivos de nova geração, para funcionarem de um jeito mais offline. Ainda mais com o absurdo que pagamos por planos de dados no Brasil. E essas pessoas também querem bons aplicativos nativos de agenda, contatos, tarefas e notas no seu mobile – há uma nova tendência de “matar” o app de tarefas. Os sistemas contemporâneos acham que sincronismo via cabo é coisa dos anos 90. Pode até ser, mas quem sabe o que é melhor para ele é o próprio usuário. Que também está cada vez mais descontente com as baterias, que não acompanham as demandas online modernosas! Nuvem tem que ser opção, e não obrigação.

Já se passaram 3 anos, mas a concorrência não fez a lição de casa como devia. Será cada vez mais complicado, mas ainda tem muita gente por aí disposta a fugir da tirania de Mr. Jobs. Alguém a fim de arregaçar as mangas?

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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