5 portáteis que perderam para o Game Boy
Conheça os concorrentes do Game Boy que perderam feio para o portátil da Nintendo.
Em março escrevi um artigo narrando a breve vida de cinco consoles portáteis que ficaram apenas como breves notas de rodapé na história dos videogames. Entre eles estavam o Tapwave Zodiac, um misto de PDA com videogame que nasceu muito antes do tempo em que tal idéia seria sustentável, e o Gizmondo, um console produzido por uma empresa cujo manda-chuva acabou na prisão por envolvimento com a máfia.
Entretanto, o hall da infâmia dos videogames portáteis não se limita aos cinco exemplos mencionados no texto de março. Há mais alguns videogames de bolso a serem submetidos a autópsia.
TurboExpress

Lembra alguém?
Se você assistiu o filme Inimigo do Estado, talvez lembre deste clone esquisito do Game Boy. Ao contrário do que alguns podem ter pensado (como foi o meu caso), o aparelho não era um mock up não-funcional empregado para que a Touchstone Pictures evitasse fazer propaganda gratuita da Nintendo: o TurboExpress existiu de verdade e era a versão portátil do TurboGrafx-16. Esse, por sua vez, também é um console obscuro.
Tecnicamente, o Turbo Express era ambicioso. O portátil rodava todos os jogos do seu irmão mais velho, o que é impressionante se você considerar que eles foram lançados com apenas três anos de diferença. Por comparação, o NES e o GameBoy foram separados por quatro anos, e não eram compatíveis com os mesmos jogos.
Além disso, o TurboExpress tinha uma tela a cores e com iluminação traseira — uma vantagem da qual quase todo competidor do Game Boy se gabava —, e era possível até mesmo conectar um adaptador que o transformava numa televisão portátil (veja no vídeo abaixo).
(YouTube)
O conceito por trás do TurboExpress era algo que até hoje ainda não se estabeleceu: um console portátil compatível com todos os games do seu console de mesa. A Sega também tentou isso (sem sucesso), como veremos mais tarde. Talvez haja um bom motivo para o fato de que esse paradigma de console portátil nunca tenha ido muito além dessa etapa experimental…
Apesar de hardware avançado e jogos mais complexos, o TurboExpress acabou entrando pra história dos videogames como nada senão um clone do Game Boy. Uma olhada de soslaio para o aparelho deixa bastante claro o motivo dessa reputação: o console é visualmente bastante similar ao portátil icônico da Nintendo, do formato à posição dos botões.
E se você achava que o GameGear acabava com suas pilhas muito rápido, fique sabendo que o TurboExpress usava as mesmas seis pilhas AA, mas as fazia durar apenas três horas.
Atari Lynx

Lynx
Talvez pareça estranho, mas a Atari de fato lançou um console portátil — na verdade, a Microsoft parece ser a única empresa que nunca tentou a sorte no mercado de bolso.
É importante lembrar que a Atari não desenvolveu o aparelho. A responsável por isso foi a finada Epyx Computer Games, que na época estava no vermelho e vendeu a licença do console ainda em desenvolvimento para a Atari.
Lançado em 1989, mesmo ano em que o Game Boy chegou nos EUA (o Game Boy foi lançado em agosto, enquanto esse concorrente apareceu em setembro), o Lynx é notável por ser o primeiro console portátil com tela de LCD colorida. Além disso, o era console ambidestro — ou seja, tinha configuração para destros ou canhotos —, uma função que não se vê muito em videogames. E o Lynx era um console 16 bits (ou seja, comparável a um SNES).
Algumas decisões em relação ao design do Lynx eram de se estranhar. Primeiro, o console era imenso (aquela tela que você vê na foto tinha 3,5 polegadas, então dá pra imaginar o quão grande o negócio ficava nas mãos). Além disso, o alto-falante do console ficava entre os botões de ação, fazendo com que a mão obstruísse a saída de som.
Apesar destes pormenores, era um console tecnologicamente superior ao Game Boy. Não posso deixar de ressaltar que essa era a característica em comum de todos os concorrentes da Nintendo na época.
No fim, o Game Boy venceu o Lynx graças à combinação de preço mais baixo (US$ 90 contra os US$ 180 do concorrente; literalmente o dobro) e maior estoque. Por causa dos componentes de fabricação mais onerosa e demorada, o Lynx demorava a aparecer nas prateleiras. Como diz o ditado popular, quem não dá assistência abre concorrência. Mais um desafiador tecnologicamente superior caiu perante o Game Boy.
Aos que estudam a história dos videogames, nota-se que o sucesso de vendas do Nintendo Wii (tecnologicamente inferior à concorrência, porém mais acessível) foi a história se repetindo.
Gamate
Dos tantos desafiadores ao trono do Game Boy, o Gamate foi um dos que mais chegaram perto da a fórmula que tornou o portátil da Nintendo tão popular — tela monocromática, jogos de 8 bits, preço acessível. Até o aviso de tela de matriz de pontos o Gamate imitou.

Gamate
O Gamate foi lançado apressadamente como resposta ao Game Boy por uma empresa asiática chamada Bit Corporation (que já tinha experiência no mercado produzindo jogos de Atari 2600 e NES), e chegou aos EUA com um preço equivalente ao do Game Boy. A empresa faliu poucos anos depois, mas algumas subsidiárias continuaram fabricando e distribuindo o console em outros continentes, tornando-o assim um dos poucos videogames que continuaram sendo produzidos anos após a morte da companhia que o lançou.
Assim como o próprio console, os jogos eram cópias explícitas de tudo que fez sucesso no Game Boy. Veja o jogo Cube Up, por exemplo: é praticamente uma xerox de Tetris, desde o design dos blocos, passando pela tela de opções do jogo e até mesmo o prédio parecido com o Kremlin do jogo original.
Como se não bastasse todo esse jeitão de cópia paraguaia, ainda temos a questão do nome. “Gamate” é obviamente uma corruptela de game (ou “jogo”) e mate (“parceiro” ou “companheiro”), ficando assim o “parceiro de jogo”, mais uma clara influência do Game Boy, que pode ser traduzido livremente como “garoto de jogo”.
Mas o problema não é mais essa imitação, é a pronúncia do nome que escolheram. Gamate tem a mesma sonoridade de “gay mate”, ou “parceiro gay”. Não consigo imaginar muitas crianças norte-americanas correndo para os pais dizendo que querem um “gay mate”.
Sega Nomad
Quando detalhei o TurboExpress, mencionei que a Sega também teve um console portátil cuja finalidade era rodar jogos de seu console de mesa. Este console foi o Nomad.

Nomad
O Nomad foi uma evolução do Megajet, uma versão menor do Mega Drive que linhas aéreas japonesas disponibilizavam para passageiros (e que ainda era conectado a uma televisão, como nos consoles convencionais).
Lançado em 1995, o Nomad chegou seis anos depois do Mega Drive. O console já estava perdendo tração e o seu sucessor, o Saturn, havia entrado no mercado, o que invariavelmente reduz o interesse do público pelo videogame antecessor.
E não esqueça que o Nintendo 64 e o Playstation também entraram no ringue dos consoles nessa época. Gráficos 3D eram o arauto daquela geração, e no momento os gamers não queriam mais saber de jogos de 16 bits.
O Nomad chegou ao mercado por 180 dólares, e nem com um drástico corte de 100 dólares da etiqueta de preço o console vingou.
Vale lembrar que o Nomad era um híbrido, na verdade. Além de poder ser jogado no ônibus e no banheiro, ele podia ser ligado à uma TV e tinha até entrada pra um controle de Mega Drive, permitindo multiplayer.
Game.com

"ponto com" só no nome
Meu primeiro contato com o Game.com foi numa edição da Superinteressante. Lembram aquele trecho da revista em que os analistas da redação comparavam dois produtos, classificando-os como “Liga” e “Desliga”? Então, naquela edição o “Desliga” era o Game Boy, enquanto o prestigioso título de “Liga” foi dado ao Game.com.
E o motivo é que, enquanto o Game Boy era apenas um brinquedo, o Game.com fazia as vezes de PDA (lembro que o redator até arriscou a profecia de que os videogames do futuro seriam todos assim, polivalentes).
O aparelho tratava-se de um misto de Palm Top com videogame portátil com capacidades rudimentares de conexão à internet. Estranhamente, o console não tinha SDK (o conjunto de ferramentas pra desenvolvimento de software); todos os jogos eram desenvolvidos pela própria Tiger Electronics. Essa dependência em jogos feitos apenas pela fabricante resultou em apenas vinte jogos lançados.
O único legado do Game.com é a pronúncia do nome. Fala-se “game com”, omitindo o ponto; talvez um reflexo de uma época em que não se tinha ainda familiaridade com a forma de se referir a sites. Creio que o “.com” foi jogado no título apenas pra estabelecer na mente do possível consumidor a correlação com a capacidade (limitada) de conectividade.
E, claro, a propaganda do console que literalmente ofende o cliente.
(YouTube)
É lugar comum que o Game Boy dominou completamente a preferência dos aficionados por games portáteis. Conhecendo o número de desafiantes, o feito é ainda mais impressionante — ainda que tantos deles fossem tentativas incompetentes de usurpar o trono da Nintendo.