Distribuição de filmes e séries online ainda é patética

Bia Kunze
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• Atualizado há 1 semana

Gerou bastate repercussão a chegada da Netflix no Brasil. Praticamente todos os veículos de comunicação, na área de informática ou leigos, noticiaram.

Não resta dúvidas que o futuro do entretenimento audiovisual é o streaming. O que me espanta é a demora que estúdios, produtoras e distribuidoras tiveram para se dar conta disso. Conta-se, por cima, cerca de uma década de troca livre de arquivos pela internet. Com o tempo, filmes e música se tornaram a maior parte deles.

Não se trata de mera pirataria. Muitas vezes, o download alternativo é o único meio de acesso por fãs de séries e filmes. É inaceitável, em tempos onde um espirro no Camboja causa gripe no mundo inteiro, que a distribuição de conteúdo se baseie em calendários diferentes para cada região do mundo — algumas até ficando de fora. A informação está globalizada e isso é irreversível.

Lembram-se da badalada série Lost? Nos últimos capítulos, tinha gente que nem queria esperar o download… preferiam acompanhar os fãs norte-americanos, que botavam uma webcam na frente do aparelho de TV e transmitiam em tempo real o programa para todo o mundo. Qualidade de imagem era o de menos.

Os mais velhos podem alegar: “Ah, mas essa molecada anda impaciente demais… no meu tempo os enlatados americanos levavam anos para chegar à TV aberta daqui…” Pois bem, no meu tempo, quando eu assistia “Chips” e “A Super Máquina”, não havia redes sociais e fóruns de internet onde fãs afoitos mal viam a hora de discutir com o mundo o episódio mais recente. Os tempos mudaram, ponto final.

Netflix no PS3

A quantidade de dinheiro que se perde com isso é enorme. Os detentores dos direitos audiovisuais lamentam, e com razão. Contudo, troca-se com frequência os pés pelas mãos. O streaming pode ser a saída para atender à nova geração sem amargar prejuízos financeiros. O Netflix é um fenômeno nos EUA, e acusa-se os milhões de assinantes do serviço de serem responsáveis pela derrocada da Blockbuster.

E no Brasil? Bem, aqui tudo é ainda pior. A alternativa à TV aberta é a TV a cabo, uma verdadeira vergonha alheia de tão ruim. A programação é péssima, com muitas repetições; muitos canais transmitem episódios de séries fora de sequência; nem sempre se pode optar por dublagem ou legendas (boa parte delas ruim); os intervalos comerciais são longos e ridículos — ainda não entendo sequer por que existem. E sim, as novidades continuam demorando a chegar. Portanto, serviços de streaming podem ser a solução, certo?

Bem, não por enquanto. Meus primeiros dias de Netflix foram decepcionantes. Pra começar, a versão para dispositivos móveis ainda não existe — espera-se para até o fim do ano. O catálogo ainda é pequeno, sem categoria de lançamentos. Boa parte dos filmes são aqueles que mofam nas estantes das locadoras, mas, inexplicavelmente, a maioria dos clássicos do cinema e filmes de Oscar está ausente.

E o problema mais grave, ao meu ver: muitos filmes estão disponíveis somente em versão dublada! Juro que isso não consigo entender. Tudo bem que pode haver maior demanda por filmes dublados, mas a grande vantagem da internet é poder escolher como se quer assisti-lo. No meio digital, isso é tão simples! Qual a desculpa?

Assim, nem vou esperar o término do meu período de degustação. Com uma semana de uso, estou encerrando o serviço. Alguns profissionais da área de distribuição me disseram que isso é mais complicado do que parece. Depende de negociações, das legislações específicas de cada país e das partes envolvidas — bastante gente. Mas algum deles desconhece a internet? Engraçado, a palavra “opção” era pra ser o trunfo do conteúdo online, mas isso só continua existindo nos canais extra-oficiais. Pior que eu me vejo cada vez mais num beco sem saída. Até as salas de cinema, seja nas grandes ou pequenas redes, estão preferindo transmitir apenas filmes dublados! Se eu quiser ver versões legendadas, é preciso caçar cinemas na cidade e se sujeitar a horários esdrúxulos, tipo terça-feira à uma da tarde.

Não é a toa que sites de distribuição de conteúdo e comunidades de legendadores só aumentam. Parece que quanto mais o tempo passa, maior fica o vácuo entre oferta e demanda. Os canais oficiais ainda só se preocupam em agradar uma “massa”, uma maioria. É tão difícil compreender que no meio online isso já não mais existe?

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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