Filtrar conteúdo é uma arte

"Está cada vez mais difícil selecionar o que presta."

Bia Kunze
Por
• Atualizado há 1 semana

Gente… Nunca foi tão complicado ler notícias. Não me refiro à blogs, redes sociais, mídias alternativas. Estou falando do convencional: jornais, revistas.

“Hein? A Bia pirou? Com tanto jornal e portal de notícias na web, abundantes de conteúdo, e de graça?” Sei que parece paradoxal, mas o excesso de informação muitas vezes pode ser tão ruim quanto a informação escassa.

Digo isso por experiência própria. Manter-se informado virou um exercício de sabedoria e paciência. E nome do dilema é… FILTROS.

Está cada vez mais difícil selecionar o que presta nos grandes portais noticiosos da web. O termo “o que presta” é algo bastante subjetivo, mas o fato é que notícias irrelevantes entrenharam-se em todas as editorias possíveis e imagináveis.

Cada um de nós tem um jornal favorito. Apesar de gostarmos de alternar entre as fontes, sempre há aquela “primeira opção”, onde vamos de cara quando precisamos de uma informação específica ou, simplesmente, saber o que está acontecendo no mundo.

O veículo que era minha “primeira opção” foi perdendo espaço, até ser completamente abolido por causa do conteúdo fraco.

Antigamente, o que contava era a venda de exemplares. Hoje, são os pageviews. Como se cada exemplar de jornal fosse fragmentado, vendido por página. Assim, chamar a atenção do internauta para ganhar um clique tornou-se o mais importante de tudo.

Por isso fomos inundados por notícias de celebridades. Por mais que você fuja, elas caem na sua frente! Como filtrá-las? RSS? Impossível, você assina um canal e recebe 200 manchetes de uma só vez, e aquilo que realmente importa fica escondido no tsunami de feeds. Não adianta nem filtrar por editoria! Você quer saber dos gols da rodada? No caderno de esportes fatalmente haverá uma nota sobre a última periguete a engravidar de um jogador. Até os sisudos cadernos de economia e política não escapam. Desde quando o astro internacional visitando uma comunidade no Rio, ao lado de autoridades do governo, é política?

Mas a pior de todas é a seção de entretenimento, ou cultura, ou seja lá que nome deem. É tanta fofoca e notícia inútil que dá aflição! Eu só quero saber de resenhas de livros ou filmes e as últimas estréias no cinema. Mas não adianta. Entre outras coisas, sou obrigada a filtrar 100 manchetes do tipo “filha de Tom Cruise compra seu primeiro sapatinho da Gucci.”

É mentira, mas bem que poderia ser verdade

Boletins por email? Também não terá valia, uma vez que haverá um editor por trás selecionando as notícias mais importantes — que para ele, são as que dão mais cliques. Pode ter certeza que lá estará a mais recente baixaria que passou num reality show.

Compreendo que o melhor para determinados temas são os blogs especializados. Acontece que eu também quero saber como estão as bolsas, o que o congresso está fazendo, além de assuntos triviais — mas fundamentais — como o trânsito da minha cidade, intempéries climáticas, projetos das prefeituras. Conteúdo regional! Sem chance. O que predomina são as noitadas (ou mesmo infrações de trânsito) das celebridades locais.

Outro dia estava na homepage de um grande portal uma notícia sobre uma modelo que contou no Twitter que quebrou o braço. Ao clicar na notícia, lá está uma foto (de arquivo, e com pouca roupa, lógico) da beldade, uma ligeira descrição do acontecimento e a postagem dela no Twitter, na íntegra. E só! A notícia tinha 3 parágrafos, de 2 linhas cada! Pensei com os meus botões: isso apareceria num jornal impresso? No máximo numa coluninha de fofocas, bem escondida no meio de notas sobre filmes na TV.

Vocês haverão de dizer: “não quer ler, não leia, não clique! Tem informação para todos os gostos!” Errado. Eu insisto: não há como fugir. Elas predominam, de modo que perde-se incontáveis minutos caçando uma nota sobre as estréias no cinema. E nem sempre se acha. Certos malabaristas do jornalismo conseguem infiltrar pérolas até no caderno de ciência!

Eu fiz de tudo. Troquei várias vezes de jornal, assinei conteúdo exclusivo para pagantes — na esperança de receber conteúdo com mais profundidade, ou que passou ao menos por um revisor, pois o nível dos portais abertos, que às vezes são meras traduções de sites gringos, são de fazer Machado de Assis sentir vergonha alheia. Passei a comprar edições no iPad. Não adiantou. Eu sou obrigada a ver notícias e fotos, na sua maioria, que não me interessam… constrangedoras até!

O jornalismo online caiu de qualidade em relação ao impresso?

Cliques e velocidade são mais importantes que profundidade e rigor na apuração?

Tempo é um bem valioso. Filtrar aquilo que nos interessa no meio dessa overdose de informação da internet é quase um milagre, um luxo. Então pergunto: como fazer isso?

Receba mais notícias do Tecnoblog na sua caixa de entrada

* ao se inscrever você aceita a nossa política de privacidade
Newsletter
Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

Canal Exclusivo

Relacionados