Acho que ninguém pode discordar que o universo da cultura popular contemporânea está intelectualmente falido. Ok, talvez o diagnóstico seja exageradamente pessimista, mas você tem que admitir vivemos num período em que quase tudo que se vê, tanto na TV quando no cinema, são remakes, continuações, reboots ou adaptações de material prévio. Nessa categoria entram os filmes baseados em livros, revistas em quadrinhos, videogame ou series antigas de TV.
Hollywood espreme material intelectual já existente como se fosse uma mãe agressivamente econômica fazendo suco de laranja. A situação chegou a extremos que soam como sátira do The Onion, porque até jogo de tabuleiro está virando filme hoje em dia. A impressão que isso causa é que ideias novas são arriscadas, portanto escassas.
Eu sei que isso soa como discurso de elitista na fila do Starbucks, mas essa reclamação de falta de originalidade do cinema americano tem mérito sim. Pra você ter uma ideia da força do argumento, observe esta lista de 30 filmes mais lucrativos da última década. Apenas dois desses filmes são idéias originais.
O mundo do videogame também segue esse padrão de recauchutagem. Se você for contar quantos jogos originais saem por ano, tenho impressão de que você se decepcionaria. Entra ano, sai ano, vemos os mesmos nomes familiares: os FIFA, os Pro Evolution Soccer, os Call of Duty.
Apesar disso, há algumas franquias que foram aparentemente abandonadas, sabe-se lá por que. Se é pra ficar retornando às mesmas fontes o tempo todo, por que não trazer estes títulos de volta? Eu tenho certeza que nao sou o único com saudades delas!
Carmageddon
Vai soar bizarro pra caramba, mas Carmageddon me traz memórias incrivelmente lúdicas. Afinal, o jogo foi um dos pioneiros na violência completamente descontextualizada e gratuita. Sim, porque violência não era nenhum conceito novo nos games, mas ao menos existia uma razão pra sanguinolência.
Veja bem: em Doom eu lutava contra as forças do capiroto; em Duke Nukem eu salvava o planeta de alienígenas; já GTA simulava o submundo do crime. Se uns cidadãos de bem forem atropelados ou tomarem uma bala perdida em virtude disso, faz parte da premissa.
Em Carmageddon não. No jogo de corrida, você pinta o parabrisa do seu carro com as entranhas de velhinhas porque isso rende pontos. E só. Não existe um dispositivo narrativo coerente pra transformarem os pedestres em alvo. Os seres humanos são macios, seu carro não. O contato entre os dois resulta numa violenta porém satisfatória explosão de tripas; era uma recompensa por si própria.
O cenário de competição automobilística com ambientes distópicos e insensibilidade inspira-se em filmes clássicos como Death Race, sim, mas Carmageddon adotou o tema com tanto ímpeto que tornou-o seu.
Quando saiu Carmageddon 2 (que exigia aceleração 3D e trazia uns truques técnicos impressionantes para a época, como vítimas poligonais e carros que refletiam a luz ambiente), eu achei incrivel pra caramba. Imagina um Carmageddon nos consoles modernos, em alta definição, com direito a multiplayer e achievements completamente sádicos (“atropele 100 pedestres dando ré” ou “esprema 50 vitimas entre seu carro e o de um oponente”)?
Ver a violência completamente desnecessária de Carmageddon era, por motivos que talvez me rendam uma ida a um psicanalista um dia, hilariante. E adoraria jogar uma versão atual do game.
Pitfall
Numa época em que a indústria gamer não havia ainda estabelecido convenções clássicas como mascote oficial dos consoles, Pitfall destacou-se como o símbolo de um videogame. Se você discorda que aquele protótipo de Indiana Jones era praticamente sinônimo do console, sinta-se à vontade para me dar uma lição nos comentários. Só não vale dizer que o mascote oficial do Atari era o avião de River Raid, hein?
Em 1994, a Activision trouxe Pitfall para a geração 16 bits. O jogo, além de excelente, tinha bastante senso de humor. O final do jogo revelava que este Pitfall é na realidade o filho do personagem titular do Atari, vindo resgatar seu pai que passara anos perdido na selva.
A gracinha final do game é que quando Pitfall Júnior (gloriosamente animado em sprites clássicas de 16 bits) encontrava seu pai, este era exatamente o mesmo bonequinho de 10 pixels da versão do Atari 2600.
Existiram ainda outros games da série: o Pitfall 3D: Beyond the Jungle, de 1998, e o Pitfall: The Lost Expedition, de 2004. Ambos completamente esquecíveis.
Por causa do cinematográfico Uncharted e do padrão que ele estabeleceu, eu sinto que o mundo gamer talvez rejeite um jogo mais galhofado de aventureiro estilo Indiana Jones. É uma pena.
Commandos
Ahhh, Commandos! Entre 1998 e 1999 não havia listas de melhores games do momento que não incluíssem Commandos (isso quando o clássico de estratégia não encabeçava tais listas).
Commandos era um jogo de estratégica tática que colocava um grupo de 4 ou 5 ultra-especialistas contra pelotões de soldados nazistas em fases que exigiam uma precisão quase cirúrgica de execução de planos de infiltração.
Eu sempre achei que jogo de Segunda Guerra é um gênero que saturou ao extremo; a essa altura do campeonato, eu e você já matamos mais nazistas que todos aqueles amigos do Soldado Ryan juntos. Entretanto, eu abriria uma exceção pra Commandos sem pestanejar (e eu suspeito que você também).
Aliás, eu seria capaz de cometer atos terríveis pro meu carma pessoal em troca de um Commandos para o iPad. Enquanto o gameplay de alguns games sofrem com a adaptação pra tela de toque, sinto que pouquíssimas modificações Commandos seria perfeito.
Ô Eidos, vê isso aí pra gente, pô!
Star Wars Battlefront
Star Wars Battlefront foi um jogo para o qual eu me empolguei tanto, mas tanto, que foi o primeiro e único jogo em toda a minha carreira gamer que eu achei necessário pré-comprar. A pré-compra do game veio inclusive com uma camiseta bem legal que eu destruí quando fazia minha lavanderia. Naquele dia aprendi uma lição importante em relação a usar camisetas bacanas quando se manuseia água sanitária (a lição se resume a duas palavras: “não use-as”).
Eu imagino que a proposta de desenvolvimento de Star Wars Battlefront foi mais ou menos assim: Sabe esse Battlefield que a meninada gosta tanto? Vamos jogar um skin de Star Wars por cima, acho que vão gostar mais ainda!”.
As maiores críticas da série sempre foram as muitas semelhanças com o jogo de guerra da EA, tamanha era a “inspiração”. Mas pra quem era fã doente da série clássica de fantasia espacial (chame Star Wars de “ficção científica” na minha frente e a gente vai discutir por horas), poder participar de batalhas icônicas do cânon Georgeluquístico permitia qualquer abuso de propriedade intelectual.
O segundo game da série, apesar de desapontar fãs por remover mapas sem nenhuma necessidade aparente e modificar o gameplay, trouxe features interessantes como batalhas espaciais, mapas baseados no último filme da série e Jedis destraváveis. Mas a franquia parou por aí.
Desde 2008 rolam boatos de um Star Wars Battlefront III. Uma das últimas notícias concretas em relação à série veio em 2009, quando imagens da suposta terceira iteração do game apareceram na IGN. A LucasArts solicitou prontamente a remoção das imagens, o que fanboys interpretaram como uma confirmação oficial da produção do jogo. Obviamente, é bem mais provável que fosse apenas uma forma da LucasArts proteger sua marca registrada.
Além disso, houve em um determinado momento plano de lançar um jogo exclusivamente online (ou seja, sem modo campanha) de Battlefront. O estúdio perdeu o prazo para lançar o jogo e Star Wars Battlefront Online foi cancelado em 2010.
O PSP e o DS tiveram suas versões de Battlefront também, mas a do PSP falhou muito pela ausência de um segundo analógico (confie em alguém que tentou arduamente gostar dos Battlefronts pro portátil da Sony), e a versão do DS falhou por todos os motivos que deveriam teoricamente levar um jogo de tiro a jamais ser considerado.
E até então não há notícias sobre a franquia. É estranho, porque ambos os primeiros games da série foram bem recebidos por público e crítica.
E você? Que games (relativamente) antigos você gostaria de rever nos consoles?