Sobre a boataria em torno do Steam Box (tal console da Valve)
Colunista tenta separar realidade de boato sobre mais uma empresa competindo no mercado de consoles.
Ver empresas se aventurando no ramo dos consoles é algo relativamente raro. Talvez você não lembre (ou nunca tenha parado pra pensar nisso), mas faz mais de uma década desde a última vez que presenciamos um novato entrando na guerra dos consoles, quando Bill Gates surpreendeu os gamers revelando o primeiro Xbox na Game Developers Conference em 2000.
De lá pra cá, as empresas que controlam a indústria de hardware gamer dedicado se mantiveram as mesmas (com exceção notável da Sega, que menos de um ano após o anúncio do console da Microsoft não segurou a onda e saiu do ramo). Nintendo, Sony e Microsoft mantiveram-se por mais de dez anos como as figuras centrais do entretenimento eletrônico interativo, e não há sinais de que qualquer uma delas vá abandonar o posto.
E igualmente, o status quo da santa trindade consolística está tão bem estabelecido que seria maluquice se uma empresa tentasse agora, de supetão, penetrar o mercado dos consoles. Não é? Bom, talvez não.
Nos últimos dias começou a correr pela internet o rumor de que a Valve (a empresa por trás de alguns dos seus jogos favoritos e do sistema de distribuição online Steam) estaria se preparando para adentrar a corrida de consoles. O boato diz que o suposto futuro console se chamaria Steam Box, um nome no qual eu não apostaria nenhuma ficha, por causa da proximidade do nome de um dos consoles concorrentes; seria um repeteco da desconfortável situação Pokemon/Digimon em minha opinião.
Eu arriscaria que Steam Box (caso o boato do console seja real) trataria-se mais de um codinome do projeto do que qualquer outra coisa, e que acabou escapando por causa de paredes finas na sede da Valve. Mais ou menos como o GameCube era chamado tanto pelas revistas da época de “Dolphin” que o nome acabou pegando no imaginário popular como o verdadeiro nome do console.
Lembra do choque quando finalmente anunciaram o GameCube? Lembra como foi estranho quando o “Revolution” virou o lúdico (e meio estranho) Wii?
A maior substancialidade do rumor (ou seja, o único fator confirmado) deve-se ao fato de que a Valve patenteou no ano passado um interessante controle modificável. Nele, o usuário poderia encaixar partes diferentes, de acordo com as especificações de cada game. Um stick analógico poderia ser substituído por uma trackball, como é um dos exemplos dado pelo registro da patente.
Por si só, o controle (por mais interessante que seja) não é evidência definitiva de um console dedicado vindouro; o controle poderia ser apenas um periférico para computadores, projetado para uso no Steam. Existem rumores sobre especificações do suposto Steam Box, mas este são ainda mais infundados.
A base desses boatos parece ser este tweet (e foto) do ano passado do Greg Coomer, um desenvolvedor de produtos da Valve, em que ele se gaba de ter construído um computador aparentemente dedicado para games.
Aparentemente, a fotografia capturou a imaginação da comunidade gamer. O consenso é que esta máquina, é que provavelmente nada além de um projetinho pessoal do geek, é um vazamento de um protótipo do console da Steam. Considero esta teoria um salto lógico infundado, facilmente verificável pelo fato de que se a foto constituisse um vazamento não autorizado de tecnologia vindoura, o tweet já provavelmente teria sido deletado a esta altura.
Portanto, o controle parece ser de fato a única prova definitiva de que a Valve está definitivamente desenvolvendo hardware (ainda que seja apenas periféricos para PCs). A probabilidade de que o tal controle seja apenas uma espécie de “add-on” para usuários do Steam me parece maior. É uma grande pena, na verdade: seria muitíssimo interessante ver uma nova força adentrando o mercado dos consoles, que depois de mais uma década com os mesmos participantes, começa a dar sinais de estagnação.
O Steam revolucionou a indústria de distribuição de games para PC; se há alguém que realmente devia se arriscar no ramo de consoles, seriam eles.
Haveriam desafios, evidentemente. Um Steam Box seria essencialmente (ou melhor, provavelmente: ainda estamos lidando com rumores tênues aqui, afinal de contas) um computador com um skin do Steam por cima, servindo exclusivamente para acessar conteúdo distribuído digitalmente. O problema seria criar uma máquina poderosa o bastante pra permitir uma consistência de experiência de games de PC (e tal consistência é um ponto crucial da experiência dos consoles), porém com um preço que possibilitasse concorrer com os consoles atuais.
Talvez você sugira que as entranhas do Steam Box pudessem ser acessadas pelo usuário, e que ele fosse compatível com componentes disponíveis comercialmente. Assim, o console permaneceria na crista da onda das especificações de games.
O problema é que neste caso, não haveria grande diferença entre jogar no PC, ou num console dedicado da Steam. Entre comprar um Steam Box e depois fazer um upgrade pra uma nova placa de vídeo e simplesmente comprar aquela nova placa de vídeo pro seu computador, que opção parece mais sensata?
Fragmentação seria um grande problema nesse cenário. É algo com o qual PC gamers estão acostumados, mas é uma das muitas coisas que aqueles que preferem consoles evitam. Eu pessoalmente não conseguiria honestamente apoiar uma plataforma gamer dedicada que se tornasse defasada em alguns anos, a ponto de requerir um upgrade de hardware. Compare isso com a experiência convencional dos consoles: compre hoje, jogue os últimos lançamentos daqui 5 ou 6 anos.
Pessoalmente, embora eu duvide um pouco que a Valve esteja realmente planejando reinventar a roda com um console baseado puramente em distribuição digital (alguém lembra do Phantom, aliás?), acho que seria a direção certa a seguir. A essa altura, mídia física parece uma relíquia de um passado pré-banda larga.
E o que você acha? Estamos prestes a presenciar o surgimento de um console bem diferente dos convencionais, ou isso foi tudo um belo mal entendido de uma comunidade gamer que anseia por algo de novo?