A vez dos aspiradores robôs no Brasil

Se você não tem, ainda vai ter: aspiradores robôs estão mais inteligentes e crescem no Brasil em meio à pandemia

André Fogaça
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• Atualizado há 11 meses
A vez dos aspiradores robôs no Brasil (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)
A vez dos aspiradores robôs no Brasil (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Se eu perguntasse para minha versão criança dos anos 80 a visão que eu teria sobre 2020, seria algo com carros voadores, armas laser como nos quadrinhos e desenhos animados, além de robôs cuidando da casa. Os lasers estão começando a aparecer de forma muito tímida, os carros estão muito distantes de voar, mas os robôs já são aspiradores da casa faz algum tempo.

Ainda não é bem um trabalho como o de Rose em Os Jetsons, mas ao menos eles já aspiram a poeira e passam pano no chão. Pode parecer um afazer mais simples, mas modelos mais robustos (e caros) fazem isso com enorme eficiência. Este cenário de cuidado doméstico com alguma inteligência em robôs já é realidade em mercados internacionais desde o começo dos anos 2000, mas só nos últimos anos começaram a chegar algumas versões com mais empenho no Brasil.

Eles vão desde alguns muito simples e que andam de forma aleatória, aspirando qualquer coisa que encontram pelo caminho e sem qualquer cérebro para entender o que fazem, indo até modelos que mapeiam a casa, separam os cômodos, dividem andares e podem receber comandos para limpar apenas um canto do quarto. Estes mais modernos também detectam se a sujeira está mais impregnada e reforçam o trabalho no local.

Como aspiram os robôs aspiradores?

A ideia é simples, mas bastante engenhosa: praticamente qualquer robô aspirador de pó redondo e baixinho utiliza um motor para criar o vácuo que suga a sujeira na parte inferior. Para ajudar nesse trabalho existe uma espécie de escova na “boca”. Como o corpo é redondo, cantos da casa poderiam ficar sem limpeza e é por isso que existe uma ou duas escovas nas bordas. Elas são as responsáveis por trazer a sujeira para o centro do produto.

Samsung Powerbot VR7200 (Imagem: divulgação/Samsung)
Samsung Powerbot VR7200 (Imagem: divulgação/Samsung)

Alguns modelos mais caros e modernos possuem um dos cantos reto, com o restante ainda curvado. A parte reta tem uma pá que faz o papel da escova externa. É o caso do POWERbot VR7200 da Samsung e o Roomba S9+ da iRobot.

As versões mais caras utilizam câmeras apontadas para o teto ou sensores infravermelho e assim criam uma planta virtual da casa. Você pode dar nome aos cômodos e até mesmo selecionar uma área para limpeza, como ao lado da mesa de centro. Todo o controle destes modelos é feito por aplicativo, mas assistentes de voz como Alexa e Google Assistente podem controlar algumas das ações. Nos mais simples um controle remoto tem esse trabalho, indo até para apenas um botão no mais limitado de todos.

A grande maioria utiliza uma base que é de onde partem para começar a limpeza e voltam no final dela – ou no meio do processo, para recarregar a bateria. Fechando as possibilidades, alguns modelos da iRobot colocam uma despensa nessa base para que a sujeira saia do compartimento do robô e vá, sozinha, para uma “lixeira”. Então o robô volta para a faxina se não concluiu antes.

Base para os Roombas da série 600 (Imagem: divulgação/iRobot)
Base para os Roombas da série 600 (Imagem: divulgação/iRobot)

Existem outras variáveis, mas de forma resumida é assim que os robôs aspiradores funcionam. A melhor forma de escolher é entender primeiro quão fundo é seu bolso, depois a necessidade da sua casa, já que alguns são bons com tapetes altos (como é o caso dos Roomba), enquanto outros são melhores na hora de mapear a casa (ponto para os Roborock da Xiaomi).

O que temos no Brasil

No Brasil ficam destacadas cinco marcas: Samsung, Xiaomi, iRobot, Midea e Multilaser. A última do quinteto coloca no mercado modelos mais simples e busca seu lugar ao sol na venda por quantidade, já que os preços são os menores de todos os concorrentes, chegando em R$ 400. É o caso do HO041 que vai batendo pela casa e móveis enquanto suga a sujeira, quase sem partes inteligentes. O Orion custa o dobro do preço, mas tem base recarregadora que é para onde ele retorna quando terminou a limpeza. É perto do mesmo valor dos modelos vendidos pela Midea.

Tanto Samsung, como Xiaomi e iRobot brigam no mesmo patamar, com valores de robôs partindo de pouco mais de R$ 2 mil, para chegar perto de R$ 10 mil. Todas as três também oferecem robôs capazes de aspirar o pó e passar pano, com alguns deles fazendo apenas uma ou outra função.

Aspirador de Pó Robô Midea (Imagem: divulgação/Midea)
Aspirador de Pó Robô Midea (Imagem: divulgação/Midea)

O que fez a chegada destes robôs demorar

O produto que praticamente inaugura a categoria de aspiradores robôs no mundo é o Roomba da iRobot, lançado em 2002. Várias marcas apareceram com o passar dos anos, mas no Brasil este era apenas um tipo de gadget para os que viajavam ou importavam. Um dos grandes vilões na hora de trazer os aspiradores de forma oficial para o Brasil era o preço.

“O problema de uma tecnologia recém-inventada é seu preço. Por conta da restrita fabricação, ela tende a ter um valor que muitas vezes inviabiliza o projeto de seu desenvolvimento até que a demanda realmente atenda as expectativas da oferta”, diz Flávia Bordin, gerente de produtos de eletroportáteis da Multilaser, ao Tecnoblog.

A carga tributária e a própria baixa demanda pelo produto são pontos importantes para o nascimento tardio deste tipo de nicho dentro do mercado brasileiro. “Os recursos de geolocalização e sensores de obstáculos passaram por longos processos de desenvolvimento e hoje estão muito mais aprimorados do que nas primeiras versões dos robôs”, diz Karina Camargo, gerente de produto de aspiradores da Samsung Brasil.

Orion da Multilaser (Imagem: divulgação/Multilaser)
Orion da Multilaser (Imagem: divulgação/Multilaser)

O momento da categoria de robôs aspiradores

Olhando para antes de qualquer alteração por conta da pandemia, o mercado de robôs aspiradores já apresentava crescimento no Brasil. “A gente estima que o faturamento dos robôs no mercado de aspiradores representava menos de 3% em 2018 e no ano de 2019 chegou a 5%”, diz André Kliemann, gerente de marketing de produtos Midea.

“O ano de 2020 elevou o patamar dos robôs de limpeza, que, enfim, se transformaram em tendência no Brasil. Há uma aceitação cada vez maior no mercado, ampliando o espaço para criar novos produtos e recursos”, comenta Karina Camargo, da Samsung.

Flávia Bordin, da Multilaser, acredita que “a categoria é vista hoje como uma forte tendência mundial e de grande potencial de vendas no mercado brasileiro”.

Focando agora no lado do varejo, da loja na ponta da cadeia, o crescimento em 2020 foi atípico. Ao Tecnoblog, um porta-voz da Amazon afirmou que “neste ano, percebemos de fato um aumento na procura dos aspiradores, principalmente no segundo e no terceiro trimestres. É um dos produtos mais procurados atualmente dentro da categoria de produtos para a casa”.

A pandemia ajudou nas vendas?

Sim, muito. Um estudo feito pela consultoria Gfk revelou que o faturamento deste tipo de produto subiu 372% entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Olhando apenas em abril deste ano, época de maior isolamento social nas cidades brasileiras, o mês registrou crescimento de aproximadamente 800% em relação a abril de 2019.

Samsung Jetbot Mop VR6000 (Imagem: divulgação/Samsung)
Jetbot Mop VR6000 só passa pano, não aspira (Imagem: divulgação/Samsung)

Mesmo com cenário tão positivo, os robôs representam apenas 3,5% das vendas de todos os aspiradores de pó nos primeiros nove meses de 2020 em número de unidades – por mais que, como são muito mais caros, o faturamento reflita 12% do segmento. Parece pouco, mas neste mesmo período a Samsung trouxe dois novos aspiradores com preços e propostas diferentes. Enquanto um passa pano e aspira, o outro é um modelo dedicado só para passar pano.

“Está todo mundo em casa e todo mundo precisa fazer faxina. Então realmente as pessoas correram e a categoria de robôs realmente se destacou muito. A pessoa está lá trabalhando em casa e não precisa parar para fazer (a faxina)”, comenta André Kliemann, da Midea.

“Apesar de termos percebido o crescimento dessa categoria em momentos anteriores à pandemia, é certo de que ela foi um catalisador para a venda deste produto”, afirma Flávia Bordin.

A casa conectada, junto da internet das coisas, também colabora para este cenário. Em modelos mais modernos, a presença de mais formas para controle do produto adiciona ainda mais conforto, pulando para uma área mais de luxo e não apenas em eficiência de limpeza.

Samsung robô POWERBOT-e VR500 (Imagem: divulgação/Samsung)
POWERBOT-e VR500 aspira e passa pano ao mesmo tempo (Imagem: divulgação/Samsung)

Karina Camargo comenta que “ao ficarem mais tempo em casa, com a necessidade de dividir o tempo entre trabalho, cuidados domésticos e entretenimento, as pessoas foram em busca de produtos que tornassem mais práticos essas rotinas tão atarefadas”.

“Com novos recursos, o usuário consegue programar o funcionamento do robô mesmo sem estar em casa, com o aplicativo SmartThings desenvolvido pela Samsung. E essa conectividade não se dá apenas entre os robôs e um dispositivo móvel, como smartphone ou tablet. Quando mais produtos conectados uma casa tem, mais a potência e a versatilidade desses produtos podem ser exploradas pelo usuário”, complementa Karina.

Robôs aspiradores não competem com diaristas

Uma das dúvidas que pode ficar no ar é: até que ponto o trabalho de um aspirador inteligente pode respingar no que um profissional da limpeza já faz. A resposta das três empresas entrevistadas pelo Tecnoblog foi unânime ao enfatizar que o público deste tipo de produto pode sim ser o mesmo que já contrata algum serviço doméstico.

André Kliemann acredita que os aspiradores inteligentes podem auxiliar o trabalho destas pessoas ao aliviar um dos afazeres, como garantir a limpeza do dia a dia fique para o robô e o empregado foque seu trabalho em outro lugar da casa. Flávia Bordin e André Kliemann também apontam o público mais jovem e com algum animal de estimação em casa como possível interessado neste tipo de gadget.

Já Karina Camargo aposta num público maior para as soluções da Samsung. Indo desde o mais antenado com novas tecnologias, passando por famílias que querem mais conforto e chegando em pessoas que precisam do tempo melhor administrado.

Aspiradores robôs utilizam escova para limpar cantos (Imagem: divulgação/Multilaser)
Aspiradores robôs utilizam escova para limpar cantos (Imagem: divulgação/Multilaser)

Compro agora?

Eu não sou a pessoa que mais ama fazer faxina e tenho certeza que a maioria de vocês pensa algo semelhante. A necessidade de um robô para isso é um luxo, não há como negar. É como uma máquina para lavar louças: você pode muito bem fazer tudo na mão, mas a máquina vai te dar conforto, e o conforto tem custo.

Os robôs aspiradores, por melhores e mais tecnológicos que possam ser, são apenas uma ferramenta para limpar o chão em uma faxina leve. Ele não vai tirar uma sujeira que ficou presa, nem mesmo é capaz de resolver uma sala que não é limpa faz tempo. Por outro lado, estes produtos podem ajudar bastante os donos de pets, especialmente para aqueles que soltam pelos – como gatos e o meu salsicha, o Boris.

Outro ponto interessante é que eles fazem o serviço no chão, então todos os móveis continuam precisando de trabalhos manuais. Eles podem ser das suas mãos, ou de algum empregado doméstico.

Se você pode ter um luxo desses, de remover a faxina rotineira do seu cotidiano da mesma forma como alguém escolhe pedir uma marmita no lugar de ir até o fogão para preparar a quentinha, vale a pena. São horas de trabalho que você pode utilizar para outras coisas, como estudar, trabalhar ou mesmo dormir.

Vai substituir a diarista pra quem contrata uma? Não, são trabalhos diferentes. O peso no trabalho dessas pessoas é semelhante ao que acontece quando a pessoa da limpeza pode usar uma enceradeira no lugar de passar pano com a mão ou pé mesmo. Alivia, ajuda, mas não resolve sozinho.

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André Fogaça

Ex-autor

André Fogaça é jornalista e escreve sobre tecnologia há mais de uma década. Cobriu grandes eventos nacionais e internacionais neste período, como CES, Computex, MWC e WWDC. Foi autor no Tecnoblog entre 2018 e 2021, e editor do Meio Bit, além de colecionar passagens por outros veículos especializados.

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