O que dirão sobre seu perfil do Facebook daqui a 100 anos?

“Tudo o que cada um de nós diz ficará registrado para a posteridade”

Bia Kunze
Por
• Atualizado há 1 ano

Cuidado, gente. O Google indexa tudo. Tudo!

É mais do que corriqueiro postar uma bobagem num blog ou numa rede social qualquer e depois se arrepender. Depois que você se dá conta da besteira, é tarde demais. Dependendo do assunto, já pode estar correndo o mundo. Não adianta simplesmente apagar o post.

Isso também vale para quem desejar excluir todo o perfil em uma rede social: se um dia você optar por sumir do mapa, é possível que, mesmo assim, se recupere o que foi publicado.

É por isso que vemos celebridades e políticos em péssimos lençóis depois que decidem apagar um post em que disseram algo que os fez se arrependerem. O gesto de apagar o post fica com aquela aura de “Eu nunca disse isso”, mas estão aí os prints e o Google escancarando o contrário.

Há um agravante: as pessoas se sentem tão poderosas quando ganham em mãos um microfone – ou no nosso caso, um teclado – que os parâmetros de certo e errado desaparecem. Uma bobagem dita pode ser enquadrada como contravenção penal. Quem não se lembra da moça do Twitter que pregava ódio aos nordestinos?

Pérolas de Marco Feliciano
Pérolas de Marco Feliciano

O assunto do momento são os direitos das minorias. Negros, mulheres, gays, ciclistas… Um tema que ganha dimensões gigantescas na internet, já que interessa à toda a sociedade.

Daqui umas décadas, discutir coisas como união civil de homossexuais será tão ridículo quanto as discussões sobre negros e mulheres como categoria de gente inferior – a tônica dos debates de décadas atrás.

Vejam, não sou militante de grupo nenhum. Falamos em gays porque é o assunto do momento, mas poderia ser com muçulmanos, anões, obesos, nerds (opa!), enfim, uma minoria qualquer… Só estou analisando as coisas do ponto de vista histórico e cybercultural. A humanidade evoluiu, e, achem correto ou não, a tendência é que, com o tempo, minorias sexuais sejam aceitas normalmente no contexto social, como já acontece em países evoluídos como Dinamarca, Noruega, Holanda. Aliás, esses países são um espelho perfeito do futuro para qualquer temática cultural.

Há cem anos a sociedade discutia se mulher podia votar. Hoje, discute se gays podem se casar. A história se repete. Só que desta vez, há uma diferença…

Agora temos Google indexando tudo. Ou seja, tudo o que cada um de nós diz a respeito ficará registrado para a posteridade.

Não somos uma ditadura. Felizmente, usufruímos por aqui da liberdade de expressão. Podemos falar o que quisermos. A esse direito segue, contudo, um dever: o de arcar com as consequências. Seja do contra, mas use argumentos sólidos e respeitosos. Faça-o com sabedoria, seja assertivo sem ser virulento. Não incite o ódio, não diminua seus semelhantes.

Não vejo nada disso na maioria dos argumentos dos que são contra a igualdade de direitos civis. Excetuando-se aqueles que citam a Constituição, no trecho que se refere à família como a união entre homem e mulher (nossa Carta Magna deve ser respeitada; se não concordam com ela, mudem-na!), os demais argumentos são um desfile vergonhoso de intolerância, principalmente de religiosos olhando apenas para seu umbigo, como se não houvesse pessoas com credos diferentes. Os ateus não ficam atrás: os mais engajados são tão intolerantes quanto os piores líderes fundamentalistas. Pregam o fim das religiões como se elas fossem a causa de todos os males da humanidade.

O que você faria se achasse na internet um post de seu bisavô fazendo piadas infames, dizendo que negros não devem ir à escola e que mulheres não devem votar, pois só servem para parir?

Imagino os bisnetos de muita gente por aí dizendo: “Meu bisavô se preocupava tanto com o que as pessoas faziam com suas genitálias, mas não dava a mínima pras escolas caindo aos pedaços…”

Pensem nisso: o que seus bisnetos diriam se vissem, daqui 100 anos, seu perfil no Twitter e Facebook?

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Bia Kunze

Bia Kunze

Ex-colunista

Bia Kunze é consultora e palestrante em tecnologia móvel e novas mídias. Foi colunista no Tecnoblog entre 2009 e 2013, escrevendo sobre temas relacionados a sua área de conhecimento como smartphones e internet. Ela também criou o blog Garota Sem Fio e o podcast PodSemFio. O programa foi um dos vencedores do concurso The Best Of The Blogs, da empresa alemã Deutsche Welle, em 2006.

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