Cinema 3D sem óculos poderá ser realidade graças a esta tecnologia do MIT

A ideia precisa ser aperfeiçoada para chegar aos cinemas, mas já é um avanço

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 11 meses
Sala de cinema

Se a única coisa que te impede de assistir a filmes em 3D no cinema é a obrigatoriedade de usar aqueles óculos especiais, se anime: o MIT se uniu ao Instituto de Ciência Weizmann, de Israel, para criar uma tela que exibe conteúdo tridimensional sem auxílio desses objetos. A tecnologia ainda precisa ser lapidada, mas os resultados iniciais empolgaram os pesquisadores.

Óculos 3D, para que te quero

Para assistirmos a filmes 3D e termos compreensão das imagens como tal, o cérebro precisar combinar duas imagens bidimensionais — uma para cada olho — de modo a obter um efeito estereoscópico, ou seja, gerar a noção de tridimensionalidade, com percepção de profundidade, posição e distância. Está aí a função dos óculos: fazer cada olho receber imagens ligeiramente diferentes do mesmo conteúdo.

Óculos 3D - cores

O tipo mais simples de óculos 3D normalmente utiliza uma lente na cor vermelha e outra em tom de azul (às vezes, pendendo para o verde). Nesse sistema (anáglifo), a tela recebe duas projeções, uma para cada cor. A lente vermelha, atuando como um filtro, acaba deixando apenas informações do mesmo tom passar. Processo igual ocorre na outra lente: o azul é que passa. Quando o cérebro combina as imagens que cada olho recebe, acaba havendo percepção de uma diferença que dá o efeito tridimensional.

Ilustração: Sonice Group
Ilustração: Sonice Group

Salas de cinema mais modernas usam óculos polarizados, que proporcionam mais qualidade de imagem. Nesse tipo também há sobreposição de duas imagens, mas uma tem polarização horizontal, a outra, vertical. É como se fosse uma persiana: uma lente filtra ondas de luz na horizontal enquanto a outra faz o mesmo com luz na vertical.

Há uma variação que faz polarização circular: uma lente trabalha com o sentido horário, a outra, com o anti-horário. Em ambos os casos, o resultado da combinação das imagens faz o cérebro interpretar relevo, profundidade e afins — é o efeito 3D em si.

Tecnicamente, ambas as ideias são excelentes. Mas os óculos de cinema têm lá suas inconveniências: para começar, se você tem óculos de grau e não consegue deixar de usá-los (meu caso), é um porre colocar óculos 3D por cima. E mesmo quem não usa óculos regularmente pode ficar incomodado com aquele negócio cara. Piora saber que muita gente usou aquele objeto antes de você: por mais que os cinemas façam higienização e tal, dá uma certa insegurança, né?

Óculos 3D polarizado
Óculos 3D polarizado

Cinema 3D sem óculos 3D

TVs 3D que não exigem óculos especiais existem há algum tempo. Alguns smartphones também experimentaram essa tecnologia. Aliás, o Nintendo 3DS faz algo parecido, vale relembrar. Com base nisso, muita gente se pergunta até hoje se a tecnologia empregada nesses equipamentos pode ser levada ao cinema.

Poder até pode, mas Wojciech Matusik, professor MIT que participa do projeto, explica que é impraticável. Nas TVs 3D e dispositivos menores, os efeitos que seriam obtidos com os óculos são gerados pelo o que se conhece como barreira paralaxe. Trata-se de uma camada — como se fosse uma segunda tela sobreposta — que cria um redirecionamento que faz cada olho enxergar um conjunto diferente de pixels. Novamente, a percepção do 3D vem quando o cérebro faz o alinhamento das imagens percebidas em cada olho.

O problema dessa tecnologia é que ela exige que a tela esteja a uma distância consistente do usuário. As salas de cinema têm as poltronas dispostas de modo enfileirado, portanto, cada nível terá uma posição de visualização diferente, não consistente. Essa é a principal razão para a técnica se mostrar inviável em espaços amplos.

Mas isso não quer dizer que a ideia foi descartada. Chamado criativamente de Cinema 3D, o projeto do MIT e do Instituto de Ciência Weizmann usa o conceito da barreira de paralaxe, mas de uma forma diferente.

Em uma sala de cinema há várias fileiras de poltronas, mas cada uma delas é fixa, ou seja, não há usuários sentados de maneira desordenada (a não ser que alguém resolva ficar em pé no corredor ou sentado nas escadas, mas essa é outra história). Para completar, cada pessoa devidamente posicionada na frente da tela realiza um conjunto limitado e previsível de movimentos: virar a cabeça ligeiramente para ler uma legenda ou olhar para cima para prestar atenção em algo que acontece em um dos cantos superiores, nada muito além disso.

Com base nisso, os pesquisadores tiveram uma ideia que, explicando assim, parece um tanto óbvia: desenvolver uma tela com várias barreiras paralaxe. A tecnologia Cinema 3D que eles criaram é basicamente isso. A invenção codifica o conteúdo para várias barreiras. Cada uma delas cobre um determinado ponto do ambiente. Como os usuários não saem do lugar, não há distorções. Assim, o efeito tridimensional pode ser percebido em qualquer ponto do local.

O cinema 3D terá futuro, então?

De modo a evitar, entre outros problemas, que uma barreira interfira na outra, Matusik e equipe tiveram que usar um complexo sistema com cerca de 50 conjuntos de lentes e espelhos. Eles só puderam, portanto, criar uma tela não muito maior que uma folha de papel.

É necessário aperfeiçoar a tecnologia para que eles possam testar a ideia em uma sala de cinema, mas, por ora, os resultados agradam: além de dispensar os óculos, a tela conservou aspectos como resolução, brilho e nitidez.

A combinação de imagens de qualidade e não exigência de óculos pode então “salvar” o cinema 3D? Do ponto de vista técnico, sim. Se de alguma forma for possível evitar as dores de cabeça que muita gente sente após assistir a um filme 3D, melhor ainda.

Cinema 3D

Só que essa não é uma questão meramente tecnológica. Uma boa experiência com um filme 3D também depende do estúdio que o produziu. O desinteresse disseminado pelo cinema 3D se deve principalmente à falta de envolvimento que o conteúdo 3D tem com a história contada ali. Quando adaptações são feitas sem cuidado, tem-se até a impressão de que os efeitos 3D estragam o filme.

Em resumo: não basta só ter tecnologia. Mas, se vingar, quem sabe a invenção do MIT faça o mercado cinematográfico como um todo evoluir?

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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