Dez anos de Google Chrome: como o navegador dominou o mercado

Google Chrome chegou por último na guerra dos navegadores, mas agora completa dez anos dominando o mercado e sem ameaças à frente

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 11 meses
Dez anos - Google Chrome

O Google Chrome completou dez anos de existência. Para a companhia, sobram motivos para comemorar: o navegador é o mais utilizado do mundo, está muito à frente do segundo colocado e não há nada indicando que o seu futuro está ameaçado, pelo contrário.

Mas, para chegar até aqui com o Chrome, o Google teve que ser paciente: a companhia só entrou em cena depois que Mozilla e Microsoft já estavam travando uma guerra e, para se sobressair, apostou em fatores como interface limpa e desempenho rápido. Você confere um pouco dessa trajetória nas próximas linhas.

O Internet Explorer reinava soberano

Hoje, os navegadores são atualizados regularmente, contam com diversos mecanismos de segurança, suportam numerosos recursos e ainda podem ser complementados com extensões dos mais variados tipos. Mas, em um passado não muito distante, não era assim: existia uma “zona de conforto” chamada Internet Explorer.

Zona de conforto para a Microsoft. O Internet Explorer surgiu em 1995 e foi ganhando novas versões em intervalos de mais ou menos um ano. Tudo mudou em 2001, quando o Internet Explorer 6 foi lançado. Foi a versão que mais fez sucesso, tanto que, entre 2002 e 2003, chegou a deter 80% do mercado. Outros 15% correspondiam às versões anteriores do navegador.

O saudoso (SQN) Internet Explorer 6
O saudoso (SQN) Internet Explorer 6

O Internet Explorer 6 não suportava múltiplas abas, só foi ter um bloqueador nativo de pop-ups com o lançamento do Service Pack 2 do Windows XP e frequentemente era criticado por suas brechas de segurança ou por obrigar desenvolvedores a recorrer a “gambiarras” para compatibilizar o navegador com determinadas aplicações web.

Se por um lado era notável o anseio dos usuários por um navegador mais completo, por outro, a Microsoft estava em uma situação tão confortável com o Internet Explorer 6 que não tinha pressa para criar uma versão mais incrementada. Atualizações até apareciam, mas sem trazer grandes novidades.

Para você ter ideia, o Internet Explorer 7 só foi surgir em outubro de 2006. A nova versão chegou trazendo uma série de funcionalidades importantes, como navegação por abas, suporte a RSS e pesquisa na web direto do navegador (havia uma barra só para isso). Mas foi uma decisão tardia: àquela altura, o Firefox já era uma pedra no caminho do Internet Explorer.

O surgimento do Firefox

Fruto de um projeto iniciado em 2002 de nome Phoenix, a primeira versão do navegador da Mozilla surgiu oficialmente em novembro de 2004. Entre os seus atrativos estavam recursos como bloqueador de pop-ups, proteção contra phishing, barra de pesquisa, promessa de mais desempenho, suporte a extensões e até uma ferramenta de migração a partir do Internet Explorer.

O navegador da Microsoft ainda dominava a cena, mas o Firefox trazia mais funcionalidades, tinha uma proposta aberta e era multiplataforma, portanto, conquistava cada vez mais usuários. O Internet Explorer 7 parecia uma boa resposta, só que, apenas alguns dias depois do seu lançamento, a Mozilla liberou o Firefox 2.0, que trazia ainda mais funcionalidades.

O primeiro Firefox (Imagem: Wikipedia)
O primeiro Firefox (Imagem: Wikipedia)

Bom, o que aconteceu depois você já sabe. O Internet Explorer nunca mais se recuperou, tanto que, com o lançamento do Windows 10, a Microsoft apresentou um sucessor: o navegador Edge. Ambos coexistem até hoje, mas, juntos, têm apenas uma fração do mercado que o Internet Explorer possuía anos atrás.

A pergunta que resta é: em que ponto dessa história o Google aparece?

Google Browser?!

Ainda que não pareça, o Google observou bem de perto o avanço do Firefox sobre o Internet Explorer. Na verdade, a companhia até dava uma forcinha. Naquela época, o Google já era bastante dependente da sua plataforma de anúncios, o AdWords (hoje, Google Ads). Para os anúncios aparecerem corretamente, era importante que o navegador pudesse ser ágil com JavaScript. Essa era uma das razões pelas quais não era difícil se deparar com o Google promovendo o Firefox.

Só para você ter noção, houve uma época que donos de sites cadastrados no AdSense podiam colocar botões de download do Firefox acompanhado da Google Toolbar em suas páginas. Eles eram remunerados por cada usuário que os instalasse. Os valores variavam entre US$ 0,10 e US$ 1 por instalação.

Firefox no Google AdSense
Botões do Firefox no Google AdSense

Mas o Google não iria vestir a camisa do Firefox por muito tempo (embora tenha mantido uma parceria com a Mozilla para deixar o seu buscador como padrão no navegador): enquanto Mozilla e Microsoft travavam uma guerra, já havia rumores de que o Google trabalhava secretamente em um navegador próprio.

O blog Google Operating System, referência para assuntos da empresa por anos, chegou a publicar um post de 1º de abril em 2006 relatando um tal de “Google Browser”. Provavelmente, o responsável pelo blog nem fazia ideia de que, meses depois, a brincadeira iria virar coisa séria.

Ainda que o Google não confirme, fala-se que a primeira versão minimamente usável do que viria a ser o Chrome foi criada em junho de 2006. Testes mais intensos começaram em setembro do mesmo ano.

Mais ou menos na mesma época, administradores de sites começaram a relatar em fóruns especializados a identificação nos logs de acessos de um user agent que parecia ser o rastreamento do buscador do Google, mas que tinha comportamentos típicos de navegador. Mais um sinal de que um Google Browser estava por vir.

O Google Chrome finalmente dá as caras

Apesar de um burburinho aqui, uma pista ali, o Google foi bastante eficaz na missão de esconder o projeto. O Chrome foi apresentado em 1º de setembro de 2008 e teve a sua primeira versão disponibilizada no dia seguinte, ainda em beta e inicialmente para Windows.

Curiosamente, o Google encomendou uma história em quadrinhos para apresentar o Chrome. Mero capricho, pois só o fato de o projeto ter o nome Google já era suficiente para fazer a novidade chamar muita atenção.

Google Chrome - quadrinhos

Os atributos também: o Chrome chegou prometendo visual limpo — princípio que é adotado até hoje —, modo de navegação privada (que já existia na época), mais desempenho com JavaScript, entre vários outros recursos. A partir daí, foi só ladeira acima: não demorou muito para o Chrome ultrapassar o Firefox e, obviamente, o Internet Explorer.

Para isso, o Google também seguiu a abordagem multiplataforma, sempre bateu na tecla do desempenho (a despeito das queixas de que o Chrome consome muita memória RAM), apostou em extensões e, principalmente, integrou os seus serviços (Gmail, Maps, YouTube, entre outros) ao navegador — não que essas plataformas não funcionem em outros browsers, mas o Google sempre garantiu o pleno funcionamento delas no Chrome.

Primeiro Google Chrome

Cerca de um ano depois do lançamento da primeira versão, Eric Schmidt, então CEO do Google, não escondia a sua empolgação com o navegador. Mas ele admitiu que resistiu durante seis anos a um Google Browser. Ele só mudou de ideia depois que Sergey Brin e Larry Page mostraram uma prévia do que viria a ser o Chrome. Os fundadores do Google não chamaram gente inexperiente para o projeto: o time que desenvolveu essa prévia tinha desenvolvedores que trabalharam no Firefox.

E o Chromium?

É difícil falar da história do Chrome sem citar o Chromium, pois os dois estão intimamente relacionados — não por menos, o blog do projeto também tem um post comentando os dez anos do Chrome. Ambos são navegadores, mas qual é a diferença entre eles? E por que dois projetos distintos?

Quando o Chrome foi lançado, o Google tratou de deixar claro que o navegador teria como base um projeto de navegador com código totalmente aberto. Naturalmente, o Google atua como o principal apoiador da iniciativa, colaborando inclusive com a parte financeira. Mas, como o projeto é aberto, vários desenvolvedores não ligados à empresa participam dele.

Já o Chrome aparece da seguinte forma: basicamente, o navegador é composto pelo Chromium acrescido de recursos com código proprietário. Entre eles estão funções para compatibilizar o navegador com determinados formatos de mídia e ferramentas próprias do Google, como mecanismos que enviam dados aos servidores da companhia para identificar bugs ou ajudar em análises estatísticas.

Chromium

O resumo é este: o Chromium está no Chrome, mas o Chrome não está no Chromium.

Dez anos de Chrome

O Chrome chega ao seu décimo aniversário disparado na dianteira: em agosto, o navegador dominava mais de 60% do mercado, de acordo com a W3Counter. Por mais que a Microsoft se esforce, Internet Explorer e Edge são qualquer coisa, menos uma ameaça: eles têm pouco menos de 7% de participação. O Firefox, pouco mais do que isso. O Safari ocupa uma posição mais confortável, com 13% de presença, mas está restrito ao ecossistema da Apple.

Um domínio tão amplo quanto o do Chrome é perigoso porque pode levar a um cenário em que determinadas aplicações só rodam bem nesse navegador ou permitir que o Google colete uma infinidade de dados sobre nossos hábitos de navegação, mais do que o razoável, só para dar alguns exemplos.

Por outro lado, o domínio do Chrome faz com que os rivais não queiram ficar para trás. Edge, Firefox, Safari, Opera têm participações comparativamente pequenas no mercado, mas, em termos funcionais, podem até ficar atrás do navegador do Google, mas não muito.

Google Chrome - nova interface

Para nós, usuários, esse talvez seja o aspecto mais significativo. O Chrome evoluiu, mas não evoluiu sozinho. Mais do que o aniversário de dez anos do Chrome, o momento simboliza um amadurecimento expressivo dos navegadores como um todo. Eles não são perfeitos e não estão livres de problemas. Mas, definitivamente, lidar com eles já não representa uma aventura.

Para encerrar, vale dizer que o Google optou por uma abordagem no melhor estilo “quem ganha o presente é você” para celebrar o aniversário de dez anos: a companhia está liberando uma interface nova para o Chrome. Agora, se ela é melhor que a atual ou não, essa é uma discussão à parte.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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