Seu histórico de buscas é capaz de dizer até que doenças você pode ter

A Microsoft fez um estudo para mostrar como as buscas na web podem dar pistas sobre enfermidades graves

Emerson Alecrim
Por
• Atualizado há 11 meses
Câncer pancreático

Quanto mais cedo a descoberta, maior a chance de cura. Essa é uma verdade para numerosas doenças, especialmente o câncer. É por isso que, além de buscar tratamentos mais eficazes, a ciência se esforça para criar métodos de diagnóstico precoce para os diversos tipos de tumores. Nesse ponto, as buscas que fazemos na web podem ser de grande ajuda. É no que aposta a Microsoft.

Os buscadores são nossos confidentes

Talvez você nunca tenha parado para pensar a respeito, mas os buscadores são nossos grandes confidentes. Pesquisamos sobre tudo no Google e no Bing (ao menos nos Estados Unidos, o buscador da Microsoft tem uma boa base de usuários), de dúvidas simples a temas que não temos coragem de discutir nem com as pessoas mais íntimas.

No meio dessas buscas estão assuntos relacionados à saúde. Quem nunca recorreu ao Google para descobrir qual o melhor remédio para uma dorzinha esquisita ou se aquela mancha na pele pode indicar algo grave, por exemplo?

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Google e Microsoft sabem bem disso. Não por menos, os buscadores de ambas as empresas exibem, na medida do possível, cards nos resultados das buscas que destacam as principais características de determinadas doenças ou condições. No Brasil, o Google passou a disponibilizar esse tipo de informação em março, graças a uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein.

Dentro da Microsoft, esse tipo de busca levou a uma vertente diferente. Pesquisadores da companhia quiseram descobrir se as buscas sobre saúde, por serem muito frequentes, poderiam revelar padrões que indicam que o usuário pode estar com uma doença grave.

Para descobrir, Ryen White, CTO da Microsoft Health, e Eric Horvitz, diretor na Microsoft Research, se focaram no câncer de pâncreas. O motivo é que, nos Estados Unidos, 75% das pessoas diagnosticadas com essa neoplasia falecem no primeiro ano. Mas, se a doença for detectada em fase inicial, as chances de que a pessoa viva por muito mais tempo aumentam enormemente.

O histórico de buscas como sinal de alerta

White, Horvitz e equipe passaram então a fazer um trabalho de data mining para encontrar buscas no Bing que podem ter relação com os sintomas do câncer pancreático. Mas essa foi só uma parte do trabalho. Na outra, os pesquisadores analisaram as buscas dos mesmos usuários meses depois para verificar se houve mudanças nos termos pesquisados que sugerem que eles receberam diagnóstico da doença.

Seguindo esse método, eles identificaram padrões. Muitos usuários buscaram por sintomas como coceira intensa, perda de peso, fezes claras e pele amarelada. Cinco meses depois, em média, esses mesmos usuários passaram a fazer buscas do tipo “por que tenho câncer de pâncreas?” e “tenho câncer de pâncreas, e agora?”.

O histórico de buscas de 6,4 milhões de usuários do Bing foi analisado. Nenhum deles foi identificado, vale ressaltar. Com esse volume de dados, White e Horvitz puderam concluir que uma parcela expressiva de usuários pesquisou pelos sintomas da doença na internet para só então buscar atendimento médico.

Como isso pode ser útil?

Buscas isoladas sobre sintomas não querem dizer muita coisa, afinal, a perda não planejada de peso, por exemplo, pode ter relação com várias outras enfermidades. Porém, a Microsoft descobriu que usuários com câncer de pâncreas fizeram vários tipos de buscas antes do diagnóstico que, quando associados, remetem à doença.

Ryen White
Ryen White

A ideia de White e Horvitz é, portanto, alertar o usuário sobre a necessidade de procurar atenção médica o quanto antes quando padrões de buscas altamente sugestivos da doença forem identificados. “Nós mostramos especificamente que podemos identificar de 5% a 15% dos casos”, explica White. A proporção de falso positivo é bem baixa: de 1 para cada 100 mil casos.

O plano aqui não é dar um diagnóstico, ressalta White, mas orientar os usuários que apresentam chances significativas de ter câncer de pâncreas (ou outra doença grave) a procurar o quanto antes quem pode identificar o problema: o médico.

Como dar o recado?

Esse é o problema. Os pesquisadores descobriram que o histórico de buscas pode ser bastante revelador, mas não sabem como transmitir o recado. Eticamente falando, eles tampouco sabem se devem mesmo fazê-lo. É por isso que White e Horvitz preferiram divulgar o estudo primeiramente em uma publicação médica. A comunidade médica é que tem respaldo para recomendar os próximos passos.

Uma possibilidade é exibir alertas nos resultados das buscas quando padrões forem identificados para que o usuário procure auxílio médico com rapidez. Mas essa é uma ideia que precisa ser bem estruturada, afinal, o objetivo é ajudar a pessoa a ter diagnóstico precoce (se for o caso), não fazê-la entrar em pânico.

Nesse sentido, as técnicas de detecção e rastreamento precisam ser desenvolvidas com rigor para diferenciar, por exemplo, as pesquisas de quem pode mesmo estar doente daqueles que fazem buscas apenas com fins acadêmicos.

Médico

Só para exemplificar o quanto isso é importante, o estudo foi feito inicialmente com dados de 9,2 milhões de usuários, mas esse número teve que ser reduzido porque muitas das pesquisas eram acompanhadas de termos técnicos, sugerindo que as buscas estavam sendo feitas por profissionais de saúde.

Além disso, é necessário avaliar até que ponto os buscadores, assistentes de voz (como a Cortana) e outras tecnologias devem fazer algum tipo de intervenção, pois os usuários podem ficar dependentes desses mecanismos.

Pelo menos no atual estágio, isso é perigoso. Como já discutido aqui mesmo no Tecnoblog, é ok usar a internet para se informar sobre doenças, condições médicas e tratamentos. O perigo está em se basear apenas em conteúdo online para fazer diagnóstico: apesar de todas as deficiências que encontramos nos serviços de saúde, ainda não há tecnologia capaz de substituir a experiência do médico.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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