Instituições de várias partes do mundo trabalham há anos em pesquisas que misturam próteses com conceitos de robótica para elevar o grau de mobilidade de pessoas que têm algum tipo de deficiência ou paralisia. Mas essa é uma área extremamente complexa. É comum projetos do tipo não darem certo. Felizmente, esse parece não ser o caso da SuitX: graças a um exoesqueleto criado pela startup, um rapaz paraplégico tem conseguido caminhar. Em breve mais gente poderá se beneficiar da invenção.

Steven Sanchez perdeu os movimentos da cintura para baixo após sofrer um acidente de bicicleta. Em 2012, cerca de oito anos depois do ocorrido, o rapaz passou a conviver um pouco menos com a sua cadeira de rodas: foi quando ele começou a testar um equipamento em desenvolvimento pelo Laboratório de Robótica e Engenharia Humana da Universidade da Califórnia, em Berkeley. Foi esse departamento que deu origem à SuitX.

A paraplegia — assim como a tetraplegia — ocorre quando a medula espinhal sofre algum tipo de lesão que interrompe a passagem de estímulos nervosos. A causa pode ser de origem congênita ou adquirida: no primeiro grupo estão tumores, infecções, doenças degenerativas e causas genéticas; no segundo estão acidentes com veículos (como é o caso de Sanchez), ferimentos por arma de fogo, quedas de grandes alturas, entre outros.

Aqui, aquela regra que diz que “cada caso é um caso” vale com força. A lesão pode ser completa, quando não existe nenhum tipo de movimento ou sensibilidade abaixo do nível do dano, ou incompleta, quando alguma sensação ou movimentação voluntária se manifesta, ainda que de modo bem limitado.

O grau de perda de movimentos também pode variar: normalmente, quando mais alta for a lesão na medula espinhal, mais áreas do corpo serão comprometidas. Além dos movimentos dos membros (tanto superiores quando inferiores), a pessoa pode ter funções fisiológicas afetadas — o controle da bexiga, por exemplo.

Esses fatores são apenas algumas das razões pelas quais é tão difícil tratar paralisias. Cada pessoa que convive com o problema tem um nível de comprometimento diferente, logo, uma abordagem pode funcionar bem para um indivíduo, mas não para outro. Consequentemente, o tratamento acaba sendo sempre bastante personalizado.

Coluna - ilustração

É claro que a medicina vem tentando encontrar um tratamento realmente eficaz para o problema, mas esse é um desafio realmente gigantesco. Células nervosas não podem se reproduzir ou se regenerar, não da forma como o fazem células dos tecidos musculares, por exemplo.

Quando os cientistas conseguirem resolver o enigma da regeneração nervosa, teremos tratamentos mais avançados não só para lesões medulares, como também para limitações causadas por derrame cerebral, traumatismo craniano, doença de Parkinson, mal de Alzheimer, entre outros.

Enquanto esse dia não chega, outra vertente da ciência se encarrega de buscar uma solução capaz de diminuir os transtornos daqueles que possuem algum tipo de perda de movimento: as diversas áreas de engenharia.

Batizado como Phoenix, o exoesqueleto que vem sendo testado por Steven Sanchez é um dos exemplos mais empolgantes desses esforços. A máquina permite ao rapaz ficar em pé e caminhar quase dois quilômetros por hora (meio metro por segundo). Não é muito rápido, mas, poxa, é a realização de um sonho para uma pessoa que não possui movimento nas pernas.

Há pequenos motores nas articulações do exoesqueleto fixadas nas regiões dos joelhos e do quadril que geram os movimentos. O usuário controla toda a caminhada a partir de botões disponíveis nas muletas.

Sim, muletas são necessárias. A gente não percebe, mas o corpo realiza uma série de movimentos compensatórios para manter o equilíbrio. Como vários grupos de músculos estão envolvidos nesse processo, é difícil criar algo semelhante em um exoesqueleto.

Importa saber que Sanchez está conseguindo andar. A bateria recarregável, que é usada como mochila, dá a ele oito horas por dia de autonomia de modo intercalado e quatros horas de uso contínuo. Se for necessário mais tempo, é só trocar o componente.

Nem o peso é um problema: o exoesqueleto tem pouco mais de 12 quilos. Isso porque as peças principais do equipamento são feitas de fibra de carbono, um material leve, mas ao mesmo tempo bastante resistente.

Apesar de Sanchez ser o “piloto oficial” do equipamento, ele não será o único beneficiado com a invenção. Como destacado mais acima, o tratamento médico tem que ser ajustado a cada caso, dadas as particularidades de cada lesão, mas o exoesqueleto não precisa ser fabricado especificamente para uma pessoa: a máquina tem regulagem para altura, cintura e largura das pernas, logo, é possível adaptá-la com relativa facilidade. Só não dá para utilizá-la em crianças, mas o pesquisador Homayoon Kazerooni, que também é CEO da SuitX, explica que a empresa já trabalha em uma versão para elas.

Além de diminuir a dependência de cadeiras de roda, o exoesqueleto da SuitX pode ajudar em exercícios de fortalecimento muscular. Isso é importante inclusive para operação da própria máquina: os exercícios são uma forma de evitar dores ou lesões nos braços causadas pelas muletas.

 Steven Sanchez
Steven Sanchez

Kazerooni destaca que o objetivo do projeto é melhorar a qualidade de vida de quem tem paraplegia ou restrição severa de movimentos. Obviamente, a máquina não cura a lesão, muito menos dispensa a cadeira de rodas: se a pessoa tiver que ir na padaria logo ali na esquina, por exemplo, talvez prefira fazê-lo a partir da cadeira, pois vestir o exoesqueleto leva pelo menos cinco minutos.

Por outro lado, para passeios no shopping, ida ao trabalho ou caminhada por uma rua despreparada para cadeiras de roda (a realidade da ampla maioria das calçadas no Brasil), a Phoenix certamente será a primeira escolha.

Outra boa notícia é que o exoesqueleto não é tão caro: a Phoenix tem custo estimado em US$ 40 mil. Sim, é um valor elevado para muitos bolsos, mas é bem mais em conta que o exoesqueleto ReWalk, que sai por cerca de US$ 70 mil (e pesa quase o dobro, diga-se de passagem).

Temos que levar em conta ainda que, com o aperfeiçoamento da tecnologia, produção em larga escala e, eventualmente, incentivos de governos, o preço final pode cair consideravelmente.

Ao contrário de muitas tecnologias inovadoras que relatamos aqui no Tecnoblog, esse é um produto praticamente finalizado. Steven Sanchez já tem o dele, mas em breve não será o único: a SuitX planeja enviar aos compradores as primeiras unidades encomendadas a partir de março.

Com informações: MIT Technology Review

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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