5 fatos que marcaram a Microsoft em 2018: Windows 10 bugado, Edge com base do Chrome e mais

Windows 10 apaga arquivos dos usuários, Edge adota mesma base do Chrome, e Microsoft mergulha no open source

Felipe Ventura
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• Atualizado há 1 ano
Foto por Mike Mozart/Flickr

A Microsoft parecia ter um ano relativamente tranquilo, até que o Windows 10 apresentou uma falha grave que apagava arquivos dos usuários. Muita gente começou a questionar o modelo de atualizações constantes do sistema — uma de suas principais características desde o lançamento — obrigando o October 2018 Update a ser distribuído aos poucos em 2019.

Mas não foram só notícias ruins! A Microsoft lançou uma série de computadores Surface, transformando-se em uma das principais fabricantes de PC nos EUA. A empresa também reforçou seu compromisso com o código aberto: comprou o GitHub por por US$ 7,5 bilhões; cedeu 60 mil patentes para o Linux; e adotou o Chromium como base para seu navegador. Sim, o Edge passará a adotar a mesma base do Google Chrome, algo que pode mudar o cenário da web ao longo dos próximos anos.

Confira abaixo os principais destaques da Microsoft para este ano, incluindo também a reorganização interna com foco na nuvem e as novidades do Xbox One. Este especial faz parte das retrospectivas de 2018 que o Tecnoblog preparou!

Windows 10 apaga arquivos e sofre com outros bugs

Foto por comedynose/Flickr

A atualização de outubro de 2018 para o Windows 10 parecia ser promissora. Ela permite copiar texto em um PC e colar em outro; traz um modo escuro para o Explorador de Arquivos; introduz o teclado SwiftKey para computadores; e reserva novidades até para o Bloco de Notas.

Então, poucos dias depois, a Microsoft teve que suspender a atualização porque ela apagava arquivos. O Windows 10 deletava o conteúdo de pastas padrão como Documentos, Imagens e Downloads se achasse que elas estavam duplicadas, o que nem sempre era o caso. O sistema não checava se essas pastas estavam vazias; e pior, os participantes do programa Insider já haviam relatado esse bug à Microsoft, mas a empresa acabou ignorando o feedback.

Algumas semanas depois, o October 2018 Update foi corrigido e voltou a ser liberado aos usuários, ainda que aos poucos. No entanto, o estrago na imagem já estava feito. E outros bugs sérios continuaram aparecendo em produtos da Microsoft: a atualização de outubro impedia definir alguns programas como padrão; cópias do Windows 10 Pro sofreram downgrade para Home após um bug na ativação; uma atualização problemática fazia o Outlook travar assim que era aberto; e o Office 365 teve falhas no sistema de autenticação.

A Microsoft foi bastante criticada por seu processo de atualizações: elas causam bugs com os programas já instalados; fazem o sistema travar; e trazem recursos que são dispensáveis para alguns usuários. Ela resolveu, então, fazer algumas mudanças: por exemplo, cada versão do Windows 10 Enterprise e Education passa a ter suporte por 30 meses (em vez de 18 meses), para que empresas e instituições de ensino possam passar mais tempo sem grandes atualizações.

Além disso, a Microsoft promete mais transparência em suas medidas para manter a qualidade do Windows 10. É algo importante se ela quiser migrar seus clientes que ainda usam o Windows 7 e o Windows XP.

Edge joga a toalha e adota mesma tecnologia do Chrome

Uma das maiores surpresas da Microsoft veio bem no final do ano. A empresa revelou que seu navegador Edge passará a usar o Chromium, mesma base do Google Chrome, e abandonará sua tecnologia proprietária de código fechado.

Isso significa que o Edge será compatível com extensões do Chrome. O navegador estará disponível para o Windows 7, 8 e 10; e poderá chegar a outras plataformas como o macOS. Ele também deve chegar ao Xbox One.

A Microsoft diz que a mudança vai tornar o Edge mais compatível com os sites atuais, e vai facilitar o trabalho de desenvolvedores web. Afinal, o navegador usará as tecnologias do Chrome (Blink e V8) para renderizar as páginas. E isso deve reduzir a rivalidade com a concorrência: este ano, o Windows 10 chegou a recomendar que os usuários não instalassem o Chrome ou Firefox, sugerindo o Edge em seu lugar. (O teste foi encerrado.)

No entanto, este é um sinal de que a Microsoft jogou a toalha, reconhecendo a vitória do Google na guerra dos navegadores. Afinal, o Edge nunca foi bem-sucedido: ele responde por apenas 4% dos acessos no desktop, contra 72% do Chrome.

A mudança também pode ter algumas consequências ruins para o futuro da web. A Mozilla teme que os desenvolvedores web não se preocupem mais em adaptar seus sites para o Firefox, já que ele representa uma fração cada vez menor dos navegadores. (Seus acessos correspondem a 9,1% em desktops, contra 12% há um ano.) Além disso, ela diz que isso “entrega ainda mais controle da vida online para o Google”. O Edge com Chromium será lançado em 2019.

Microsoft abraça de vez o código aberto

Microsoft + GitHub

A Microsoft anunciou em junho que comprou o GitHub por US$ 7,5 bilhões. Esta é a maior plataforma do mundo para hospedagem de código-fonte, assim como a maior comunidade de código aberto. Alguns programadores ficaram assustados, decidindo migrar para o concorrente GitLab; mas a aquisição reforçou o posicionamento da empresa em relação ao open source.

Por muitos anos, a Microsoft era vista como inimiga do código aberto; Steve Ballmer já chamou o Linux de “câncer”. Isso mudou depois que Satya Nadella assumiu o cargo de CEO. Inclusive, a empresa faz parte da Linux Foundation desde 2016; e o diretor-executivo da fundação apoiou publicamente a aquisição do GitHub.

É nítido que a Microsoft realmente vem apoiando o open source. Este ano, ela cedeu 60 mil patentes para uso livre e gratuito dentro de um consórcio de 2.650 empresas, incluindo Google, Red Hat e Canonical, abrangendo tecnologias como Android, Linux e OpenStack. Ela também promete se tornar um dos maiores colaboradores do Chromium.

Além disso, a Microsoft lançou uma ferramenta de código aberto que permite criar distribuições Linux e rodá-las dentro do Windows 10; ela está disponível, é claro, no GitHub. Inclusive, a empresa criou uma distribuição própria do Linux, chamada Azure Sphere OS, para a internet das coisas em serviços na nuvem.

Isso está relacionado com a nova estratégia da Microsoft, mais focada na nuvem. Os desenvolvedores querem rodar distribuições Linux na plataforma Azure, e os projetos de código aberto são bastante populares nesse meio. Por isso, o Windows vem perdendo sua dominância dentro da empresa: este ano, a divisão “Windows e Dispositivos” se transformou em “Experiências e Dispositivos”. Enquanto isso, há duas divisões para a nuvem: Azure e Nuvem + IA.

Surface Go, Surface Laptop 2 e até um Surface Headphone

Este ano, a Microsoft apareceu pela primeira vez no ranking de fabricantes que mais vendem PCs nos EUA. É mais um sinal de que a linha Surface vem dando resultado; ela já rendeu alguns bilhões à empresa.

O Surface Go provavelmente ajudou: trata-se de um tablet com Windows 10 que custa a partir de US$ 399, pensado para concorrer mais diretamente com o iPad. Ele economiza em alguns componentes para chegar a esse preço: por exemplo, o processador é um Pentium Gold dual-core por insistência da Intel. E os acessórios, como a Surface Pen e a capa com teclado, são vendidos à parte (assim como faz a Apple).

No entanto, o Surface Go consegue manter a experiência de outros modelos mais caros, trazendo um corpo de liga de magnésio, dobradiça que se inclina em até 165 graus, e câmera para login sem senha via Windows Hello.

Tivemos também algumas atualizações mais pontuais. O Surface Laptop 2 ficou até 85% mais rápido que seu antecessor graças a um processador Intel Core de quatro núcleos; e o Surface Pro 6 ganhou 67% mais desempenho e foi reformulado internamente para melhorar o sistema de resfriamento.

O computador all-in-one Surface Studio 2 ficou mais rápido graças aos novos chips gráficos da Nvidia e ao armazenamento com SSD. Por sua vez, o Surface Headphone é um fone que permite ajustar o nível de cancelamento de ruído girando um controle na parte externa. Ele suporta gestos de toque e vem com a Cortana.

Xbox One ganha recursos, e próxima geração vem aí

Falando em hardware, o ano de 2018 também foi interessante para o Xbox One. O console da Microsoft ganhou suporte a mouse e teclado para jogos como Fortnite e Warframe; o desenvolvedor tem as ferramentas para liberar o recurso, e pode optar por usá-las se quiser. Há um novo editor de avatares que permite maior personalização; e é possível jogar mais títulos do Xbox original graças à retrocompatibilidade.

Além disso, a Microsoft lançou o Xbox All Access nos EUA: mediante pagamento mensal, o usuário adquire um Xbox One S ou One X e tem acesso ao Xbox Game Pass e Xbox Live Gold.

Houve também um foco em levar os jogos do Xbox One a mais plataformas. Por exemplo, o Xbox Game Pass está disponível no Windows 10 por R$ 29 mensais; ele reúne cerca de 100 títulos que você pode jogar no PC.

Temos ainda o Project xCloud, que oferecerá games por streaming para o computador, celular ou tablet. Dessa forma, não será necessário ter o console para aproveitar esses jogos: bastará usar essa plataforma na nuvem, cujos testes começam em 2019.

Claro, a Microsoft também está preparando um sucessor para o Xbox One que deve ser lançado em 2020, assim como o “PlayStation 5”. Os sucessores do Xbox One X e One S têm codinomes Anaconda e Lockhart; eles devem usar processadores da AMD e ter suporte aprimorado a streaming de jogos na nuvem.

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Felipe Ventura

Felipe Ventura

Ex-editor

Felipe Ventura fez graduação em Economia pela FEA-USP, e trabalha com jornalismo desde 2009. No Tecnoblog, atuou entre 2017 e 2023 como editor de notícias, ajudando a cobrir os principais fatos de tecnologia. Sua paixão pela comunicação começou em um estágio na editora Axel Springer na Alemanha. Foi repórter e editor-assistente no Gizmodo Brasil.

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