Quanto os desenvolvedores de games do OUYA estão ganhando com o console?
Não é novidade pra ninguém que o OUYA está aos trancos e barrancos tentando entregar o prometido no Kickstarter. Está chegando lá, a passos mais lentos do que seus investidores gostariam. Mas como está a situação para os desenvolvedores de games que apostaram no console para emplacar jogos?
Está ruim para uns e boa para outros. Mas, de modo geral, assim como o própria OUYA, fica abaixo da expectativa.
Towerfall, o mais famoso deles, é o que tem se dado melhor, obviamente. Segundo seu criador, Matt Thorson, cerca de 2 mil vendas foram feitas, gerando uma renda de 30 mil dólares. Segundo ele, o sucesso foi maior que o esperado e o OUYA trouxe bastante visibilidade, inclusive com pedidos para que seja adaptado para PC.
Outro dev que recomenda o OUYA é David Marsh, do NimbleBit, estúdio que criou o game Nimble Quest. Na primeira semana, teve um total de 122 compras, que renderam US$ 427, além dos 6.508 downloads gratuitos. Apesar de não ter dado tanto dinheiro, ele conta que o jogo é baseado em Unity, então foi fácil de adaptá-lo para o console. Além disso, o OUYA pode ser visto como um teste de plataforma aberta para games e, quanto mais estúdios publicarem, vai haver mais incentivo para que outros desse tipo surjam.
O estúdio Knife Media, de Red, ainda acrescenta que, no que diz respeito às vendas relativamente baixas – 400 no total; o game se pagou após duas semanas e meia no ar – , é importante lembrar que o OUYA tem relativamente poucas unidades em todo o mundo, então é cedo para dar uma palavra final. Eric Froemling, de BombSquad, também tem esse pensamento, mesmo com as vendas muito abaixo da sua expectativa (era de 200 cópias por dia; não passa muito de 70).
Os que nem tinham expectativas criadas parecem ser os mais contentes; é o caso de Adam Spragg, de Hidden in Plain Sight. Ele é distribuído no esquema pay what you want, ou seja, o jogador escolhe o quanto quer pagar pelo game, e a média tem ficado em torno de US$ 2 para o jogo. Com esse valor, Spragg afirmou que recebeu até agora cerca de US$ 4.400, o que é um excelente caixa, especialmente em comparação com outros games menos afortunados.
Enquanto esses estúdios têm (ou pelo menos procuram ter) uma visão positiva do OUYA, o sentimento não é compartilhado por todos. Mesmo que o jogo não tenha sido desenvolvido exclusivamente para o console, fazer todas as adaptações demanda trabalho, tempo e dinheiro. A conta é simples: se não há retorno desse investimento, o resultado é prejuízo.
O estúdio de Organ Trail, The Men Who Wear Many Hats, sente isso na pele. Foi bem trabalhoso adicionar o suporte a controle ao game e as vendas no OUYA representam, até agora, 0,1% do total vendido em todos os tempos. O criador de Bombball, E MCNeill, também está decepcionado com as vendas; não divulgou muitos números, mas revela que a renda de US$ 30 por dia, sem tirar a comissão do OUYA, é bem menos do que esperava.
Esses são, claro, somente alguns dos games que estão disponíveis entre os 269 que podem ser baixados atualmente. Então, a opinião dos menos conhecidos pode ser bem diferente. Mas, se os mais baixados não estão conseguindo tirar muita grana, imagine os outros.
Pelo visto, o OUYA não é uma plataforma rentável para todos, pelo menos por enquanto. Talvez seja por causa da grande oferta de games, que torna difícil se destacar e ganhar dinheiro (a lei do mercado é de que, quanto maior a oferta, menor é o preço). Some a isso o modelo de negócios dos games para Android, sistema operacional do console, que costumam ser freemium ou pay what you want.
Parece que é preciso, além de ter um excelente produto em mãos, contar com muita sorte para lucrar como o pessoal de Towerfall no OUYA. Além disso, a maioria dos desenvolvedores comentou que as vendas têm diminuído, como se os gamers estivessem perdendo a empolgação das primeiras semanas do console. Lembrando que ele foi lançado há cerca de um mês, parece cedo para perder a força, ainda mais com a promessa de novos games o tempo todo.
Tomara que os números não desanimem os desenvolvedores e as partes boas – plataforma aberta, visibilidade, experimentação, suporte da equipe aos desenvolvedores (nesse post, falamos que o suporte ao consumidor estava sendo muito criticado; os devs, por outro lado, são só elogios) – superem as ruins. Senão, o OUYA terá mais um grande obstáculo a superar para ser lembrado como o console revolucionário que prometia ser: reconquistar o coração dos desenvolvedores, que são quem produz o conteúdo que, indiretamente, vende o console. Talvez dê para interpretar a nova campanha do OUYA no Kickstarter, que tem o objetivo de financiar novos games exclusivos, como um sinal da preocupação da equipe com isso.
Mas a maior parte dos estúdios entrevistados não descarta a possibilidade de criar novamente para o console. Ainda bem.
Com informações: Edge, Joystiq, Gamasutra