Parece que o Instagram não está muito contente com fotos “latergram”

Emerson Alecrim
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• Atualizado há 9 meses
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O Instagram é a rede social para fotos mais relevante da atualidade e, como tal, recebe milhares de imagens nos mais variados contextos a cada segundo. Mas há um tipo de foto que talvez não esteja agradando tanto assim a companhia: as latergrams (identificadas pela hashtag latergram), como são chamadas, aquelas postagens que muita gente deixa para fazer mais tarde — horas ou mesmo alguns dias depois do registro da imagem.

Segundo o The Next Web, recentemente, alguns usuários começaram a se deparar com uma notificação do Instagram que sugere a publicação de uma foto atual, registrada no mesmo dia. Esse aviso tem causado espanto (e irritação) por pelo menos duas razões: primeiro porque surge do nada quando o usuário está navegando pelo app do Instagram; segundo porque a ação indica que o serviço está analisando as fotos que a pessoa tem no smartphone para descobrir o que é mais novo.

Não é nada muito grave, a princípio. Em relação ao primeiro aspecto, clicar no “X” resolve o problema, ainda que temporariamente. No segundo, bom, questões sobre privacidade sempre existirão, mas o acesso ao conteúdo de mídia é autorizado quando instalamos o aplicativo.

O que não está claro são as intenções: o que o Instagram espera conseguir com essas “sugestões”? A empresa mantém o silêncio, mas há várias possibilidades, por exemplo, estimular usuários que publicam pouco conteúdo ou simplesmente aumentar a média diária de publicações (embora o Instagram receba mais de 70 milhões de fotos e vídeos por dia).

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“Publique uma das fotos que você tirou hoje”, em tradução livre

Mas a questão das latergrams parece ser mais pertinente. O Instagram é, até certo ponto, inspirado nas clássicas câmeras instantâneas, como aquelas que tornaram a Polaroid mundialmente conhecida (o nome do serviço deixa isso evidente). Se é assim, a foto tem que estar disponível prontamente, certo?

Pois essa é justamente a essência do Instagram: você tira uma foto, aplica um filtro (se quiser), faz um ou outro ajuste e a publica, quase em tempo real. A ideia é que você compartilhe o que está fazendo naquele momento: um evento no trabalho, um passeio no parque, uma viagem de férias e por aí vai.

Esse comportamento não é uma obrigação, certamente. Desde que não viole as condições de uso do serviço, você pode postar fotos no contexto que quiser. O problema é que as latergrams podem estar aparecendo com mais frequência do que o Instagram gostaria, ainda que não formem uma “epidemia”.

Mas o que há de errado com as fotos tardias para o Instagram, aparentemente, estar tentando torná-las menos frequentes? Para começar, se você tira uma foto com intenção de publicá-la horas mais tarde, talvez esqueça dela ou simplesmente mude de ideia. Confesso que eu mesmo já deixei de publicar fotos nessas circunstâncias.

Há também a relevância do imediatismo. As interações nas redes sociais são mais intensas quando a discussão se baseia em acontecimentos recentes. No caso do Instagram, as pessoas provavelmente ficarão mais interessadas em comentar ou curtir uma foto sua na praia se souberem que você está lá naquele momento — ou esteve recentemente.

Não que a intenção do Instagram seja a de fazer frente ao Snapchat ou mesmo ao Twitter, serviços que têm o imediatismo como uma característica fortemente enraizada. Mas, se o Instagram ficar centrado demais em eventos não muito recentes, o serviço não será muito diferente de um simples álbum de fotos online, no final das contas.

Mensagens sugerindo a publicação de fotos armazenadas no dispositivo móvel não são novidade. Se você usa o Facebook para iOS ou Android, já deve ter visto um “convite” assim. A ideia é fazer com que as publicações sejam um hábito para você, afinal, o regimento genérico das redes sociais diz que quanto mais conteúdo, melhor.

Porém, no Instagram, essa abordagem tem que ser feita com cautela. A cultura do serviço faz com que a maioria dos usuários seja criteriosa na hora de publicar uma foto. Isso não pode ser desrespeitado.

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Note que quase todo mundo ali evita publicar imagens tremidas, com excesso de ruído (a não ser por consequência de algum filtro) ou com ângulo ruim, por exemplo. Só que todo esse cuidado exige tempo para tratamento das fotos e, muitas vezes, faz com que a pessoa tire várias imagens para escolher uma só. É frustrante, portanto, que as sugestões indiquem fotos que você já decidiu descartar.

Felizmente, as mensagens estão aparecendo apenas para um número limitado de usuários. Provavelmente, trata-se de um teste do tipo “se colar, colou”. Se as sugestões aumentarem a quantidade de publicações, ótimo. Se não, a ideia deve ser abandonada.

É natural que o Instagram queira aumentar o engajamento. Quanto mais tempo os usuários ficarem dentro do serviço, teoricamente, mais fácil será atrair anunciantes, menos redes sociais concorrentes serão usadas e assim por diante.

Nesse sentido, a lição de casa tem sido feita. Nos últimos meses, o Instagram passou a suportar imagens com resolução maior e, numa mudança que afetou uma de suas características mais clássicas, passou a permitir fotos nos modos retrato e paisagem. Desde que não haja exagero, a disponibilização de mais opções serve de impulso para que as pessoas publiquem mais. O tal do convite para postar uma foto publicada hoje segue por essa mesma linha.

instagram-paisagem-retrato

Isso não quer dizer, no entanto, que o Instagram pretende acabar de vez com as latergrams. Se fosse para ser tão radical, o serviço poderia impedir a publicação de imagens que tenham sido tiradas há mais de uma semana, por exemplo.

Na verdade, a prática de publicar fotos depois pode até ser benéfica. Muita gente deixa a publicação para mais tarde no intuito de editá-la melhor ou, ao perceber que não tem nada de interessante para postar, decide aproveitar alguma foto antiga (mas não muito) ressaltando algo de relevante na ocasião em que ela foi tirada.

Se as publicações baseadas em eventos recentes são mais efetivas, não é errado que o Instagram tente direcioná-las com mais objetividade. A gente só espera que funcionalidades sugestivas como essa sejam avaliadas com cuidado, afinal, a linha que separa a sugestão da inconveniência é muito tênue.

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Emerson Alecrim

Emerson Alecrim

Repórter

Emerson Alecrim cobre tecnologia desde 2001 e entrou para o Tecnoblog em 2013, se especializando na cobertura de temas como hardware, sistemas operacionais e negócios. Formado em ciência da computação, seguiu carreira em comunicação, sempre mantendo a tecnologia como base. Em 2022, foi reconhecido no Prêmio ESET de Segurança em Informação. Em 2023, foi reconhecido no Prêmio Especialistas, em eletroeletrônicos. Participa do Tecnocast, já passou pelo TechTudo e mantém o site Infowester.

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