Além do joguinho chinês: o que muda com o AlphaGo, máquina de IA do Google

AlphaGo representou um grande marco para a inteligência artificial, mas ainda há chão pela frente

Jean Prado
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• Atualizado há 1 ano

Você provavelmente já conhece o AlphaGo, computador do Google que derrotou um campeão mundial no jogo chinês Go, que requer estratégia e intuição humana. O Google “imitou” os humanos com treinamentos por aprendizagem de máquina, além de redes neurais artificiais.

Nesta quarta-feira (16), a empresa divulgou um balanço do que foi conquistado com essa máquina de inteligência artifical, criado pela DeepMind, o laboratório de IA do Google. Segundo a companhia, os últimos cinco jogos foram um “marco importante” para a inteligência artificial – e a indústria concorda.

Com arquitetura complexa, o computador do Google conseguiu ganhar de 4 a 1 de Lee Sedol, um campeão mundial por 18 vezes do jogo, que pratica desde os 12 anos. Em entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian logo após a partida, Sedol afirmou que o AlphaGo fez movimentos que não poderiam ser repetidos por humanos.

Esse foi um aspecto que o Google abordou no post publicado em seu blog oficial. “Para a surpresa de todos, incluindo a nossa, o AlphaGo ganhou quatro dos cinco jogos. Os comentaristas notaram que o AlphaGo fez muitos movimentos sem precedentes, criativos e até ‘bonitos’. Baseado nos nossos dados, a jogada ousada número 37 do AlphaGo no Jogo 2 tinha uma chance de 1 em 10 mil de ser feita por um humano”, disse a empresa.

Demis Hassabis, engenheiro da DeepMind, e Lee Sedol, campeão mundial de Go.
Demis Hassabis, engenheiro da DeepMind, e Lee Sedol, campeão mundial de Go.

Eles ainda comentaram o jogo em que Sedol conseguiu uma vitória – o que, depois da reviravolta na primeira partida, poucos acreditavam que aconteceria. Segundo a empresa, o próprio campeão fez movimentos inovadores, como o movimento número 78 no Jogo 4, em que ele ganhou. Esse também está incluso na chance de 1 em 10 mil (e parece que funcionou).

Como o AlphaGo ficou tão inteligente? Já expliquei neste post, que relata a primeira vitória do computuador, e neste, que fala sobre o 5 a 0 contra o campeão europeu, Fan Hui, de Go. Basicamente, aqueles dois pontos de inteligência artificial e um treinamento com 30 milhões de partidas fizeram com que o computador aprendesse a pensar (por vezes até melhor) que um humano.

Com toda essa atenção que o Google deu ao jogo, pesquisas mostraram que a venda de tabuleiros do Go subiu significativamente. A pesquisa pelo assunto subiu nos Estados Unidos e na China, e a hashtag para o evento no Twitter chinês Weibo teve 200 milhões de pageviews.

A utilidade da inteligência artificial

O que estamos mostrando aqui não é “apenas” um computador do Google que conseguiu ganhar de um campeão mundial em um jogo chinês. Mas sim, como disse a empresa, a capacidade da inteligência artificial de aprender sozinha, e conseguir ser uma ferramenta na sociedade para resolver problemas como a mudança climática e o diagnóstico de doenças.

Os resultados dessa experiência podem ser resumidos em dois pontos, segundo o Google. O primeiro: o potencial que a inteligência artificial tem em resolver problemas. Ou seja, procurar (e achar) soluções que humanos não considerariam porque não foram treinados para isso. “Isso tem um grande potencial para usar tecnologias como o AlphaGo para procurar por soluções que os humanos não necessariamente veem em outras áreas”, explica o Google.

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Parece algo óbvio: é claro que os computadores vão pensar de forma mais eficiente que os humanos em alguns aspectos em que eles foram treinados para isso. Afinal, são computadores que têm recursos de memória, processamento e código para alcançar essas propostas.

Mas é importante que esse argumento foi levantado pelo Google, porque poucas vezes a inteligência artificial mostra resultados palpáveis desta forma. As notícias que vemos agora são de “empresa X prepara tecnologia de inteligência artificial para o futuro”, mas sem exatamente mostrar algo.

Tomo como exemplo a Microsoft, que agora está usando o Minecraft para construir uma inteligência artificial “geral”, com capacidade de pensamento humana. Ela sai do âmbito de computadores que são programados para tarefas específicas e tem o objetivo de treinar o computador a pensar por si próprio.

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É uma premissa muito interessante, mas que atualmente está em beta fechado. A previsão é que uma plataforma open-source seja lançada para o público só em setembro. Com o AlphaGo, pudemos acompanhar como a inteligência artifical pode sim se sair melhor que humanos em coisas que antes eram características nossas (como a intuição), e mostrar um resultado “imediato”.

Não é à toa que especialistas previam que o AlphaGo só conseguiria vencer de fato os jogadores profissionais de Go daqui a dez anos, quando treinasse “o suficiente” para pensar como nós. Esses últimos acontecimentos nos mostraram o contrário, e isso é o que há de mais surpreendente no resultado dos jogos.

O que acontece agora

O Google diz que eles queriam testar os limites do AlphaGo, e agora vão passar as próximas semanas estudando os jogos feitos pelo computador. No futuro, eles esperam continuar aplicando esses métodos de aprendizagem de máquina em outras áreas e desafios.

Como o AlphaGo ganhou, eles vão doar o prêmio de US$ 1 milhão (que seria destinado a Sedol) para organizações que dão suporte à ciência, tecnologia, engenharia, matemática, educação, além do Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Primeira partida de Go, em que Lee Sedol perdeu.
Primeira partida de Go, em que Lee Sedol perdeu.

Ah, e antes que eu esqueça: o segundo ponto levantado com todo esse aprendizado foi que, apesar da hashtag ter o nome de “Homem vs. Máquina”, o AlphaGo foi construído por humanos, e sua conquista também foi por mérito dos engenheiros que trabalhavam nele.

“Lee Sedol e a equipe do AlphaGo trabalharam juntos para desenvolver novas ideias, oportunidades e soluções — e a longo prazo isso é algo no qual todos nos beneficiamos”, disse o post.

Com tudo isso, você deve estar se perguntando: ok, é agora que os computadores vão dominar o mundo? Calma, ainda não. As redes neurais artificiais foram usadas para tarefas específicas, e é sob esse propósito que o Google pretende continuar desenvolvendo o AlphaGo.

O próprio Google admitiu que ainda estamos bem distantes da inteligência artificial aprender coisas “com uma flexibilidade o suficiente para desempenhar tarefas intelectuais em vários âmbitos que um humano consegue” sem problemas. E esse, segundo eles, é a grande marca da inteligência artificial.

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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