Você deveria ler os novos termos de uso do Snapchat

Atualização da política de privacidade do serviço abre brecha para qualquer coisa com seus snaps

Jean Prado
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• Atualizado há 1 ano

Você recebe um snap. Visualiza, alguns segundos se passam e… pronto, ele sumiu. Certo? Na verdade, não. Se você usa o Snapchat, deve ter se deparado com um aviso de que o aplicativo atualizou seus termos de uso ultimamente. Eu sei que você não leu, mas deveria: o aplicativo agora pode fazer basicamente… qualquer coisa com o que você compartilha por lá.

O serviço adicionou algumas permissões que podem ser consideradas um tanto invasivas. Agora o Snapchat tem o direito de hospedar, reproduzir, modificar e exibir publicamente seus snaps, ainda que não sejam os que foram adicionados à sua Story.

Com a atualização, o Snapchat também pode utilizar seu nome, imagem e voz em qualquer canal de distribuição de mídia por tempo indeterminado. Tudo bem, pode ser só para promover uma Live Story de algum lugar, mas também abre brecha para o Snapchat fazer o que ele quiser com seu conteúdo. Aqui as partes mais alarmantes dos novos termos (grifo nosso):

Você garante ao Snapchat uma internacional, perpétua, livre de royalties, sublicenciável e transferível licença para hospedar, armazenar, […] reproduzir, modificar, adaptar, […] publicar, […] distribuir, […] promover, expor e exibir publicamente aquele conteúdo em qualquer formato e em qualquer método de distribuição (agora conhecido ou desenvolvido posteriormente).

Nós usaremos essa licença para o propósito limitado de […] melhorar os Serviços; […] e produzindo conteúdo apresentado pelos Serviços disponível para nossos parceiros comerciais para sindicação, transmissão, distribuição ou publicação fora dos Serviços.

Na medida em que for necessário, você também garante ao Snapchat e a nossos parceiros comerciais o irrestrito, internacional e perpétuo direito e licença de usar seu nome, imagem e voz em toda e qualquer mídia e canais de distribuição (agora conhecidos ou desenvolvidos posteriormente) ligado a qualquer Live Story ou outro conteúdo enviado pela comunidade que você cria, envia, publica ou aparece em. […]

Embora não sejamos obrigados a fazê-lo, podemos acessar, revisar, exibir e deletar seu conteúdo a qualquer momento e por qualquer motivo, incluindo se pensarmos que o seu conteúdo viola esses Termos. Você é o único responsável pelo conteúdo que você cria, publica, armazena ou envia pelos Serviços.

Se você pensava no Snapchat como um app secreto, de compartilhamento de um conteúdo que expira em um determinado tempo, acho que esses novos termos devem mudar a sua visão. Não é de hoje, no entanto, que o aplicativo se envove em polêmicas de privacidade: em maio, a Comissão Federal do Comércio americana (FTC) fez o Snapchat admitir que o conteúdo compartilhado no aplicativo não é deletado automaticamente.

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Os termos de uso então foram atualizados para esclarecer esses termos. Como aponta o MarketWatch, os termos antigos apontavam que “na maioria dos casos, uma vez que detectamos que todos os destinatários visualizaram uma mensagem, nós automaticamente a deletamos de nossos servidores”. Agora, além de ter o direito de armazenar esse conteúdo, eles podem visualizar e exibir publicamente o que é compartilhado no app.

A Eletronic Frontier Foundation (EFF) foi outra companhia que classificou o Snapchat com uma nota baixa na tabela de mensagem segura, que avalia quais aplicativos e ferramentas mantém suas mensagens seguras. As mensagens são encriptadas, mas a empresa consegue visualizá-las. O Snapchat também não abre seu código para avaliação independente, importante caso a empresa não esteja sendo totalmente transparente com os usuários.

Com a crescente onda do “manda nudes”, precisamos questionar se o Snapchat é o aplicativo mais seguro de compartilhar esse tipo de foto íntima. Não que o aplicativo vá usá-las em algum momento, mas não seria a primeira vez que imagens vazassem do aplicativo ― da última vez, foram 100 mil. E, bem, você agora sabe que as fotos não são apagadas.

Essa situação se torna mais alarmante ainda no caso do Snapchat porque metade de seus usuários tem até 17 anos. O serviço passa a ter os direitos sobre a imagem sobre menores de idade, que ainda não têm autonomia nem para assinar um contrato. Vale lembrar que o aplicativo permite que maiores de 13 anos se cadastrem no serviço.

Tudo bem que esse tipo de preocupação varia muito do que você faz do aplicativo: muita gente usa o Snapchat apenas para compartilhar algo engraçado e momentâneo com seus amigos. Nesse caso, não dá para criar uma conspiração do que pode acontecer com um conteúdo tão superficial. De qualquer forma, sempre é importante tomar cuidado com o teor das fotos compartilhadas em qualquer serviço.

Com informações: IBTimes UKThe Independent.

Atualização em 02/11/2015 às 13h34. O Snapchat publicou, em seu blog oficial, um esclarecimento sobre a atualização dos termos de uso. O post explica que os termos de uso foram revisados para, dentre outras coisas, reescrevê-los em uma linguagem mais simples. Apesar dos termos abrirem brecha para o aplicativo bisbilhotar seus snaps privados, o Snapchat diz que essa abrangência é necessária para o serviço funcionar.

O aplicativo ainda afirma que os snaps e mensagens que você envia para seus amigos continuam privados e reitera que a política de privacidade continua afirmando que as mensagens são deletadas automaticamente dos servidores quando elas foram visualizadas. “O ponto é que o Snapchat não está — e nunca esteve — armazenando seus snaps ou mensagens. E como nós continuamos deletando-os de nossos servidores quando eles foram lidos, nós não podemos compartilhá-los com nossos anunciantes ou parceiros comerciais”.

“É verdade que os nossos Termos de Serviço nos garantem uma licença abrangente do conteúdo que você cria — uma licença que é comum para serviços como o nosso. Nós precisamos dessa licença para, por exemplo, os snaps que são enviados para as Live Stories, onde nós temos que poder compartilhar essas Stories ao redor do mundo —  e até repetí-las ou sindicá-las (algo que nós já haviamos dito em versões anteriores dos Termos e da Política de Privacidade). Mas nós tentamos esclarecer que a Política de Privacidade e suas próprias configurações de privacidade no aplicativo podem restringir o escopo dessa licença para que suas comunicações pessoais continuem verdadeiramente pessoais.”

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Jean Prado

Jean Prado

Ex-autor

Jean Prado é jornalista de tecnologia e conta com certificados nas áreas de Ciência de Dados, Python e Ciências Políticas. É especialista em análise e visualização de dados, e foi autor do Tecnoblog entre 2015 e 2018. Atualmente integra a equipe do Greenpeace Brasil.

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